Em discurso, primeira-dama dos EUA reconhece a fatalidade da pandemia
Na segunda noite de convenção, Donald Trump foi acusado de usar as prerrogativas do cargo de presidente para beneficiar sua campanha eleitoral
Na segunda noite da Convenção Nacional do Partido Republicano nesta terça-feira 25, a primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, adotou um tom menos combativo que seu marido, Donald Trump, e reconheceu a fatalidade da pandemia de coronavírus no país.
Do Jardim das Rosas da Casa Branca, com o presidente Trump na primeira fila, Melania classificou a pandemia como um “inimigo invisível” que já levou à morte de quase 178.000 pessoas no país. “Sei que muitas pessoas estão ansiosas e algumas se sentem impotentes. Quero que saibam que não estão sozinhos”, disse.
Melania classificou a pandemia como um “inimigo invisível”, do qual quase 178.000 pessoas no país faleceram devido a doença e pela profunda recessão causada pela doença. A primeira-dama ainda apresentou Trump como um político que “não apenas fala, mas obtém resultados” e que “não perdeu nem perderá o foco” nas pessoas além das “manchetes negativos e falsas na mídia ou ataques” de seus opositores.
“Donald não descansará até que tenha feito todo o possível por todos os afetados por esta terrível pandemia”, afirmou a mulher de 50 anos, consciente de que sua participação deveria superar o vexame de 2016, quando seu discurso na convenção foi acusado de plagiar trechos inteiros do discurso de Michelle Obama na Convenção Democrata de 2008.
O discurso da primeira-dama foi transmitido pelas redes sociais e canais de televisão para milhares de americanos. Na Casa Branca, porém, o pronunciamento foi assistido por algumas pessoas, em sua maioria sem máscaras e sem distanciamento social.
A forma como Melania tratou a pandemia de coronavírus destoa do tom adotado por outras personalidades que discursaram na convenção e até mesmo por Trump em seus pronunciamentos. Até o momento, o evento republicano foi repleto de alertas contra o caos e a violência supostamente disseminados pelo candidato democrata Joe Biden.
ASSINE VEJA
Clique e Assine“O espírito americano derrotou o fascismo e o comunismo e em 68 dias derrotará as opiniões vazias, opressivas e radicais da extrema-esquerda”, prometeu Eric Trump, 36 anos, um dos cinco filhos do presidente.
Tiffany Trump, a outra filha do presidente que discursou na terça-feira, pediu que todos permaneçam “fiéis” ao sonho americano, ameaçado na visão dos republicanos por Biden. “Um voto em meu pai é um voto para defender nossos ideais americanos”, enfatizou a jovem de 26 anos.
“Ele defende nossa liberdade religiosa, apoia aliados democráticos como a Colômbia e demonstra uma determinação inquebrável ao enfrentar tiranos em países como Venezuela, Cuba, China e Nicarágua”, disse a vice-governadora da Flórida, Jeanette Nuñez, filha de cubanos que fugiram da revolução de Fidel Castro. “Vamos nos unir ao nosso presidente em sua promessa de que os Estados Unidos nunca serão um país socialista”, completou.
Pragmatismo deixado de lado
Na política americana os candidatos à Presidência costumam seguir algumas regras não escritas para manter a corrida justa. Um desses compromisso é o de que concorrentes não devem usar as prerrogativas e o status dos cargos públicos que ocupam para fins eleitorais.
Trump, porém, vem quebrando essa regra durante a Convenção Nacional de seu partido. Além de sua esposa discursar nos jardins da Casa Branca, o republicano usou peças eleitorais gravadas durante assinaturas de memorandos e naturalização de imigrantes para promover seu trabalho.
Esta não foi a primeira vez que Trump ignorou a linha que separa a Casa Branca da corrida eleitoral. Em 2019, o presidente foi acusado de pressionar a Ucrânia a abrir uma investigação de corrupção contra a família do adversário democrata Joe Biden. O processo levou a um pedido de impeachment, que foi arquivado no Senado.
No livro do ex-assessor de Segurança Nacional John Bolton, Trump é descrito como alguém que procura se beneficiar de todas as decisões tomadas dentro da Casa Branca.
O discurso de um dos mais fiéis aliados de Trump na Casa Branca, o secretário de Estado Mike Pompeo, também foi acusado de parcialidade. A mensagem de Pompeo foi gravada em Israel, uma vez que o secretário está em viagem oficial pelo Oriente Médio. O fundo do vídeo mostra a cidade de Jerusalém.
“O presidente Trump colocou em prática sua visão dos Estados Unidos em primeiro lugar. Pode não ter se tornado popular em todas as capitais do mundo, mas funcionou”, afirmou Pompeo, ao citar a ofensiva contra China e Irã, a aproximação com a Coreia do Norte e a mudança da embaixada americana para Jerusalém.
A fé, a liberdade religiosa e os pedidos para que Deus abençoe os Estados Unidos foram uma constante na segunda noite da convenção. O discurso de Pompeo não será lembrado apenas por destacar a política externa de Trump com a Cidade Sagrada ao fundo, e sim por confundir os limites entre diplomacia e política partidária, algo que a campanha de Biden considerou um “uso descarado do cargo para propósitos abertamente políticos”.