Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Há três meses morria Asma Jahangir, ativista pelos direitos humanos

Advogada chegou a presenciar em seu escritório mãe matando filha por divorciar-se do marido; assassinatos por "honra" são comuns no Paquistão

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 Maio 2018, 19h18 - Publicado em 11 Maio 2018, 08h00

Há exatamente três meses morreu Asma Jahangir, uma das principais ativistas dos direitos humanos do mundo, crítica destemida da interferência militar na política e defensora ferrenha do Estado de direito no Paquistão.

Asma sofreu um ataque cardíaco e foi levada às pressas a um hospital em Lahore, onde morava. Ela não resistiu e faleceu no dia 11 de fevereiro, aos 66 anos.

Advogada de direitos humanos, a paquistanesa construiu sua reputação desafiando o governo e defendendo minorias marginalizadas e mulheres. Ganhou reconhecimento internacional por suas denúncias em um país onde vozes liberais e seculares são ameaçadas.

Autoridades e grandes ativistas de todo o mundo lamentaram a morte de Asma na época. O primeiro-ministro do Paquistão, Shahid Khaqan Abbasi, elogiou suas “imensas contribuições para a manutenção do Estado de direito e da democracia e a salvaguarda dos direitos humanos”.

A ganhadora do Nobel da Paz Malala Yousafzai, também paquistanesa, afirmou que a ativista foi uma “salvadora da democracia e dos direitos humanos”. Já o diretor para o sul da Ásia da Anistia Internacional , Omar Waraith, afirmou que ela “nunca vacilou”.

Continua após a publicidade

Vida de ativismo

Jahangir nunca teve medo de expressar sua opinião sobre os ataques sofridos por minorias religiosas e mulheres no Paquistão. Lutou arduamente contra as chamadas Leis de Hudood, adotadas em 1977, segundo as quais vítimas de estupro deveriam provar sua inocência ou enfrentavam punições por adultério ou fornicação.

A legislação, que foi revogada em 2006, também instituiu novos tipo de punição, como a amputação, o chicoteamento e o apedrejamento até a morte. As leis haviam sido implantadas durante a ditadura militar do general Zia ul-Haq, em substituição ao Código Pena,l usado pelo mandato britânico antes da independência paquistanesa.

Em 1980, Jahangir fundou com sua irmã, Hina Jilani, o Women’s Action Forum (WAF), que atuou na defesa de  Safia Bibi, uma adolescente cega de 13 anos que foi estuprada por funcionários de sua casa e acabou grávida, mas foi condenada à prisão e açoitamento por atos de fornicação. Jahangir defendeu Safia nos tribunais e com muita pressão popular conseguiu convencer os juízes a anularem a condenação.

Também fundou com Hina a Assistência Judiciária AGHS, em 1986, primeiro centro de assistência legal gratuita no Paquistão. Em 1987, participou da fundação da Comissão para os Direitos Humanos do Paquistão.

Continua após a publicidade

A ativista também dedicou parte de sua vida à luta contra o trabalho infantil, a pena de morte e a lei da blasfêmia, que proíbe insultos contra qualquer religião, mas é usada pelas autoridades do Paquistão para perseguir e assassinar minorias religiosas, principalmente as muçulmanas.

Em 2016, foi nomeada relatora da ONU para a Liberdade Religiosa e Direitos Humanos no Irã, cargo que ocupou até sua morte.

Por seu trabalho, ganhou inúmeros prêmios internacionais. Foi indicada para o Nobel da Paz, em 2005, condecorada com a Ordem Nacional da Legião de Honra francesa e reconhecida com o prémio da Unesco/Bilbao para a promoção da cultura dos Direitos Humanos. Recebeu também o prêmio Norte-Sul, atribuído pela Comissão Europeia, em 2013.

Sua luta pelos direitos humanos e das mulheres, contudo, também lhe rendeu várias ameaças de morte. Vários anos atrás, teve de enviar sua família para fora do país, após ameaças de grupos militantes.

Jahangir foi presa em 1983, durante a ditadura militar do general Zia ul-Haq, por se associar ao Movimento de Restauração da Democracia no Paquistão. Em 2007, foi mantida em prisão domiciliar pela participação no movimento de advogados que ajudou a remover o líder militar Pervez Musharraf do poder.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.