Filha de mulher dopada pelo marido para ser estuprada depõe: ‘Criminoso sexual’
De 2011 a 2020, Dominique Pélicot teria aliciado mais de 70 desconhecidos para violar a esposa, Gisèle, que era sedada com comprimidos para dormir
A filha do francês acusado por dopar a esposa para que fosse estuprada por desconhecidos afirmou nesta sexta-feira, 6, que o pai é “um dos piores criminosos sexuais dos últimos 20 anos”. Dominique Pélicot, 71 anos, teria aliciado mais de 70 homens para violar Gisèle Pélicot, 72, entre 2011 e 2020, sedada com comprimidos para dormir. Acredita-se que ela tenha sido estuprada ao menos 92 vezes por estranhos, enquanto teria sido violada pelo marido mais de 100 vezes.
“Minha vida literalmente virou de cabeça para baixo”, relembra a filha, Caroline Darian, de 45 anos, sob pseudônimo. “Minha mãe disse: ‘Passei a maior parte do dia na delegacia. Seu pai me drogou para me estuprar com estranhos. Fui obrigada a olhar as fotos’.”
“Foi o que você chama de ponto de inflexão, o começo de uma descida lenta para o inferno, em que você não tem ideia de quão baixo irá afundar. Liguei para meus irmãos… Não sabíamos o que estava acontecendo conosco”, acrescentou.
Caroline foi comunicada pela mãe sobre o crime em novembro de 2020. Dois anos mais tarde, publicou o livro Et J’ai Cessé de t’Appeler Papa (“E parei de te chamar de pai”, em tradução livre), que escreveu sobre o processo de descoberta dos abusos.
Entenda o caso
O caso foi descoberto após o aposentado Dominique ter sido flagrado enquanto filmava as genitálias de mulheres por baixo de suas saias em um supermercado, em 2020. Durante a investigação, a polícia encontrou registros dos crimes em seu computador, incluindo vídeos e fotos. Gisèle foi pega de surpresa quando foi chamada para um interrogatório e se deparar com as “cenas de barbárie, de estupro”, disse ela. Logo em seguida, saiu de casa com duas malas e pediu o divórcio.
“Não tenho mais identidade”, afirmou a vítima durante testemunho, que é atormentada por lapsos de memória devido aos comprimidos de dormir. “Não sei se algum dia vou me reconstruir.”
Segundo Dominique, os homens que participavam do abuso seguiam regras: não podiam falar alto, tinham que tirar a roupa na cozinha, não podiam usar perfume ou ter cheiro de tabaco. Além dos indícios de violência contra a mulher, os policiais também encontraram fotomontagens de Caroline no computador do criminoso, em uma pasta chamada “Around my daughter, naked” (“Ao redor da minha filha, nua”, em português).
A partir dos registros, a polícia concluiu a participação de 72 suspeitos nos estupros, 50 deles já identificados, além de Dominique. Os acusados têm entre 26 e 74 anos e enfrentarão julgamentos. Ao menos 18 já estão sob custódia policial, ao passo que os outros 32 aguardam seus processos em liberdade. Gisèle pediu que o julgamento do marido, que se estenderá até 20 de dezembro, fosse público, para conscientizar os franceses sobre o uso de drogas para abuso sexual.