EUA anunciam saída do Conselho de Direitos Humanos da ONU
Americanos acusam órgão de ser parcial contra Israel e aceitar membros que descumprem direitos de seus cidadãos
A administração do presidente Donald Trump vai retirar os Estados Unidos do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, anunciou nesta quarta-feira (19) a embaixadora do país na ONU, Nikki Haley. A decisão foi tomada após muitas reclamações sobre a hipocrisia do órgão e críticas por sua posição contrária à Israel.
Ao lado do secretário de Estado Mike Pompeo, Haley defendeu a medida, dizendo que os pedidos de reforma feitos pelos Estados Unidos ao órgão não foram atendidos.
Os americanos há muito acusam o Conselho de ser tendencioso contra Israel. Também criticam o órgão por aceitar como membros países que frequentemente são acusados de abusos dos diretos humanos, como China e Arábia Saudita.
“Abusadores de direitos humanos continuam a servir e a ser eleitos para o Conselho”, disse Haley. “Os regimes mais desumanos do mundo continuam a escapar de suas críticas e o Conselho continua politizando as reclamações de países com registros positivos de direitos humanos na tentativa de desviar a atenção dos agressores. “
“Damos este passo porque nosso comprometimento não nos permite continuar fazendo parte de uma organização hipócrita, autocentrada, que faz gozação dos direitos humanos”, afirmou.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, lamentou a decisão dizendo que “teria preferido muito” que os Estados Unidos permanecessem no Conselho. “A arquitetura de direitos humanos da ONU tem um papel muito importante na promoção e proteção dos direitos humanos em todo o mundo”.
Ainda não está claro se os Estados Unidos deixarão o órgão e não cooperarão mais com suas ações de nenhuma forma ou se continuarão a atuar pelo menos como observadores e auxiliando nas investigações.
O anuncio acontece dois dias após o alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, criticar as novas políticas imigratórias americanas que estão separando pais e filhos na fronteira com o México.
Histórico de desentendimentos
A diplomacia americana já não escondia suas diferenças com o Conselho, ao qual Washington acusava de ter se mobilizado por sentimentos contrários a Israel e pela presença de países que o governo considera que não devem ter um assento.
O Conselho de Direitos Humanos da ONU foi criado em 2006 para substituir a Comissão de Direitos Humanos e é formado por 47 países-membros escolhidos por maioria absoluta na Assembleia-geral da ONU.
Em junho de 2017, Haley já tinha exigido uma reforma do Conselho, e este ano Washington impulsionou um projeto de resolução que contemplava mudanças profundas neste grupo.
Entre as propostas americanas destacam-se um dispositivo para que países acusados de cometer violações dos direitos humanos possam ser excluídos do Conselho por maioria simples na Assembleia e não por voto de dois terços.
Exigia também que a questão dos “direitos humanos na Palestina” não fosse incluída na agenda de forma sistemática.
Isolamento
O governo de Donald Trump é acusado por outras grandes potências, como a França, de estar se isolando cada vez mais do resto do mundo.
Neste ano, os Estados Unidos já anunciaram sua decisão de sair do acordo nuclear com o Irã, impuseram novas taxas sobre as importações de aço e alumínio da União Europeia e outras nações e reconheceram Jerusalém como a capital de Israel, contrariando o consenso internacional.
A saída do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas deve provocar ainda mais críticas em relação ao isolamento americano. Pode também despertar outras nações a entrarem com um pedido de investigação em relação ao tratamento de crianças imigrantes na fronteira americana com o México, após uma série de acusações de abusos.
(Com AFP)