Diplomata norte-coreano de alto escalão deserta para Coreia do Sul
O trabalho de Ri Il Kyu era impedir que Havana estabelecesse relações com Seul. Ele tornou-se o mais importante diplomata de Pyongyang a fugir desde 2016
Um diplomata norte-coreano de alto escalão, que ficava estacionado em Cuba, desertou para a Coreia do Sul, confirmaram meios de comunicação locais com base em informações do Serviço Nacional de Inteligência (SNI) de Seul. Isso fez do homem o funcionário mais importante de Pyongyang a fugir para a vizinha democrática desde 2016.
O jornal sul-coreano Chosun Ilbo identificou o diplomata como Ri Il Kyu, de 52 anos. Reportagens da local afirmam que o desertor era um conselheiro responsável por assuntos políticos na embaixada norte-coreana em Cuba, onde uma de suas funções era impedir que a rival Coreia do Sul e Havana – aliada dos tempos de Guerra Fria –, estabelecessem laços diplomáticos, informou o jornal, citando uma entrevista com Ri. Em fevereiro, porém, os dois países firmaram relações, o que foi visto como um revés para Pyongyang.
“Todo norte-coreano pensa pelo menos uma vez em viver na Coreia do Sul”, disse ele em entrevista ao Chosun Ilbo.
Segundo o SNI, o diplomata desertou em novembro. Isso é comum: detalhes sobre fugas de norte-coreanos costumam demorar meses para vir à tona, uma vez que os desertores precisam fazer cursos sobre a sociedade sul-coreana antes de serem formalmente integrados ao país. A inteligência sul-coreana acrescentou que ele deixou seu país devido à “desilusão com o regime norte-coreano e a um futuro sombrio”.
A última deserção registrada de um funcionário do governo da Coreia do Norte para a vizinha do Sul foi a de Tae Yong-ho, em 2016. Ele é o ex-vice-embaixador norte-coreano no Reino Unido.
Tensões na península
No domingo 14, a Coreia do Sul marcou a sua primeira cerimônia do Dia dos Desertores Norte-Coreanos. Lá, o presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, prometeu melhor apoio financeiro às pessoas que fogem do regime vizinho e incentivos fiscais para empresas que os contratam.
Yoon, um conservador, adotou uma abordagem mais agressiva em relação à Coreia do Norte e à política externa em geral, em comparação com o seu antecessor, Moon Jae-In. Ele apoia sanções contra o regime de Kim Jong-un e prometeu desenvolver tecnologia para realizar um ataque preventivo a Pyongyang, caso decida tentar atacar Seul.
A última deserção ocorre num momento de tensões elevadas entre as duas Coreias. Kim abandonou formalmente o objetivo de reunificação com o Sul e recentemente rotulou Seul como “inimigo número 1”. Desde então, a retórica agressiva aumentou em ambos os lados da fronteira.
Os dois países lançaram balões de propaganda ao longo das suas cidades fronteiriças, sendo que os do norte continham lixo e parasitas. E no início de junho, Pyongyang afirmou ter testado um míssil avançado capaz de carregar uma ogiva nuclear.