Extremistas de direita que planejaram assassinar Macron vão a julgamento
Os acusados teriam conspirado para atacar o presidente durante visita ao nordeste da França em 2018, dizem os promotores
Começou nesta terça-feira, 17, em Paris, o julgamento de membros de um grupo de extrema direita acusados de conspirar para assassinar o presidente da França, Emmanuel Macron, como parte de uma tentativa de golpe.
Os promotores dizem que membros de um grupo chamado “Les Barjols” planejavam atacar o presidente com uma faca durante uma visita oficial ao nordeste da França em novembro de 2018. Detetives, que grampearam suas conversas telefônicas durante uma investigação de quatro anos, afirmam que os extremistas também tinham planos para matar imigrantes e atacar mesquitas, mas nenhum dos supostos complôs foi realizado.
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Os advogados de defesa dizem que as ameaças do grupo eram apenas conversas e não havia nenhum perigo concreto ou iminente para Macron.
A ausência de atos criminais levou os promotores a rebaixar as acusações contra os acusados – 12 homens e uma mulher com idades entre 26 e 66 anos –, para “conspiração para cometer um ato terrorista”. Os réus, que enfrentam uma pena máxima de 10 anos de prisão se forem considerados culpados, negaram qualquer irregularidade.
Lucile Collot, uma das advogadas de defesa, disse que o caso da promotoria foi baseado “na ficção de que um ato violento iria acontecer”.
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Les Barjols é um grupo nacionalista e anti-imigração, que usa o apelido que a população do Mali deram aos soldados franceses que participaram da intervenção militar no país africano em 2013. O grupo foi formado no Facebook no início de 2017.
Seus membros foram presos após uma denúncia aos serviços de segurança interna da França, dizendo que um ativista de extrema direita planejava atacar Macron em novembro de 2018, durante uma comemoração do Dia do Armistício da Primeira Guerra Mundial em Verdun. Seu suposto líder, Denis Collinet, um desempregado de 60 anos e ex-ativista da extrema direita do partido Reagrupamento Nacional (antes chamado de Frente Nacional), foi preso em 2020.
Os promotores alegaram que o grupo, que chegou a ter 5 mil membros, também conspirou para sequestrar membros do parlamento e derrubar o governo. Algumas reuniões incluíam prática de tiro ao estilo paramilitar e treinamento em primeiros socorros.
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Durante buscas nas propriedades dos acusados, os policiais dizem ter encontrado armas de fogo, incluindo um rifle de assalto M16 e instruções sobre como fazer explosivos. A polícia também encontrou uma faca na casa de um dos membros, Jean-Pierre Bouyer, 66 anos, quando o prenderam dias antes da visita de Macron. No entanto, durante o interrogatório, Bouyer insistiu que os supostos planos não passavam de comentários e conversas negativos sobre o presidente francês.
A defesa afirma que as trocas de mensagens e conversas entre os membros do Les Barjols foram tiradas de contexto, já que o país inteiro estava em convulsão social na época. Em 2018, surgiu o Mouvement des gilets jaunes, ou Movimento dos coletes amarelos, protestos generalizados na França que nasceram do aumento dos preços de combustíveis, mas se ampliaram para reivindicar mais políticas sociais para conter o aumento do custo de vida.
Os promotores argumentaram que os planos do grupo eram “totalmente destinados a perturbar seriamente a ordem pública por meio de intimidação e terror” e que já existiam bem antes dos coletes amarelos. O julgamento vai até 3 de fevereiro.