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Guerra dos Seis Dias: os conquistadores por acidente

Veja as fotos de Jerusalém antes e depois da guerra que completa 50 anos nesta semana

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2017, 16h09 - Publicado em 4 jun 2017, 16h08

Em 7 de junho de 1967, os paraquedistas israelenses do 71º batalhão aproximaram-se do Muro das Lamentações, em Jerusalém, e chamaram o rabino Schlomo Goren, capelão-mor do Exército de Israel, que estava perambulando por ali. “Quando o rabino Goren desceu ao Muro, ficou tão emocionado que mal tinha fôlego. Pôs o shofar nos lábios, mas o som não saía”, relatou o soldado Benny Ron ao escritor Steven Pressfield, no livro A Porta dos Leões (Contexto). Ao ver a dificuldade do rabino com o instrumento de sopro feito com chifre e usado nas celebrações judaicas, o major Uzi Eliam se ofereceu: “Rabino Goren, eu toco trompete. Posso tentar?”.

O som que se ouviu selou a mescla entre a conquista militar na Guerra dos Seis Dias, entre 5 e 11 de junho de 1967, com as aspirações religiosas do povo judeu. Pela segunda vez desde 1948, os israelenses resistiram às tentativas árabes de destruir o país — e ainda recuperaram o direito de orar no Muro, fechado para eles havia anos. O saldo de mortos foi devastador para um período tão curto: 18 000 árabes (dois por minuto) e 700 judeus.

A guerra que em grande parte forjou Israel como é hoje faz cinquenta anos. O conflito foi, acima de tudo, uma prova da capacidade de resistência dos israelenses, que frustraram a ambição do presidente egípcio Gamal Abdel Nasser de aniquilá-los. Mas a vitória também trouxe consequências inesperadas, ao transformar Israel, a contragosto, em um Estado conquistador. A Cidade Velha, que não aparecia nos planos de batalha, foi tomada, assim como as Colinas de Golã, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e a Península do Sinai. É por causa dessa série de conquistas que os atuais planos de paz quase sempre falam em voltar às fronteiras “pré-1967”. Alguns desses territórios foram devolvidos, como o Sinai e Gaza. Outros não, o que abriu a possibilidade de revanchismos futuros.

Para os mais críticos, um dos problemas criados foi o fortalecimento do poderio militar em Israel. “As conquistas espetaculares de 1967 plantaram nas Forças Armadas a ideia de que o ataque é a melhor defesa. Esse pensamento, depois, acabou envolvendo o país em guerras desnecessárias”, diz o historiador israelense Guy Laron.

Outro efeito indesejável da Guerra dos Seis Dias foi a hegemonia religiosa. Apesar de ter sido fundado em bases socialistas, seculares e modernas, o país acabou se inclinando para visões messiânicas e nacionalistas. Para muitos, a sobrevivência no conflito — que eles pensavam ser um novo Holocausto — só ocorreu graças à intervenção divina. A posse do Muro das Lamentações foi uma indicação de que os locais sagrados do judaísmo, incluindo toda a Palestina, deveriam permanecer com os israelenses.

“Uma decisão tomada por pânico, uma conquista que nunca foi planejada, uma vitória militar roubada à beira da catástrofe, tudo isso modificou aqueles que acreditavam, aqueles que não acreditavam em nada e aqueles que buscavam acreditar em alguma coisa”, escreveu o historiador inglês Simon Sebag Montefiore na obra Jerusalém, a biografia (Companhia as Letras).

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Dez anos depois, o partido Likud, de direita e nacionalista, desbancou pela primeira vez os trabalhistas, que governavam desde 1948. Sob o manto religioso, as negociações de paz ficaram mais difíceis, ainda que o poder tenha trocado de mãos muitas vezes e que os palestinos tenham uma boa cota nos sucessivos fracassos. O Likud, hoje liderado pelo primeiro-­ministro Benjamin Netanyahu, faz pouco para retomar as conversas.

Humilhado no Sinai, o egípcio Nasser ligou para o rei Hussein, da Jordânia, com uma evasiva. Ele deveria dizer que os árabes foram derrotados pelos Estados Unidos e pela Inglaterra, e não apenas Israel. A desculpa não colou. Dentro do Egito, os nacionalistas perderam apoio para os fundamentalistas da Irmandade Muçulmana, berço de vários grupos terroristas atuais.

O governo dos Estados Unidos ficou exultante com Israel, que passou a ser considerado um aliado estratégico contra as ditaduras árabes que se aproximavam da União Soviética. Depois de 1967, o que parecia impossível aconteceu: o Oriente Médio ficou ainda pior.

 

Confira as fotos de Jerusalém antes e depois da Guerra

Uma visão geral mostra o bairro de Jerusalém Oriental, no primeiro plano, e o Monte das Oliveiras, ao fundo

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Vista para a Cidade Velha de Jerusalém a partir do Monte das Oliveiras 


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Na calçada da cidade velha de Jerusalém, café mudou de nome, mas construção permanece inalterada  


Portão de Damasco, na entrada da Cidade Velha de Jerusalém


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Cúpula da Rocha, no Monte do Templo, um dos locais mais importantes para o islamismo, na Cidade Velha de Jerusalém


Homens e mulheres em seções separadas enquanto visitam o Muro das Lamentações, o local de oração mais sagrado do judaísmo, na cidade velha de Jerusalém


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O túmulo de Avshalom e o Jardim do Getsêmani são vistos em Jerusalém


Arco e rampa que levam à fonte de Sabil Qaitbay, no Monte do Templo, na Cidade Velha de Jerusalém


Cúpula da Rocha, no Monte do Templo, na Cidade Velha de Jerusalém


Praça em frente a Cúpula da Rocha, no Monte do Templo, na Cidade Velha de Jerusalém


 

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