FMI vai reavaliar empréstimo de 44 bilhões de dólares à Argentina neste mês
Em meio às discussões, governo argentino avalia se deve negociar com dois fundos de investimento ou buscar um nova ajuda do Fundo para lidar com dívida

O conselho executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) revisará o programa de empréstimos de 44 bilhões de dólares da Argentina, firmado em 2018 pelo então presidente Maurício Macri, ainda em janeiro, informou o portal de notícias americano Bloomberg. As discussões também envolverão a avaliação de um relatório sobre um acordo de 2022 do governo argentino com o Fundo.
Primeiro herdeiro da despesa, o ex-presidente Alberto Fernández, derrotado pelo ultralibertário nas últimas eleições, assinou um novo plano de pagamentos em 2020.
A Argentina, porém, não cumpriu os últimos repasses, então seria preciso negociar a suspensão da punição por esse calote – que é justamente a não liberação de empréstimo pelo FMI. Em maio do ano passado, o atual mandatário, Javier Milei, recebeu representantes do FMI para tratar de um rearranjo da dívida.
Poucos dias depois, o Fundo elogiou o governo Milei por superar as metas de aumento de reservas internacionais e de déficit fiscal, com resultados “melhores que o esperado para o primeiro trimestre” de 2024.
Com isso, a Casa Rosada conquistou a oitava revisão do pacote de socorro de US$ 44 bilhões e conseguiu liberar um desembolso de cerca de US$ 800 milhões.
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O relatório citou “esforços significativos” do governo para expandir a assistência social a mães e crianças vulneráveis, bem como para proteger o poder de compra das aposentadorias na Argentina.
Em fevereiro, a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, já havia acenado a Milei, ressaltando a confiança do fundo em seus esforços para reformar a economia argentina em crise, apesar de “contratempos políticos”.
Embora tenha reconhecido a melhora na inflação, o FMI não atualizou as previsões para o desenvolvimento da Argentina. Em outubro, a entidade manteve sua projeção de crescimento do país para o ano passado em 3,5%, mesmo número definido em julho.
Na ocasião, o o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas, justificou que a falta de mudanças para Buenos Aires ocorria devido às “discussões em andamento sobre o programa entre as autoridades e o Fundo”.
Em meio à rodada de discussões, o governo argentino avalia se deve negociar com dois fundos de investimento ou buscar um novo financiamento com o Fundo para lidar com dívida. O Ministério da Economia teria de escolher entre as duas opções: procurar pelo crédito na iniciativa privada ou recorrer, mais uma vez, ao FMI. O prazo para a tomada de decisão, segundo a Bloomberg, seria até fevereiro o março.
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Economia com Milei
Sob a “terapia de choque” do presidente ultraliberal, a inflação mensal desacelerou de 25,5% em dezembro de 2023 para 2,7% em outubro deste ano, no menor índice desde 2020. O peso argentino — que Milei prometeu substituir pelo dólar, mas não cumpriu — valorizou, e as taxas do dólar no mercado paralelo encolheram em até 44%, aproximando-se do valor comercializado oficialmente.
Trata-se de passos de bebê, já que a Argentina ainda enfrentará um longo caminho pela frente. Uma das pedras no sapato é a inflação anual, em 193%. Grande parte da população, no entanto, tem interpretado as taxas mensais como um positivo prognóstico para o futuro, o que rendeu ao ultraconservador uma boa popularidade, de 42% a 45% no primeiro ano, com um salto para 47% em novembro.
Há, no entanto, um efeito rebote: o aumento da pobreza, que chegou aos maiores níveis em 20 anos na história do país.
Quase 53% dos argentinos são considerados pobres. As crianças não saem imunes desse panorama social: duas em cada três vivem em situação de vulnerabilidade, sendo a faixa etária mais afetada.
Ao todo, 1,5 milhão de cidadãos pulam uma refeição durante o dia e, muitos deles, escolhem alimentos menos nutritivos, mas mais baratos, nas compras.