Em possível prelúdio de nova ofensiva, Rússia aumenta ataques em Bakhmut
Captura da região é essencial para Rússia ocupar uma posição estratégica
A cidade de Bakhmut, no leste da Ucrânia, sofreu um ataque da artilharia russa nesta segunda-feira, 13, em um possível prelúdio de uma nova grande ofensiva, à medida que a marca de um ano da guerra se aproxima, em 24 de fevereiro. O ataque foi liderado por mercenários do grupo Wagner, que conquistaram anteriormente a região de Soledar.
De acordo com militares ucranianos, soldados que já estão há meses na cidade estão preparados para novos ataques. As posições em Bakhmut foram fortificadas e apenas pessoas com funções militares foram autorizadas a entrar.
Os dois lados sofreram pesadas perdas em Bakhmut, e a situação da zona de conflito foi descrita como um “moedor de carne”, com poucos civis restantes na cidade. Desde maio, o Exército russo tenta ocupar a cidade, uma zona estratégica para ser usada como base de lançamento de ataques a cidades vizinhas, como Sloviansk e Kramatorsk.
Nesta segunda-feira, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos afirmou ter registrado 7.199 mortes de civis desde o início da invasão, em todo o território ucraniano. A maioria morreu por bombas, mísseis e ataques aéreos e o número real pode ser ainda maior, segundo a agência da ONU, à medida que o acesso ainda é difícil em certas áreas para verificação.
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Atualmente, a região é o principal objetivo do presidente russo, Vladimir Putin. A captura do local daria à Rússia uma nova posição na região de Donetsk e uma rara vitória após vários meses de contratempos. O território de Donbas, que a Rússia ocupa parcialmente, é considerado o coração industrial da Ucrânia e agora o país tenta obter controle total.
Em Bruxelas, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, considerou que a tão esperada ofensiva russa já começou.
“Não vemos nenhum sinal de que o presidente Putin esteja se preparando para a paz”, afirmou antes de uma reunião do ministro da Defesa da Otan nesta terça-feira, 14. “O que vemos é o presidente Putin e a Rússia ainda querendo controlar a Ucrânia. Vemos como eles estão enviando mais tropas, mais armas, mais capacidades”.
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Os novos bombardeios russos tornaram a situação ainda mais aguda. Segundo o vice-comandante do batalhão Svoboda da Ucrânia, Volodymyr Nazarenko, a cidade e “todo o perímetro” em direção de Bakhmut e Kostyantynivka “estão sob um bombardeio louco e caótico”. Embora nenhum combate esteja ocorrendo no centro da cidade no momento, as forças ucranianas estão preparadas para enfrentar qualquer ataque.
“A cidade é uma fortaleza, cada posição e cada rua ali, quase todos os prédios, são uma fortaleza”, disse Nazarenko.
O Ministério da Defesa russo afirmou nesta segunda-feira, 13, que suas tropas avançaram alguns quilômetros ao longo das linhas de frente, sem especificar o local. A zona de guerra abrange várias regiões no sul e no leste, incluindo a vila de Chasiv Yar, que foi fortemente bombardeada nos últimos dias enquanto as tropas russas trabalham para cortar as rotas para a cidade de Bakhmut.
Novos bombardeios russos ao longo da linha de frente foram relatados pelos militares ucranianos e 16 assentamentos perto de Bakhmut foram atacados. No domingo, as forças da Ucrânia conseguiram repelir uma série de ataques na região e nas cidades de Kharkiv, Luhansk e Zaporizhzhia.
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O governador de Luhansk , uma cidade reconhecida internacionalmente como parte da Ucrânia mas administrada pela Rússia, Serhiy Haidai, afirmou que as forças russas atacaram o assentamento de Bilogorivka por todos os lados antes do amanhecer desta segunda-feira.
“Mas nossas forças lutaram lá”, disse Haidai à TV ucraniana. “Foi a mesma situação na direção de Kreminna, muitos deles [russos] apareceram lá. Mas eles recuaram após a luta com nossas forças.”
De acordo com o governador, os preparativos para a ofensiva já estão em andamento e a quantidade de “bombardeios, ataques aéreos e ataques de pequenos grupos” aumentou.
Com a nova ofensiva russa, ministros da Defesa de diversos países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) aliados a Kiev vão se reunir em Bruxelas nesta terça-feira, 14, para discutir uma ajuda militar adicional. O ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov, reiterou que os principais itens da agenda de negociações na sede da organização serão defesas aéreas, formação de uma coalizão de tanques, treinamento de tropas e apoio logístico.
A Ucrânia afirma que precisa de caças e mísseis de longo alcance para conter a ofensiva e recuperar o território perdido. Espera-se que a questão das aeronaves seja discutida na reunião, mas os suprimentos, como os tanques M1 Abrams e Leopard 2 prometidos pelos Estados Unidos e pela Alemanha, ainda iriam levar tempo para chegar.