EUA construirão porto temporário na costa de Gaza para envio de ajuda
Obra deve demorar "algumas semanas" até conclusão e possibilitará aumento de assistência em "centenas de cargas adicionais" por dia, de acordo com a BBC
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, deve anunciar a construção de um porto na costa de Gaza para a entrada de ajuda humanitária. A informação foi divulgada nesta quinta-feira, 7, pela emissora britânica BBC, que citou funcionários do alto escalão do governo americano, que falaram em condição de anonimato. A instalação deve demorar “algumas semanas” para ser concluída e possibilitará o aumento de assistência em “centenas de cargas adicionais” por dia, informaram as autoridades.
O cais temporário será capaz de receber grandes navios com alimentos, remédios e abrigos. Até o término das obras, as remessas serão recebidas no Chipre, onde tropas israelenses inspecionarão os produtos antes do envio à Faixa de Gaza. As fontes ouvidas pela BBC acreditam que o porto será instalado pela 7ª Brigada de Transporte, unidade do Exército dos EUA, com sede no estado de Virgínia. Os militares teriam sido orientados a um desdobramento rápido, apesar de ainda não terem aterrissado no Oriente Médio.
A iniciativa não será acompanhada pelo apoio de soldados no campo de batalha, acrescentaram os funcionários. No momento, o insuficiente comboio humanitário chega ao sul de Gaza por terra, através da passagem de Rafah, cidade superpovoada alvejada por Israel nas últimas semanas. Por lá, a entrada é controlada por egípcios, já que faz fronteira com o país. A segunda rota de entrada, em Kerem Shalom, depende do aval israelense. No norte, foco das operações no início da guerra, a população sofre com escassez de ajuda há meses.
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Ataque de Israel contra fila
Na última quinta-feira, 29, as Forças de Defesa de Israel (FDI) abriram fogo contra um grupo de palestinos em uma fila de comida, matando mais de 100 pessoas e ferindo outras 760. O incidente ocorreu quando civis se reuniam ao redor de caminhões com suprimentos na Cidade de Gaza. Logo depois da aglomeração, tanques e drones israelenses começaram a disparar contra a multidão na rua Haroun Al Rasheed, no oeste da Cidade de Gaza, na área de Sheikh Ajleen.
De acordo com depoimento de um militar israelense à emissora americana CNN, as FDI usaram munição real contra o grupo porque “a multidão se aproximava das forças de uma maneira que representava uma ameaça aos soldados, que responderam à ameaça com fogo real”.
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Fome ‘generalizada’
Em meio à escalada de violência, o Programa Mundial de Alimentos (PMA), ligado à ONU, anunciou no final de fevereiro a suspensão do envio de alimentos ao norte de Gaza devido ao “caos e violência completos devido ao colapso da ordem civil”, incluindo saques violentos e ataques aos comboios de primeiros socorros.
Ainda em janeiro, as Nações Unidas alertaram para a fome “generalizada”. Com a desnutrição, o sistema imunológico é enfraquecido e aumenta a suscetibilidade a doenças. Desde meados de outubro, primeiro mês do conflito, foram registrados 179 mil casos de infecção respiratória aguda; 136,4 mil de diarreia em menores de cinco anos, 55,4 mil de sarna e piolhos e 4,6 mil de icterícia.
Em fevereiro, o relator especial das Nações Unidas sobre direito à alimentação, Michael Fakhri, aumentou o tom e disse que Israel “intencionalmente” mata a população da Faixa de Gaza por fome, de forma a constituir um crime de guerra e genocídio. Na ocasião, ele destacou que “não há razão para bloquear intencionalmente a passagem de ajuda humanitária ou destruir intencionalmente navios de pesca de pequena escala, estufas e pomares em Gaza – a não ser negar às pessoas o acesso aos alimentos”.
Em Gaza, 95% das famílias reduziram a quantidade e a frequência das refeições – parte das crianças pequenas, inclusive, está parando de receber alimentos. Desesperados, alguns pais oferecem ração animal aos filhos em uma tentativa mantê-los vivos. Em janeiro, quase 16% das crianças com menos de dois anos de idade estavam desnutridas ou definhando no norte de Gaza, enquanto 5% das crianças com menos de dois anos sofriam de subnutrição aguda em Rafah.