Human Rights Watch acusa Israel de genocídio por restringir acesso a água em Gaza
ONG de direitos humanos afirma que governo israelense privou palestinos de insumos e atacou infraestrutura de saneamento 'deliberadamente'; Tel Aviv nega

A Human Rights Watch acusou Israel de cometer “atos de genocídio” em Gaza por deliberadamente privar, segundo relatório da ONG de direitos humanos divulgado nesta quinta-feira, 19, civis palestinos de acesso adequado à água.
O documento de 179 páginas afirma que as ações militares comandadas pelo governo israelense incluem danos intencionais à infraestrutura de água e saneamento no enclave palestino, incluindo painéis solares que alimentam estações de tratamento, um reservatório e um depósito de peças de reposição. Além disso, autoridades de Tel Aviv bloquearam a entrada de combustível para geradores em Gaza.
“Isso não é apenas negligência”, disse a diretora executiva da HRW, Tirana Hassan. “É uma política calculada de privação que levou à morte de milhares de pessoas por desidratação e doenças, o que nada mais é do que um crime contra a humanidade de extermínio e um ato de genocídio.”
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O relatório avaliou que, “desde outubro de 2023, as autoridades israelenses obstruíram deliberadamente o acesso dos palestinos à quantidade adequada de água necessária para a sobrevivência na Faixa de Gaza”. Disse ainda que Israel cortou o fornecimento de eletricidade no enclave, atacou funcionários de reparos e bloqueou a entrada de materiais para a reconstrução das estruturas danificadas.
O levantamento foi baseado em entrevistas com dezenas de palestinos de Gaza, incluindo autoridades do setor de água, especialistas em saneamento e profissionais de saúde, bem como imagens de satélite e dados de outubro de 2023 a setembro de 2024. Para constituir o crime de genocídio, a Human Rights Watch destacou que são necessárias evidências de intenção, e que suas descobertas, incluindo declarações feitas por altos funcionários israelenses, “podem indicar tal intenção”.
O que diz Israel
Tel Aviv rejeitou o relatório da ONG como “propaganda”. Em uma publicação no X, antigo Twitter, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Oren Marmorstein, afirmou que a Human Right Watch estava “mais uma vez espalhando seus libelos de sangue”.
“A verdade é o completo oposto das mentiras da HRW”, afirmou, listando uma série de refutações às acusações do documento.
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Segundo Marmorstein, Israel facilitou o fluxo contínuo de água e ajuda humanitária para Gaza “desde o início da guerra” e “apesar de operar sob constantes ataques da organização terrorista Hamas”. Ele destacou que quatro oleodutos e instalações de bombeamento e dessalinização de água “permanecem operacionais” e que caminhões-tanque de organizações humanitárias tiveram acesso ao enclave por travessias israelenses “incluindo na semana passada”.
O porta-voz culpou o Hamas, que acusou de atacar operações de ajuda e saquear suprimentos, por quaisquer agruras dos palestinos.
Acusações acumuladas
O relatório da HRW é o mais recente de uma série de acusações de grupos de direitos humanos e de governos pelo mundo de que Israel está cometendo genocídio contra palestinos durante a guerra contra o Hamas.
O Tribunal Internacional de Justiça, a corte máxima das Nações Unidas com sede em Haia, também examina um caso movido pela África do Sul acusando o governo israelense do mesmo crime.
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A Convenção sobre Genocídio de 1948, aprovada na esteira do Holocausto nazista contra judeus, define genocídio como “atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”.
Israel negou veementemente as alegações como “totalmente infundadas” e afirmou que eram motivadas por antissemitismo. O governo diz que não prejudicou intencionalmente civis em Gaza e que está lutando apenas contra o Hamas.
O país lançou uma grande ofensiva militar em Gaza depois que o grupo terrorista palestino atacou comunidades do sul israelense em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1.200 pessoas e sequestrando outras 251, levadas como reféns para o enclave. Desde então, pelo menos 45.129 pessoas foram mortas em Gaza desde o início da ofensiva, de acordo com o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas, que não faz distinção entre civis e combatentes. Mas um relatório das Nações Unidas revelou que quase 70% das mortes na guerra são de mulheres e crianças.