Drama e dor no Sudeste Asiático
A tragédia humanitária ao redor do violento terremoto em Mianmar

O que poderia haver de pior em Mianmar, antiga Birmânia, país no Sudeste Asiático mergulhado desde 2021 em uma guerra civil fratricida entre as tropas a serviço de uma junta militar que depôs o governo civil e cidadãos em busca de democracia? A resposta: uma tragédia humanitária ao redor de um violento terremoto. Em Mandalay, segunda maior cidade do país, sirenes foram acionadas às 12h51 da sexta-feira 28, horário exato do tremor de magnitude 7,7 na escala Richter, o mais forte em um século. Cerca de 3 000 pessoas morreram, com 4 000 feridos. Mosteiros budistas, palácios, casas e escritórios viraram ruínas e estradas sumiram do mapa, depois de danos provocados por impacto equivalente ao de “334 bombas atômicas”, segundo um grupo de geólogos. Não por acaso, a 1 000 quilômetros do epicentro, um edifício em construção ruiu em Bangcoc, na Tailândia, como se fosse um castelo de cartas. Em meio à dor, uma cena ficará marcada na memória: em Mandalay, em raro registro autorizado pela censura oficial dos autoritários de plantão, viam-se monges ajudando na busca por sobreviventes. Houve espanto, e genuína alegria, no resgate com vida de uma senhora de 63 anos que por 91 horas estivera soterrada debaixo de ferro, pedra e cimento. Ela virou o símbolo de um país humilhado pelo horror: nem mesmo com o drama e o receio de novos tremores, as tropas das forças armadas pararam de bombardear regiões habitadas pelos rebeldes. Mianmar precisa de esperança.
Publicado em VEJA de 4 de abril de 2025, edição nº 2938