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Human Rights Watch: Brasil ‘fracassa’ em defender Amazônia de criminosos

Relatório diz que impunidade e redução da fiscalização contribuem para desmatamento; declarações de Jair Bolsonaro também são incentivo

Por Da Redação Atualizado em 17 set 2019, 09h30 - Publicado em 17 set 2019, 01h58

O governo brasileiro “fracassa” na proteção dos defensores do meio ambiente, favorecendo o avanço de redes criminosas que destroem a Amazônia, afirma a ONG Human Rights Watch (HRW) em seu relatório “Mafias do Ipê” divulgado nesta terça-feira, 17.

Impunidade e redução da fiscalização ambiental contribuem para o desmatamento da maior selva tropical do mundo, afirma a organização em seu relatório.

Segundo números oficiais, o desmatamento da Amazônia brasileira praticamente duplicou entre janeiro e agosto passados, indo de 3.336,7 km2 neste período de 2018 para 6.404,4 km2 este ano, o equivalente a 640.000 campos de futebol.

A destruição da Amazônia “é impulsionada em grande parte por redes criminosas que usam da violência e intimidação contra aqueles que se colocam em seu caminho. Os responsáveis pela violência raramente são levados à justiça”, denunciou a HRW, que exortou o presidente Jair Bolsonaro a deter seus ataques verbais e acusações sem fundamento contra as ONGs, e a restabelecer a “cooperação” entre o governo e a sociedade civil para proteger indígenas, defensores do meio ambiente e a floresta.

“Os brasileiros que defendem a Amazônia enfrentam ameaças e ataques por parte de redes criminosas envolvidas na extração ilegal de madeira”, diz Daniel Wilkinson, diretor de direitos humanos e meio ambiente da Human Rights Watch. “A situação só está piorando com o presidente Bolsonaro, cujo ataque aos órgãos de proteção do meio ambiente coloca em risco a floresta e as pessoas que ali vivem.”

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Madeireiros e pecuaristas são apontados como os principais responsáveis pelo desmatamento na Amazônia em busca de madeiras nobres e da criação de gado.

Mais de 300 pessoas foram assassinadas durante a última década no contexto de conflitos pelo uso da terra e de recursos naturais na Amazônia – muitas delas por pessoas envolvidas na extração ilegal de madeira – de acordo com os dados compilados pela Comissão Pastoral da
Terra (CPT), e utilizados pela Procuradoria-Geral da República.

A HRW documentou 28 assassinatos, a maioria a partir de 2015 nos estados do Maranhão e Pará. Segundo a organização, os responsáveis podem estar envolvidos no desmatamento ilegal e viam suas vítimas como obstáculos as suas atividades criminosas.

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Entre os casos citados pela organização estão os assassinatos de defensores ambientais, líderes indígenas, policiais e pequenos agricultores. A ativista Dilma Ferreira Silva e outras cinco pessoas foram mortas no estado do Pará em 2019 a mando, segundo as investigações, de um fazendeiro envolvido com extração ilegal que temia que Dilma e outros indivíduos denunciassem suas atividades criminais.

Segundo a organização, as redes criminosas que atuam no país têm a capacidade logística de coordenar a extração, o processamento e a venda de madeira em larga escala, enquanto empregam homens armados para intimidar e, em alguns casos, executar aqueles que buscam defender a floresta.

O Brasil é o quarto país com mais homicídios de defensores do meio ambiente, segundo relatório publicado em julho pela ONG Global Witness, que informou 20 mortes por esta causa em 2018.

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Impunidade

“Os responsáveis pela violência raramente são levados à justiça”, e em muitos casos as denúncias de ameaças são sequer investigadas pela polícia, diz a HRW.

Dos mais de 300 assassinatos que a Comissão Pastoral da Terra registrou desde 2009 na Amazônia, apenas 14 foram levados a julgamento. Dos 28 casos documentados pela HRW, apenas dois foram julgados.

Segundo representantes do ministérios Público, Federal e estaduais e agentes ambientais ouvidos pela organização, a impunidade se deve em grande parte ao fracasso da polícia em conduzir as investigações adequadas.

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As ameaças na região amazônica não são uma novidade para o Brasil, que ocupou as manchetes internacionais em dezembro de 1988 com o assassinato de Chico Mendes, uma das vozes em defesa do meio ambiente mais conhecidas do mundo.

O relatório ainda critica Jair Bolsonaro por nomear um chanceler – Ernesto Araújo – que qualifica a mudança climática como uma “tática globalista”, ameaçar retirar o Brasil do Acordo de Paris e reduzir o orçamento do Ministério do Meio Ambiente, além de enfraquecer sua estrutura operacional.

“Enquanto o Brasil não adotar medidas urgentes contra a violência e a ilegalidade que facilitam a extração ilegal de madeira, a destruição da maior floresta tropical do mundo continuará desenfreada”, concluiu Wilkinson.

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