EUA e Reino Unido ordenam retirada de diplomatas do Níger após golpe
Casa Branca diz estar comprometida em restaurar o governo deposto na semana passada; nação africana é importante aliado contra extremistas islâmicos
Os Estados Unidos e o Reino Unido ordenaram a retirada de alguns funcionários de suas embaixadas no Níger nesta quinta-feira, 3, em resposta ao golpe da semana passada. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a Casa Branca está empenhada em restaurar o governo deposto.
O Níger é um importante aliado de nações ocidentais na luta contra os extremistas islâmicos na região. Potências estrangeiras condenaram o golpe, temendo que ele beneficiasse militantes jihadistas.
“Dados os desenvolvimentos em andamento no Níger e com muita cautela, o Departamento de Estado está ordenando a saída temporária de funcionários não emergenciais do governo dos Estados Unidos e familiares elegíveis da embaixada americana em Niamey”, disse o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller, em comunicado.
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O Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido também reduziu temporariamente o número de funcionários da embaixada “devido à situação de segurança”.
Blinken disse ao presidente deposto do Níger, Mohamed Bazoum, em um telefonema na quarta-feira 2 que os Estados Unidos continuam comprometidos com a restauração do governo democraticamente eleito. Enquanto isso, Miller garantiu que a Casa Branca permanece “diplomaticamente engajada nos níveis mais altos” com o Níger, acrescentando que a embaixada permanece aberta para serviços de emergência limitados a cidadãos americanos.
Na noite de quarta-feira, o autodeclarado novo líder do país, o general Abdourahamane Tchiani, disse que a junta não iria devolver o poder a Bazoum, apesar da pressão dos países vizinhos. A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (Ecowas) impôs sanções ao Níger e disse que poderia autorizar o uso da força se os líderes do golpe não restaurarem o governo dentro de uma semana a contar do domingo passado, 30 de julho. O bloco enviou uma delegação a Niamey na quarta-feira para negociar com os golpistas.
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Num discurso televisionado, Tchiani disse que a junta “rejeita totalmente essas sanções e se recusa a ceder a quaisquer ameaças, venham elas de onde vierem”.
“Apelamos ao povo do Níger como um todo e à sua unidade para derrotar todos aqueles que querem infligir sofrimento indescritível às nossas populações trabalhadoras e desestabilizar o nosso país”, disse Tchiani.
A Ecowas tem lutado para conter um retrocesso democrático na África Ocidental e prometeu que golpes não seriam mais tolerados após as tomadas de poder por militares em Mali, Burkina Faso e Guiné, além de uma tentativa de golpe na Guiné-Bissau, nos últimos dois anos.
“A opção militar é a última opção sobre a mesa, o último recurso, mas temos que nos preparar para a eventualidade”, disse Abdel-Fatau Musah, comissário da Ecowas para assuntos políticos, paz e segurança. “Há uma necessidade de demonstrar que não podemos apenas latir, mas podemos morder.”
O Ministério das Relações Exteriores da França pediu à nova junta do Níger para “garantir totalmente” a segurança de sua embaixada em Niamey antes de protestos planejados na capital nesta quinta-feira, acrescentando que essas são “obrigações sob o direito internacional, especialmente sob a Convenção de Viena”.
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O golpe desencadeou protestos contra a França – ex-governante colonial do Níger e tradicional aliado – e Paris retirou seus cidadãos do país africano na terça-feira 1º, após uma manifestação violenta fora de sua embaixada. Durante o protesto, uma multidão entoando cânticos anti-França quebrou as janelas do edifício. Quase 1.000 pessoas – franceses e outros cidadãos europeus – foram levadas para território francês na operação.
A Itália também começou a retirar civis europeus da nação na terça-feira.
Tchiani, ex-chefe da guarda presidencial de Bazoum, deteve o então presidente em seu próprio palácio na semana passada e depois se declarou chefe de Estado. Mali e Burkina Faso, os outros regimes militares da região, declararam que qualquer intervenção de Exércitos estrangeiros no Níger seria considerada uma declaração de guerra contra eles.
Na quarta-feira, o Banco Mundial suspendeu os desembolsos ao Níger, exceto para parcerias com o setor privado, em mais um golpe aos líderes militares. O país tem uma das maiores carteiras do Banco Mundial na África, totalizando US$ 4,5 bilhões cobrindo os setores prioritários do país, e recebeu US$ 600 milhões em apoio orçamentário direto do órgão entre 2022 e 2023.
França, Estados Unidos, Alemanha e Itália têm soldados no Níger em missões de treinamento, ajudando o Exército local a combater grupos ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico. Há cerca de 1.100 soldados americanos no Níger. Até agora, não houve anúncio de retirada dos militares estrangeiros.