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Hungria não é mais uma democracia plena, diz Parlamento Europeu

Em votação que não tem valor prático, eurodeputados disseram que país se tornou um regime híbrido de autocracia eleitoral

Por Matheus Deccache 15 set 2022, 14h11

O Parlamento Europeu disse nesta quinta-feira, 15, que a Hungria não pode mais ser considerada uma democracia plena, em uma votação simbólica contra o governo de Viktor Orbán. 

Em uma resolução apoiada por 81% dos deputados presentes, o parlamento afirmou que o país se tornou um “regime híbrido de autocracia eleitoral”, citando uma ruptura na democracia, nos direitos fundamentais e no Estado de direito.

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Embora a votação não tenha valor prático, há a expectativa de um aumento na pressão sobre as autoridades da União Europeia para não desembolsar bilhões de euros para a Hungria, que no momento está retido por preocupações sobre corrupção. 

O governo húngaro está lutando para convencer a Comissão Europeia a liberar cerca de 4,6 bilhões de euros, o equivalente a mais de 24 bilhões de reais, em fundos de recuperação da Covid-19, congelados há mais de uma ano. Além disso, Budapeste também está tentando impedir um procedimento legal que pode levar a deduções de 24,3 bilhões de euros de fundos para desenvolvimento econômico e infraestrutura. 

A Comissão Europeia deverá propor um corte de 70% destes fundos já no próximo domingo, 18, devido a possíveis irregularidades contratuais. Em documento interno recente, funcionários da comissão apontaram que havia um risco significativo sobre a gestão de fundos da União Europeia pela Hungria, citando violações de regras e um alto número de contratos concedidos a um único licitante. O relatório, que foi removido do site, sugere que o corte de 70% é “proporcional” ao risco.

O governo húngaro terá até novembro para colocar a casa em ordem. Após a votação simbólica, espera-se que Orbán anuncie já na próxima semana uma série de leis para combater a corrupção no país. Analistas mais críticos, no entanto, alertam para o fato de que a União Europeia aceite qualquer mudança “cosmética” para acalmar os conflitos sobre os fundos do bloco. 

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Ao jornal britânico The Guardian, o porta-voz da Comissão Europeia disse que o órgão está analisando as “medidas corretivas” apresentadas pela Hungria e que o próximo passo será dado já no próximo dia 21. 

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A resolução do Parlamento Europeu, que aponta “os riscos de clientelismo, favoritismo e nepotismo na administração pública de alto nível”, no entanto, dificultará qualquer redução da proteção dos fundos da UE.

A eurodeputada francesa que redigiu a resolução, Gwendoline Delbos-Corfield, descreveu as conclusões como claras e irrevogáveis. 

“A Hungria não é uma democracia. Era mais urgente do que nunca que o parlamento tomasse essa posição, considerando a taxa alarmante em que o estado de direito está retrocedendo no país”, disse, acrescentando que “a grande maioria dos eurodeputados que apoiam esta posição no Parlamento Europeu é sem precedentes”.

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Dos 534 presentes para a votação, 433 votaram a favor, 123 votaram contra e 28 se abstiveram. A grande maioria foi influenciada pela decisão de Orbán em deixar o Partido Popular Europeu em 2021. A sigla de centro-direita da Europa havia oferecido certa proteção contra votos críticos, mas o primeiro-ministro húngaro optou por deixar o partido antes de ser expulso. 

A resolução desta quinta ocorre quatro anos depois que os eurodeputados votaram para aplicar uma ação disciplinar contra a Hungria, uma decisão que, em última análise, está nas mãos dos 26 Estados membros da União Europeia. No entanto, a grande maioria optou por não entrar em grandes conflitos com Budapeste. 

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Os eurodeputados não têm poder para negar fundos à Hungria e por isso culparam a inação da Comissão Europeia em tomar ações concretas para frear o avanço de Orbán. Segundo eles, a situação no país chegou a esse ponto devido à falta de uma ação decisiva do bloco. 

A acusação foi baseada em relatórios do Conselho Europeu e na jurisprudência do tribunal europeu de direitos humanos separado. Também foi citado o veredito da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, que informou em abril que a eleição da Hungria, que devolveu Orbán ao poder por um quarto mandato consecutivo, foi “marcada pela ausência de condições equitativas”.

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Além disso, o relatório apontou ainda preocupações acerca do sistema judiciário húngaro após inúmeras mudanças feitas pelo primeiro-ministro, que inclui a nomeação de juízes da Suprema Corte fora dos procedimentos normais. 

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A medida, no entanto, foi contestada por alguns deputados de extrema-direita. Em declaração incluída no projeto de resolução, eles argumentaram que as conclusões foram “baseadas em opiniões subjetivas e declarações politicamente tendenciosas” que refletiam “preocupações vagas, julgamentos de valor e padrões duplos”.

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