Estupro com injúrias antissemitas impulsiona extrema direita da França
Caso gerou revolta devido à falta de segurança no país e aqueceu campanha do partido ultradireitista Reagrupamento Nacional nas eleições de 30 de junho
Uma menina de 12 anos foi estuprada no último sábado, 15, por dois meninos de 13 anos enquanto um terceiro a chamava de “judia suja”, na comuna de Courbevoie, na França. O episódio gerou comoção e revolta com a falta de segurança no país, de forma a impulsionar a campanha do partido ultradireitista Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, nas eleições legislativas, previstas para 30 de junho e 7 de julho.
A vítima havia ido encontrar um amigo, às 15h no horário local, quando foi encurralada. Ela foi levada para um prédio abandonado, espancada, fotografada, violentada sexualmente e ameaçada de ser queimada viva. Os agressores também afirmaram que seria morta se denunciasse o crime. A queixa foi prestada ainda no sábado. Eles foram presos dois dias depois, acusados de “estupro coletivo, ameaças de morte e insultos e violência de natureza antissemita”.
O caso inflamou o cenário político, já muito polarizado em razão da guerra entre Israel e o grupo palestino radical Hamas, iniciada em 7 de outubro de 2023. Apenas no primeiro trimestre deste ano, ocorrências antissemitas dispararam 300% na França, com uma estimativa de 366 incidentes, de acordo com o governo francês.
Os relatos de estupro também assustam. No último ano, a França registrou mais de 84 mil vítimas de violência sexual fora do eixo familiar, de acordo com dados do Ministério do Interior. O número representa aumento de 6% em relação a 2022.
A falta de confiança de que o presidente Emmanuel Macron é capaz de colocar o país nos trilhos — segundo sondagens do portal Politico, 71% dos franceses entrevistados desaprovam sua administração, contra apenas 28% favoráveis — levou o RN a ganhar terreno como um partido engajado na luta contra agressões antissemitas, no projeto de “erradicar as ideologias islâmicas e todas as suas redes do território nacional” e tornar segurança “uma prioridade”.
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Eleições legislativas
O pleito foi convocado antecipadamente depois de Macron dissolver o Parlamento francês, movimentação motivada pela derrota do seu partido, Renascimento (REM), nas votações para o Parlamento Europeu, braço legislativo da União Europeia (UE). Na ocasião, ele definiu os resultados das eleições como “um desastre que não pode ser ignorado” e argumentou que o “aumento dos nacionalistas e demagogos é um perigo”. O RN arrematou 31,37% dos votos, contra apenas 14,60% da coalizão do presidente francês, Besoin d’Europe.
Macron derrotou Le Pen nas eleições presidenciais francesas de 2017 e 2022, com 66,1% e 58,54% dos votos, respectivamente. Logo depois da convocação da corrida legislativa na França, Le Pen afirmou que sua vitória no Parlamento Europeu era um acontecimento “histórico” e que ela estava pronta para ganhar novamente, desta vez em nível nacional.