Eles ainda estão lá: o destino dos astronautas presos no espaço há oito meses
Americanos estão prestes a voltar para a Terra. Se não houver problemas, será um alívio
Em 2013, Gravidade, de Alfonso Cuáron, prendeu a atenção do público ao contar a história de dois astronautas vividos por Sandra Bullock e George Clooney que, depois de um desastre espacial, lutam pela sobrevivência em órbita. Era um engenhoso roteiro de ficção, vencedor de sete estatuetas no Oscar, inclusive o de melhor filme. Como costuma acontecer, a vida acaba de imitar a arte. Os americanos Sunita Williams e Barry Wilmore, que deveriam passar alguns dias na Estação Espacial Internacional, a ISS, terminaram presos no espaço por oito meses, e contando.
A missão enfrentou uma série de problemas técnicos, como vazamentos de gás hélio e falhas nos propulsores da cápsula Starliner, fabricada pela Boeing. A Nasa, responsável pela segurança da empreitada, adiou mais de uma vez o retorno da dupla à Terra, em razão de atrasos na programação de lançamentos de novas missões. A próxima janela deveria ser em fevereiro, e a previsão mais recente é meados de março, se tudo correr bem.
Nesse meio-tempo, os astronautas protagonizaram duas caminhadas espaciais a 420 quilômetros da superfície terrena. Uma solo, com Sunita, que estabeleceu um novo recorde para mulheres, e a outra em dupla — ambas realizadas com sucesso. Tudo dentro de um roteiro meticuloso, previsto para mostrar que a agência espacial americana tem controle da aventura e do susto. Isso não significa, no entanto, que a situação tenha escapado de danos. A Boeing levou um tranco, com sua reputação subtraída. A empresa já enfrentava críticas devido a falhas em seus aviões comerciais e agora precisa lidar com a humilhação de ver os tripulantes resgatados por sua principal concorrente no setor espacial, a SpaceX, fabricante da Crew Dragon, cujo dono, o bilionário Elon Musk, não perde a chance de tirar uma casquinha. Agora membro do governo de Trump (leia na pág. 56), tendo escolhido o novo diretor da Nasa, o também bilionário Jared Isaacman, o sul-africano promete acelerar o retorno.
Ele tem boas cartas na mão. A existência de dois fornecedores foi um modo de a Nasa ter certeza de que, caso um lado falhasse, o outro sairia em socorro, e é o que vai acontecer. Se não houver novos problemas, a Boeing respirará aliviada, por não ter havido nenhuma tragédia como a que vitimou sete tripulantes do ônibus espacial Challenger, em janeiro de 1986 — e a SpaceX será tratada como salvadora da pátria. “A situação terminou da melhor forma possível para todos: a Boeing provou que o veículo voltaria em segurança, os Estados Unidos não foram impactados por uma tragédia e a SpaceX saiu como um ponto de resguardo para a Nasa”, diz o engenheiro espacial Lucas Fonseca, um dos profissionais por trás do projeto que planeja levar o primeiro satélite brasileiro ao redor da Lua.
Tudo somado, espera-se que a permanência de Sunita e Barry pelas bandas lá de cima, um tanto quanto perdidos no espaço, vire uma história para contar, como as que a dupla relatou em entrevistas recentes aos veículos americanos. A Boeing não jogou a toalha. Musk, por sua vez, segue firme e forte, porque sonha levar o ser humano a Marte. A Nasa busca fazer renascer a conquista da Lua, prevista para ser tocada por um de nós em 2027. A ambição é deixar o pesadelo narrado em Gravidade para as telas do cinema. Por ora, contudo, convém relembrar: eles ainda estão lá.
Publicado em VEJA de 14 de fevereiro de 2025, edição nº 2931
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