Expulso do Congresso dos EUA, George Santos lança podcast e diz que política é ‘tóxica’
Mudança de ramo ocorre meses após ex-deputado se declarar culpado por fraude, incluindo lavagem de dinheiro, roubo de identidade qualificado e desvio de fundos

Filho de brasileiros, o ex-deputado americano George Santos entrou nos holofotes internacionais no ano passado, mas não pelo seu trabalho no Legislativo: uma teia de mentiras contadas por ele foi desmascarada e, com ela, caiu em ruínas a polêmica carreira do congressista gay, latino e republicano. Agora, o homem de 36 anos planeja mudar o foco, e chamar atenção, com seu novo podcast Pants on Fire With George Santos (um trocadilho de uma expressão americana sobre quando alguém é pego numa mentira), lançado neste domingo, 15.
É uma mudança e tanto de ramo, que ocorre depois de Santos se declarar culpado por fraude, incluindo lavagem de dinheiro, roubo de identidade qualificado e desvio de fundos públicos, em agosto deste ano. Com isso, ele conseguiu escapar do julgamento sobre o conjunto de denúncias, mas terá de cumprir ao menos 2 anos de prisão. Na ocasião, o então político reconheceu os crimes ao tribunal, afirmando: “Deixei minha ambição nublar meu julgamento”. Sua sentença está marcada para 7 de fevereiro e acredita-se que seja detido em breve.
As dores de cabeça começaram após o jornal americano The New York Times publicar uma reportagem investigativa, em dezembro de 2022, sobre o seu currículo ser “em grande parte ficção”. As falsidades do ex-deputado envolvem desde a morte da sua mãe até o convívio na alta sociedade americana. Em seu site de campanha, Santos alegou que sua mãe era uma sobrevivente do atentado às Torres Gêmeas, ocorrido em 11 de setembro de 2001, por estar “na Torre Sul”. Ela teria, então, definhado após lutar contra o câncer.
Mas sua mãe, Fátima Devolder, entrou com pedido de green card apenas em 2003 e afirmou que não havia estado no país desde 1999, contrariando a versão de Santos. O início da sua carreira em Wall Street integra as investigações. Santos confessou, inclusive, ter metido sobre ter trabalhado para a empresa de serviços financeiros Citigroup e o banco Goldman Sachs. Ele também teria inflado o seu currículo ao dizer que havia frequentado a escola preparatória Horace Mann, se formado na Baruch College e obtido um mestrado em negócios internacionais pela New York University.
+ A longa lista de mentiras contadas por George Santos nos Estados Unidos
O novo podcast
Os problemas com a Justiça o afastaram do Congresso, tendo sido expulso em março deste ano. Encurralado, Santos decidiu trocar de profissão. Numa publicação nas redes sociais para anunciar o podcast, ele escreveu: “Eu estou oficialmente enterrando a minha carreira política… Descanse em paz!”. No texto, ele tentou se mostrar como uma vítima do sistema e citou como foi supostamente perseguido por apoiar o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, desde o começo.
Além disso, Santos disse que viveu “altos e baixos” na “maior tempestade de mídia política já vista para um membro do Congresso”, marcando a conta de Matt Gaetz como forma de indireta — nomeado por Trump como ministro da Justiça, Gaetz enfrenta acusações de envolvimento em um esquema de tráfico sexual e abusos, o que já levou à sua saída do cargo. Por fim, comunicou que sua “próxima etapa será na comunicação” e que, apesar do escrutínio, seu “espírito continua jovem e divertido”.
“Mais importante, cresci muito aos olhos do público para todo o país ver”, disse ele no post. “As coisas não têm sido fáceis ou tranquilas, mas agradeço a Deus todos os dias pelas experiências que tive para que eu possa crescer e ser uma pessoa melhor a cada dia que passa.”

Na festa de lançamento do podcast, em Nova York, Santos foi prestigiado por “uma mistura de escritores de tabloides, influenciadores e agentes republicanos de baixo escalão”, mostrou uma reportagem do jornal americano The New York Times. Por lá, o ex-deputado confessou que está “nervoso” para os dias nas celas e que não quer “ir para a prisão”, acrescentando: “Tenho muito o que esperar, então é algo definitivamente estressante”. Ele alegou que estava cansado da política, um ambiente “tão tóxico”, mas afirmou que mantém contato com alguns congressistas.
Sobre o futuro, Santos confidenciou que seu convidado dos sonhos para o programa seria Trump. Depois, mudou de ideia e disse que queria entrevistas Gisele Bündchen. Em meio a um cenário de incertezas, a única coisa que o político parece não ter dúvidas é de que gosta dos aplausos. “Não é que eu gostasse da atenção. Eu entendia a atenção. E eu tentava tirar o melhor proveito dela”, concluiu ao NYT. É difícil imaginar tão pomposa persona de uniforme laranja, por trás das grades de uma penitenciária cinza dos Estados Unidos.