EUA confirmam saída de tratado de desarmamento nuclear com a Rússia
União Europeia (UE) e ONU manifestaram preocupação com risco de nova corrida armamentista; Washington poderá modernizar arsenal
O governo dos Estados Unidos confirmou nesta sexta-feira, 2, a retirada do tratado sobre armas nucleares assinado com a Rússia durante a Guerra Fria. A decisão abre caminho para uma nova corrida armamentista.
Em 1º de fevereiro, Washington anunciou a retirada do acordo bilateral. O processo de saída tem duração de seis meses e foi concluído hoje.
O presidente russo, Vladimir Putin, ratificou em 3 de julho a suspensão da participação de Moscou no acordo. A saída dos dois países acaba com o tratado INF, que, ao proibir o uso de mísseis com alcance de entre 500 e 5.500 quilômetros, permitiu a eliminação dos projéteis balísticos SS20 russos e Peshing americanos espalhados pela Europa.
Os europeus manifestaram preocupação com o risco de uma nova corrida armamentista no continente, mas a Otan apoiou a postura americana, alegando que o míssil russo 9M729 violava o tratado INF. Moscou rebateu as acusações e afirmou que sua nova arma tinha alcance máximo de 480 quilômetros.
“O tratado INF foi útil para nós, mas funciona somente se as duas partes o respeitarem”, declarou recentemente o novo secretário da Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper.
O Tratado de Armas Nucleares Intermediárias (INF, na sigla em inglês) foi firmado em 1987 com a antiga União Soviética. O acordo permitiu a destruição de milhares de armas americanas e soviéticas e manteve mísseis nucleares fora da Europa por três décadas.
O fim do tratado pode ser benéfico para os Estados Unidos, opinou no mês passado o então secretário da Defesa, Ash Carter.
“Do ponto de vista militar, e não político, não é tão ruim”, afirmou durante uma conferência no think tank Council on Foreign Relations, acrescentando que “poderíamos fazer um bom uso do que chamamos de ataque convencional rápido”.
De fato, o Pentágono comemora a possibilidade de modernizar seu arsenal para contra-atacar o crescente poder da China, que tenta estabelecer sua supremacia militar na Ásia.
“A maior parte do arsenal chinês é integrado por mísseis de alcance intermediário, e devemos estar seguros de ter a mesma capacidade se, infelizmente, entrarmos em conflito com eles algum dia”, destacou Esper.
Washington afirmou que não deslocaria novos mísseis nucleares na Europa, mas não fez nenhuma promessa sobre as armas convencionais.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, qualificou o fim do tratado como um passo perigoso que “provavelmente aumentará, e não reduzirá, a ameaça representada pelos mísseis balísticos”.
“Quando expirar amanhã, o mundo perderá um freio indispensável na guerra nuclear”.
(Com AFP)