Hamas reitera compromisso com cessar-fogo em meio a incerteza sobre acordo
Netanyahu ameaçou retomar guerra em Gaza caso grupo palestino adie a libertação de reféns, como prometeu fazer ao acusar Israel de violar trégua

O Hamas reafirmou seu compromisso com o cessar-fogo em Gaza nesta terça-feira 11, em meio a incertezas sobre o futuro do acordo. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ameaçou retomar a guerra no enclave palestino caso mais reféns israelenses não sejam entregues até o meio-dia do próximo sábado, dia 14, depois de o grupo terrorista palestino anunciar um adiamento da libertação dos cativos devido a supostas violações israelenses dos termos da trégua.
Em uma declaração do grupo, obtida pela agência de notícias Reuters, o Hamas disse que responsabilizaria Israel por quaisquer “complicações ou atrasos”.
“O movimento Hamas continua comprometido com o acordo de cessar-fogo enquanto a ocupação (Israel) o cumprir”, afirmou o grupo, observando que o pacto foi intermediado por mediadores e testemunhado pela comunidade internacional. “Enfatizamos que a ocupação é a parte que falhou em cumprir seus compromissos e tem total responsabilidade por quaisquer complicações ou atrasos.”
A declaração também repetiu a rejeição às declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre “o deslocamento de nosso povo da Faixa de Gaza sob o pretexto de reconstrução”. O chefe da Casa Branca voltou a dizer nesta terça que tomará o controle do enclave e deslocará a população local para outras nações árabes, comentários que o Hamas chamou de “racistas”.
Mais cedo nesta terça, Netanyahu afirmou que não aceitaria um adiamento do cronograma de libertação dos reféns, dizendo que o cessar-fogo acabaria se o grupo não liberasse a próxima leva. No total, 17 israelenses ainda deveriam ser libertados na primeira fase da trégua, dividida em três estágios. Segundo Tel Aviv, oito deles estão mortos.
“Os militares retornarão aos combates intensos até que o Hamas seja finalmente derrotado”, afirmou o premiê em uma declaração em vídeo.
Trump também dobrou a aposta sobre o prazo de meio-dia de sábado. “Ou eles (o Hamas) os entregam até sábado, meio-dia, ou tudo está em aberto”, ameaçou. Na segunda-feira, o presidente americano já havia dito que deixaria “o inferno todo se soltar” em Gaza caso o Hamas não liberte os reféns.
Acusações do Hamas
O Hamas anunciou na segunda-feira que decidiu adiar a próxima liberação de reféns, prevista para sábado, culpando Israel por quebrar a trégua que entrou em vigor em 19 de janeiro. Segundo o grupo palestino, as violações incluíam “atrasar o retorno dos (palestinos) deslocados para o norte da Faixa de Gaza e alvejá-los com bombardeios e tiros”.
Na segunda-feira, o escritório de imprensa do governo de Gaza, comandado pelo Hamas, disse que Israel se recusou a permitir a entrada de suprimentos especificados no cessar-fogo. Sob o acordo, 600 caminhões de ajuda — 50 deles transportando combustível — devem ser autorizados a entrar em Gaza todos os dias. Esse número foi atingido ou excedido nos três primeiros dias do cessar-fogo.
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Horas depois, Donald Trump, que reivindicou o crédito por garantir o acordo entre Israel e Hamas, deu um ultimato. Caso todos os reféns israelenses em Gaza não fossem devolvidos até sábado ao meio-dia, ele ameaçou cancelar o cessar-fogo e deixar “o inferno se soltar”.
“A resposta deve ser exatamente como o presidente Trump sugeriu. Parar completamente a ajuda humanitária, cortar a eletricidade, a água e as comunicações e usar força brutal e desproporcional até que os reféns retornem”, afirmou o ministro das comunicações de Israel, Shlomo Karhi, no X (antigo Twitter). “É hora de abrir os portões do inferno para o Hamas — e desta vez, sem nenhuma restrição aos nossos heroicos combatentes”, acrescentou.
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O cessar-fogo entre Israel e o Hamas entrou em vigor em 19 de janeiro, inaugurando a primeira pausa no conflito em mais de 15 meses, sob a previsão de três etapas. Apesar da intensa mediação de países parceiros, a complexidade e a fragilidade do acordo são altas, o que significa que qualquer pequeno incidente pode crescer e ameaçar acabar com o pacto.
As negociações para o início da segunda das três fases do cessar-fogo deveriam começar nesta segunda-feira.
Cerca de 1.200 israelenses morreram e 251 foram sequestrados quando o Hamas atacou o território israelense em 7 de outubro de 2023. Em resposta, Israel começou uma ofensiva em larga escala em Gaza, que matou mais de 47.000 palestinos e deslocou milhões de pessoas.