Família de Jean Charles também pode ter sido grampeada
Polícia investiga o celular de um primo do brasileiro morto pela polícia em 2005
“A família Menezes ficou muito abalada ao descobrir que seus telefones foram grampeados num momento em que se encontrava mais vulnerável”, disse o porta-voz do grupo Justice4Jean
A cada dia surgem novas vítimas do escândalo de escutas ilegais pelo tabloide britânico News of the World. Agora, até a família do brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia britânica em 2005, pode ter sido alvo dos grampos telefônicos, informou nesta quinta-feira o jornal The Telegraph.
Alex Pereira, primo do jovem, foi avisado pela polícia de que seu celular consta na lista do detetive particular Glenn Mulcaire, que trabalhava no dominical que fechou suas portas no domingo passado, em função dos escândalos, após 168 anos de história. Esse investigador era contratado exclusivamente para espionar famosos, políticos e vítimas de crimes que pudessem alimentar suas páginas com notícias exclusivas.
“A família Menezes ficou muito abalada ao descobrir que seus telefones foram grampeados num momento em que se encontrava mais vulnerável”, afirmou um porta-voz do grupo Justice4Jean. “Eles ficaram intrigados por que a polícia não os procurou com esta informação mais cedo, e temem que os investigadores possam estar tentando encobrir, mais uma vez, suas falhas relativas a este caso”, acrescentou. Desconfiados, outros parentes e amigos do brasileiro pediram que seus números fossem averiguados.
Investigações – Nesta quinta-feira, a família de Jean Charles escreveu para o primeiro-ministro britânico David Cameron, pedindo que ele estendesse a investigação sobre as escutas ilegais para tratar deste caso. Os parentes do jovem acreditam também que, na época do assassinato, policiais tenham vazado informações falsas sobre o caráter de Jean Charles para jornais do grupo News Corp., conglomerado de Rupert Murdoch do qual o News of the World faz parte. O intuito dos oficiais teria sido desviar a atenção da imprensa do erro cometido pela polícia metropolitana ao confundir o brasileiro com um terrorista.
“Temos consciência de que os jornais do grupo News International (filial britânica do News Corp.) realizaram uma das mais violentas e distorcidas coberturas sobre a morte de Jean Charles”, afirma a carta. Na semana passada, o premiê havia anunciado que pelo menos duas investigações paralelas seriam abertas para apurar o caso dos grampos.
Jean Charles – Em 2005, o eletricista mineiro Jean Charles de Menezes, de 27 anos, foi morto com 11 tiros a queima roupa, na estação Stockwell do metrô de Londres, depois de uma brutal sequência de erros da Scotland Yard, que o confundiu com um terrorista. A trágica morte fez o governo inglês refletir sobre a concessão à polícia do direito de matar na época.
O escândalo do tabloide News of the World eclodiu em 2006, quando se descobriu que a redação recorria a escutas telefônicas ilegais para interceptar mensagens deixadas nas caixas postais de determinados celulares, no intuito de conseguir alguma informação em primeira mão. Na semana passada, a crise ganhou novas proporções após a divulgação de que, entre os telefones espionados, estava o de uma menina assassinada, de parentes de soldados mortos no Afeganistão e no Iraque e até de vítimas do atentato terrorista de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Nove pessoas suspeitas de envolvimento no caso foram presas, entre elas ex-assessor de comunicação de David Cameron, Andy Coulson, que ganhou a liberdade logo em seguida, após o pagamento de fiança. O último a ser detido foi Neil Wallis, ex-diretor executivo do tabloide, onde trabalhou com Coulson.