Doações para comitê que organizou posse de Trump são investigadas nos EUA
Segundo jornal, promotores averiguam se doadores repassaram dinheiro ao comitê em troca de favores políticos
A Promotoria Federal de Manhattan está investigando o comitê montado para organizar a posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que arrecadou 107 milhões de dólares em doações, segundo o jornal The Wall Street Journal. O jornal, que cita fontes com conhecimento da investigação, afirma que os promotores apuram se alguns dos maiores doadores repassaram dinheiro ao comitê em troca de favores políticos e influência na administração de Trump.
A investigação, que ainda está em fase inicial, começou a partir dos materiais apreendidos pelas autoridades americanas no escritório de Michael Cohen, ex-advogado pessoal do presidente.
Cohen foi condenado ontem a três anos de prisão por diferentes crimes, entre eles por pagar duas mulheres para manterem o silêncio sobre relações que tiveram com Trump, assim como por mentir ao Congresso sobre projetos empresariais do presidente na Rússia.
Em troca do dinheiro, os doadores obteriam acesso ao governo, concessões legislativas e teriam influência sobre cargos, ações que representam uma violação da lei federal americana.
A investigação pode representar outra ameaça legal para Trump e a Casa Branca, que já enfrenta processos e investigações sobre assuntos como contatos da campanha do presidente com a Rússia, pagamentos em dinheiro para mulheres feitos pelo ex-advogado do presidente e gastos da fundação de Trump.
Advogados ligados ao comitê questionaram a existência da investigação, alegando não terem recebido pedidos de informação por parte dos promotores que estariam envolvidos no caso.
Um porta-voz do gabinete do procurador-geral de Manhattan recusou-se a comentar. Os porta-vozes da Casa Branca e da campanha de Trump não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
Provas
Na operação de busca e apreensão nos escritórios de Michael Cohen, em abril, o FBI encontrou uma conversa gravada na qual Stephanie Winston Wolkoff, ex-assessora da primeira-dama do país, Melania Trump, e que trabalhou na posse, expressava “preocupação” ao advogado sobre as despesas do comitê.
O comitê gastou 103 milhões de dólares e só explicou como gastou 61 milhões. Como uma organização sem fins lucrativos, a lei só exige que sejam divulgados os gastos com as cinco principais entidades com as quais a organização trabalhou e quanto elas receberam.
Os gastos com a posse de Trump representam mais do que o dobro arrecadado pelo ex-presidente Barack Obama para sua cerimônia de inauguração do governo em 2009, segundo o Wall Street.
Os eventos da posse do atual presidente, em janeiro de 2017, incluíram um show, recepções, jantares particulares e outras festividades.
De acordo com os promotores, a empresa que mais recebeu dinheiro do comitê foi a WIS Media Partners, comandada pela ex-assessora de Melania, que recebeu 25,8 milhões de dólares. A companhia de Wolkoff foi formada apenas 45 dias antes da posse.
Além de Cohen, os promotores também teriam interrogado Richard Gates, que trabalhou para a campanha eleitoral de Trump e foi presidente-adjunto do comitê para a posse, segundo o WSJ.
No começo do ano, Gates admitiu ser culpado de conspirar contra o país ao fazer trabalhos de assessoria em política externa que não tinham ligação com a campanha. Ele foi processado pelo promotor especial Robert Mueller, responsável por investigar as relações entre a campanha de Trump e o governo da Rússia.
Financiamento estrangeiro
O comitê da posse do atual presidente foi comandado por Thomas Barrack Jr., empresário do negócio imobiliário e antigo amigo de Trump. Segundo o WSJ, ele não foi interrogado ou está sendo investigado pela Promotoria de Manhattan.
Barrack, contudo, já foi entrevistado pela equipe de Robert Mueller, procurador-especial que investiga a interferência da Rússia nas eleições presidenciais de 2016 e um possível conluio com a campanha de Trump.
Mueller também investiga se dinheiro vindo do exterior foi usado para financiar a cerimônia de posse do presidente, algo proibido pela lei americana. Em agosto, o consultor político e lobista americano W. Samuel Patten admitiu ter usado um laranja para comprar ingressos para a posse usados por um importante oligarca ucraniano.
O homem, um americano que serviu apenas como disfarce, teria pago 50.000 dólares por quatro entradas para a cerimônia e depois foi reembolsado por Patten. Até agora, os investigadores não revelaram ter encontrado nenhuma conexão entre o caso e a administração de Trump.
(Com EFE e Reuters)