Forças israelenses cercam hospital e campo de refugiados na Cisjordânia; assista
Tel Aviv fala em 'mudança na estratégia de segurança' e operação antiterrorista, que já matou 10 pessoas; ONGs denunciam restrições a médicos e ambulâncias

O exército de Israel cercaram um hospital do governo palestino e um campo de refugiados no coração de Jenin, cidade na Cisjordânia, nesta quarta-feira, 22. Após um cessar-fogo entrar em vigor na Faixa de Gaza na semana passada, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, disse que os ataques recentes no outro território palestino marcou “uma mudança na estratégia de segurança”.
As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) comunicaram ter realizado ataques aéreos em Jenin, além de detonarem explosivos na beira da estrada. O Ministério da Saúde Palestino disse que pelo menos 10 pessoas foram mortas na cidade e mais de 40 ficaram feridas.
O Crescente Vermelho Palestino denunciou que suas ambulâncias foram impedidas de chegar a muitos dos mortos e feridos que jaziam nas ruas ao redor do campo de refugiados de Jenin. “Ninguém consegue quebrar o cerco”, disse Nebal Farsakh, porta-voz da ONG. Seus médicos trataram sete mortos e 17 feridos, todos baleados, ela acrescentou.
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Filmé en direct on voit à Jenin (Cisjordanie) des soldats génocidaires Israéliens tirer sur un jeune civil désarmé et empêcher l’ambulance de le conduire à l’hôpital pour qu’il se vide de son sang.
Jusqu’à quand on va laisser ce cancer d’#Israël sévir?— WHAT DO YOU WANT?! (@JCheerack) January 21, 2025
Mudança após cessar-fogo
A intensificação de ataques a Jenin ocorreu em meio ao recente cessar-fogo em Gaza, que interrompeu mais de 15 meses de hostilidades entre Israel e Hamas. Pouco após a trégua entrar em vigor, as forças de Tel Aviv indicaram o início de uma nova operação militar na Cisjordânia.
Wissam Bakr, chefe do hospital Khalil Suleiman, em Jenin, estimou que 600 profissionais de saúde e pacientes estavam abrigados dentro do local e que os suprimentos de comida e água durariam apenas alguns dias.
“A situação atual é terrível. As forças israelenses destruíram as estradas em frente ao hospital. Eles colocaram os escombros das ruas destruídas na frente das saídas do hospital para impedir que as ambulâncias entrassem ou saíssem”, afirmou ao jornal britânico The Guardian, acrescentando que duas enfermeiras e três médicos foram baleados na estrada principal que leva ao complexo médico nesta terça-feira.

Há dois dias, forças israelenses bloquearam entradas e saídas de cidades palestinas na Cisjordânia, usando postos de controle. Na madrugada desta quarta-feira, também lançaram um ataque ao campo de refugiados de Aida, localizado ao norte de Belém e em Tulkarm. A agência de notícias palestina Wafa disse que pelo menos 29 pessoas foram presas no território na manhã de quarta-feira, a maioria delas homens jovens.
Um comitê dentro da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que monitora a atividade israelense no território, informou que as IDF aumentaram o número de postos de controle militares e portões de ferro, chegando a quase 900.
O que diz Israel?
O tenente-coronel Nadav Shoshani, porta-voz da IDF, chamou as ações militares na Cisjordânia de “operações precisas para mirar e combater terroristas, permitindo que a população civil continue com suas vidas”.
Apesar do prefeito de Jenin, Mohammad Jarar, ter dito à Wafa que as forças de Tel Aviv orientaram que moradores de alguns bairros de Jenin deixassem suas casas usando um alto-falante, Shoshani rotulou quaisquer relatos de deslocamentos forçados de “notícias falsas”.
“Temos que aprender com 7 de outubro e não deixar que grupos terroristas se reagrupem e se rearmem, e planejem ataques a algumas centenas de metros de nós”, disse Shoshani.
“Novo conceito de segurança”
Na terça-feira 21, o ministro das Finanças de Israel, o ultradireitista religioso Bezalel Smotrich, falou no início de uma nova etapa no combate ao terrorismo no Oriente Médio após os 15 meses de conflito que envolveram o Hamas e seus aliados, como a milícia libanesa Hezbollah e o Irã.
“Depois de Gaza e Líbano, hoje, com a ajuda de Deus, começamos a mudar o conceito de segurança na Judeia e Samaria e na campanha para erradicar o terrorismo na região”, afirmou, usando o nome bíblico pelo qual os israelenses se referem à Cisjordânia.
Analistas avaliam que a operação israelense visa minar a Autoridade Palestina e seu potencial retorno a Gaza, onde propõe-se que forme um novo governo para substituir o Hamas, bem como dar continuidade às anexações de território palestino, consideradas ilegais perante o direito internacional. Além disso, a intensificação dos ataques na Cisjordânia pode ter servido de moeda de troca para que os membros mais radicais da coalizão que mantem Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, no poder (e que eram contra o acordo de cessar-fogo para encerrar a guerra em Gaza).
O Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas nos Territórios Palestinos Ocupados (OHCHR) se manifestou: “Declarações públicas de oficiais militares israelenses levantam preocupações sobre os planos de Israel de expandir e aumentar as operações na Cisjordânia ocupada.”

Ações independentes de colonos judeus
O ataque do exército israelense a Jenin também foi acompanhado por um aumento na violência por parte de colonos judeus na Cisjordânia, em meio a indicações de que essas figuras que encabeçam assentamentos civis no território estão mirando aldeias onde os prisioneiros palestinos foram libertados como parte do acordo de cessar-fogo em Gaza.
Colonos israelenses incendiaram veículos e propriedades em aldeias ao redor de Qalqilya, no norte da Cisjordânia, bem como Turmus Aya, perto de Ramallah.
Mais de 21 palestinos na Cisjordânia ocupada ficaram feridos como resultado dos ataques dos colonos, incluindo três crianças.