Gabinete de segurança de Israel aprova plano para assumir o controle da Cidade de Gaza
Netanyahu havia falado no controle total do enclave, mas o plano se concentra no maior centro urbano do território; Autoridades alertam para risco aos reféns

O gabinete político e de segurança de Israel aprovou nesta sexta-feira, 8, um plano para assumir o controle da Cidade de Gaza, no norte do enclave, uma medida que vai expandir as operações militares, apesar das críticas crescentes, tanto no país quanto no exterior, à guerra. O anúncio gerou imediata condenação internacional, bem como de autoridades israelenses.
Partidos religiosos de extrema direita que fazem parte da coalizão que sustenta o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, têm insistido na tomada total de Gaza — parte de sua promessa de eliminar completamente o Hamas. Tanto o grupo terrorista como autoridades militares de Israel e familiares dos reféns lançaram alertas de que isso poderia colocar em risco a vida dos cativos ainda no enclave.
Segundo Tel Aviv, há 50 pessoas ainda em posse do Hamas, 20 das quais acredita-se estarem vivas. Seus parentes defendem a assinatura de um cessar-fogo para a sua libertação. As negociações para uma nova trégua, que poderia ter tido resultado semelhante às últimas (com dezenas de cativos libertados), fracassaram em julho.
A decisão do gabinete foi tomada após várias tentativas frustradas de mediar um novo acordo de trégua e em meio à crescente indignação internacional com as imagens de crianças palestinas famintas, retrato do agravamento do desastre humanitário no enclave destruído.
“As Forças de Defesa de Israel (IDF) se prepararão para assumir o controle da Cidade de Gaza, enquanto fornecem ajuda humanitária à população civil fora das zonas de combate”, afirmou o gabinete de Netanyahu em um comunicado.
O repórter do portal de notícias Axios, Barak Ravid, citando uma autoridade israelense, escreveu no X (ex-Twitter) que o plano envolvia a retirada de civis palestinos da Cidade de Gaza e o lançamento de uma ofensiva terrestre. Os militares dizem já ocupar 75% do território.
Controle total
Embora o premiê tenha dito na quinta-feira que Israel pretendia assumir o controle militar de toda a Faixa de Gaza, o plano aprovado na sexta-feira se concentrou especificamente na extensa Cidade de Gaza, o maior centro urbano do território, localizado ao norte.
Questionado em entrevista à Fox News se Israel assumiria o controle de toda a faixa costeira de 42 quilômetros, Netanyahu respondeu: “Pretendemos.”
No entanto, ele disse que não se trata de uma anexação, porque o território seria eventualmente entregue nas mãos de um órgão militarizado composto por “forças árabes” que o governaria “adequadamente”. Ele não detalhou os arranjos de governança ou quais países árabes poderiam estar envolvidos.
“Não queremos mantê-lo. Queremos ter um perímetro de segurança. Não queremos governá-lo. Não queremos estar lá como um órgão governante”, afirmou.
O gabinete foi convocado após uma tensa reunião de três horas na terça-feira 5 com o chefe das Forças Armadas, Eyal Zamir, que desaconselhou Netanyahu a tomar controle total do enclave e se recusou a expandir a ofensiva, que deslocou quase todos os 2,2 milhões de habitantes de Gaza.
Uma ocupação total de Gaza reverteria uma decisão de 2005, na qual Israel ordenou a retirada de milhares de colonos judeus e militares após a intensificação dos ataques de grupos palestinos radicais, mantendo o controle sobre suas fronteiras, espaço aéreo e serviços públicos. Partidos ultrarreligiosos de direita israelenses atribuem a ascensão do Hamas ao poder em Gaza, nas eleições de 2006, a essa decisão.
Reação do Hamas
Em um comunicado, o Hamas afirmou que o plano para ocupar a Cidade de Gaza se trata de “um flagrante golpe” contra o processo de negociação. Segundo o texto, a expansão da operação militar é “um novo crime de guerra” e vai custar “caro” a Tel Aviv. Um representante do grupo, Osama Hamdan, disse à emissora catari Al Jazeera que qualquer força formada para governar Gaza seria tratada como uma entidade “ocupante” ligada a Israel.
Os países árabes “só apoiarão o que os palestinos concordarem e decidirem”, afirmou uma fonte do governo da Jordânia à agência de notícias Reuters, acrescentando que a segurança de Gaza é assunto para “instituições palestinas legítimas”.
O governo de Netanyahu descartou que o enclave possa ser governado pela Autoridade Palestina, organização apoiada pelo Ocidente e pela ONU, que exerce autonomia limitada em partes da Cisjordânia.
No início deste ano, Israel e os Estados Unidos rejeitaram uma proposta articulada pelo Egito e apoiada por líderes árabes, que previa a criação de um comitê administrativo de tecnocratas palestinos independentes e profissionais, encarregados da governança de Gaza após a guerra.
A Casa Branca não comentou de imediato o anúncio de Netanyahu. O presidente Donald Trump, ferrenho apoiador do premiê israelense, se recusou a dizer se apoiava ou se opunha a uma potencial tomada militar total de Gaza por Israel.