EUA registram 704 casos de sarampo, o maior número em 25 anos
Adultos vacinados há décadas devem receber segunda dose; 169 milhões de crianças no mundo não foram imunizadas entre 2010 e 2017
Os Estados Unidos registraram 78 novos casos de sarampo na semana passada, somando 704 casos desde o início deste ano. Trata-se do maior número de pessoas infectadas pela doença nos últimos 25 anos, segundo autoridades do Centro para o Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
Ao menos 22 dos cinquenta estados americanos relataram casos da doença, que é extremamente contagiosa e pode ser fatal. O CDC informou que o atual surto tem como origem a chegada ao país de 122 pessoas contaminadas, vindas sobretudo da Ucrânia, Israel e Filipinas. A doença tem se espalhado com facilidade entre crianças não vacinadas.
Os contágios têm se concentrado na cidade de Nova York, onde as autoridades dizem haver mais de 390 casos registrados desde outubro – em sua maioria, de crianças de comunidades ortodoxas judias do bairro do Brooklin.
Uma parcela bastante ruidosa de pais americanos se opõe à vacinação devido à crença, contrária às evidências científicas, de que os componentes de vacinas podem causar autismo e outros problemas de saúde. Autoridades de Saúde Pública dos Estados Unidos culpam o ceticismo em relação à vacinação pelo atual surto da doença.
Crianças indefesas
Entre 2010 e 2017, 169 milhões de crianças em todo o mundo não receberam a primeira dose da vacina contra o sarampo, alertou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Esse total corresponde a uma média de 21 milhões de omissões ao ano. Para a entidade, o aumento no número de crianças não vacinadas abriu caminho para os surtos de sarampo que atualmente atingem vários países.
A diretora executiva do Unicef, Henrietta Fore, destacou que o vírus do sarampo sempre encontrará crianças não vacinadas e que é preciso imunizá-las todas, tanto em países ricos como em nações pobres. “A base para os surtos de sarampo que estamos testemunhando hoje pelo mundo foi estabelecida há anos”, lembrou.
Reforço para adultos
Adultos nos Estados Unidos que foram vacinados contra o sarampo décadas atrás poderão precisar de uma nova dose, dependendo de quando receberam a vacina e do risco de exposição ao vírus, de acordo com especialistas em saúde pública do CDC. O vírus tinha sido considerado eliminado desde 2000.
Até 10% dos casos de sarampo confirmados no atual surto ocorreram em pessoas que já haviam recebido uma ou duas doses da vacina. O CDC recomenda que as pessoas que estejam vivendo ou viajando para áreas de surto deveriam checar suas vacinas e considerar receber uma nova dose.
Allison Bartlett, especialista em doenças infecciosas na Universidade de Chicago Medicine, disse que a “vulnerabilidade continuada à contaminação” é o motivo pelo qual adultos em grupos de alto risco, como os funcionários das áreas de saúde, são aconselhados rotineiramente a tomar uma segunda dose de vacina de sarampo.
Mas saber o status de sua vacina pode ser um desafio, segundo os especialistas. “É complicado e até fútil porque é muito difícil recuperar registros antigos”, disse William Schaffner, especialista em doenças infecciosas no Centro Médico da Universidade Vanderbilt.
Pessoas vacinadas nos Estados Unidos desde 1989 provavelmente receberam duas doses das vacinas combinadas para sarampo, caxumba e rubéola (MMR) distribuídas sob diretrizes federais, e este continua sendo o padrão para a proteção.
Aqueles vacinados entre 1963 e 1989 provavelmente teriam recebido apenas uma dose, com muitas pessoas imunizadas nos primeiros anos tendo recebido uma versão inativada do vírus. Americanos nascidos antes de 1957 são considerados imunes pois teriam sido expostos ao vírus diretamente em um surto.
O laboratório Merck é o único fornecedor da vacina MMR. A empresa disse em um comunicado que adotou “passos para aumentar o fornecimento da vacina para os Estados Unidos”, devido ao atual surto da doença.
O vírus do sarampo é altamente contagioso e pode causar cegueira, surdez, danos cerebrais e até morte. Atualmente há surtos da doença em muitas partes do mundo.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 95% da população precisa ser vacinada para atingir “imunização em massa”, uma forma de proteção indireta que previne contaminações em pessoas muito jovens ou debilitadas para serem vacinadas.
(Com Reuters)