Em novo capítulo de tensões, China critica falas ‘ignorantes’ de vice de Trump
Em entrevista, JD Vance se referiu a povo chinês como 'camponeses', em fala sobre tarifaço dos EUA

Em um novo capítulo das tensas disputas acirradas pelo tarifaço apresentado pelos Estados Unidos, o governo da China criticou abertamente nesta terça-feira, 8, o vice de Donald Trump, JD Vance, por ter se referido ao povo chinês como “camponeses”.
“O que a economia globalista trouxe para os Estados Unidos da América? E a resposta é, fundamentalmente, que ela se baseia em dois princípios: incorrer em uma enorme quantidade de dívida para comprar coisas que outros países fazem para nós”, disse Vance em entrevista à Fox News, na semana passada. “Para deixar um pouco mais claro, pegamos dinheiro emprestado de camponeses chineses para comprar as coisas que esses camponeses chineses fabricam”.
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Questionado sobre a fala de Vance, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, disse ser “surpreendente e lamentável ouvir este vice-presidente fazer comentários tão ignorantes e desrespeitosos”.
Uma hashtag sobre os comentários de Vance se tornou o principal tópico da rede social chinesa Weibo, acumulando mais de 140 milhões de visualizações nesta terça-feira.
“Podemos ser camponeses, mas temos o melhor sistema ferroviário de alta velocidade do mundo, as capacidades logísticas mais poderosas e tecnologias de ponta em IA, direção autônoma e drones. Esses camponeses não são impressionantes?”, disse um dos usuários.
Outros usuários, com tom mais irônico, relembraram a própria história de Vance, que veio de uma região rural dos Estados Unidos, como retratado em seu livro de memórias, publicado em 2016.
Novas ameaças
As críticas à fala do vice-presidente se dão em meio às novas ameaças de Trump em direção a Pequim. Na segunda-feira, o presidente dos EUA disse que pode impor novas taxas de mais de 50%, a partir de 9 de abril, se a China não remover tarifas impostas em retaliação a Washington.
Mais cedo, a China acusou os Estados Unidos de praticarem unilateralismo, protecionismo e intimidação econômica com a imposição de tarifas adicionais de 34% sobre produtos chineses. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, afirmou que a postura americana de colocar seus próprios interesses acima das regras internacionais prejudica a estabilidade da produção global e da cadeia de suprimentos, além de comprometer a recuperação econômica mundial.
Pequim é a mais afetada pelo renovado protecionismo dos Estados Unidos. Na semana passada, o presidente americano, Donald Trump, anunciou uma nova tarifa de 34% sobre produtos chineses, como parte do que chamou de “Dia da Libertação para a América”. A medida soma-se a outras duas rodadas de tarifas de 10% aplicadas em fevereiro e março, que, segundo o republicano, são uma resposta à suposta responsabilidade da China na crise do fentanil.
Em resposta, o Ministério das Finanças chinês comunicou que passará a cobrar tarifas adicionais de 34% sobre todas as mercadorias americanas a partir da próxima quinta-feira, 10 de abril. A pasta do Comércio também anunciou uma série de novas restrições sobre exportações chinesas aos Estados Unidos de metais críticos encontrados em terras-raras, incluindo samário, gadolínio, térbio, disprósio, lutécio, escândio e ítrio, com efeito imediato.
Além disso, Pequim adicionou onze empresas americanas à lista de “entidades não confiáveis”, abrindo caminho para que tome medidas punitivas como a restrição de negócios com companhias chinesas.
No fim de semana, autoridades chinesas se reuniram com representantes de cerca de 20 empresas dos EUA, incluindo Tesla e GE Healthcare. Durante o encontro, o vice-ministro do Comércio, Ling Ji, declarou que “a raiz do problema das tarifas está nos Estados Unidos”.
“Esperamos que as empresas americanas ajam com responsabilidade e contribuam para a estabilidade da cadeia de suprimentos global”, acrescentou.
Não está claro se o presidente Xi Jinping se reunirá com Trump para discutir uma solução. Questionado sobre essa possibilidade, Lin disse que o tema deve ser tratado por outros departamentos. “Pressões e ameaças não são o caminho certo para lidar com a China. Defenderemos firmemente nossos direitos e interesses legítimos”, afirmou.