Dezenas de gays são presos em nova onda de homofobia na Chechênia
Região russa de maioria muçulmana é alvo de denúncias de violação dos direitos humanos; dois dos presos teriam morrido sob tortura
Ativistas da organização Rede Russa LGBT informaram que quarenta homossexuais foram presos na região da Chechênia desde dezembro de 2018, dos quais dois teriam morrido sob tortura. Desde 2017, o grupo monitora abusos cometidos na ex-república soviética de maioria muçulmana.
Um porta-voz do governo de Ramzan Kadyrov afirmou que as notícias são “totalmente falsas”. A Chechênia e seu líder autoritário constantemente negam as denúncias de violações dos direitos humanos de minorias e as acusações de prisões ilegais e de abusos de poder.
Em uma entrevista à rede BBC no ano passado, Kadryrov disse que as denúncias são “uma invenção de agentes estrangeiros” ou criadas por ativistas que querem dinheiro. A homofobia é elemento comum na sociedade conservadora e predominantemente muçulmana. Kadyrov e outras autoridades do governo afirmam repetidamente que a Chechênia “não possui população homossexual”.
Apesar disso, dezenas de pessoas já alegaram ter sido detidas e torturadas por causa de sua orientação sexual. As denúncias são condenadas por grupos de todo o mundo.
Para os ativistas russos, a nova onda de prisões começou com a captura do líder de um grupo LGBT na rede social VKontakte. Postagens recentes diziam a pessoas da comunidade para “correrem da república o mais cedo possível”, de acordo com a mídia local.
“Sabemos de quarenta pessoas que foram detidas, mas talvez sejam mais. Também não está claro quantos já foram liberados. Nós sabemos que isso acontece e que estas pessoas são entregues a suas famílias para ‘lidar com isso'”, disse Igor Kochetkov, líder da Rede Russa LGBT, à BBC.
Passaportes retidos
Ele disse que já ajudou mais de 140 pessoas a escapar da região desde o começo da perseguição. O grupo tinha evidências, incluindo testemunhas, de que dois dos detentos morreram sob tortura, um por ferimentos de faca. Kochetkov também disse que a polícia local retém os passaportes dos prisioneiros.
“Tudo está sendo feito para que eles possam sair do país”, disse Igor ao jornal Moscow Times, “e isso torna tudo muito pior para nós porque faz nosso trabalho muito mais difícil em termos de retirada coletiva.”
No último mês, a Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) concluiu que “violações sérias de direitos humanos” aconteceram na Chechênia. O relatório compilou evidências, como testemunhos de sobreviventes, que incluem perseguições, ameaças, tortura e prisões e mortes arbitrárias de diversas minorias. a OSCE identificou o que chamou de “clima de impunidade” e pediu que a Rússia investigasse o abuso.
Na segunda-feira, Alvi Kraimov, um porta-voz do governo checheno disse ao site RT que as alegações faltam com a verdade: “Se ao menos uma pessoa tivesse sido presa, todo o público da Chechênia saberia. O que se dirá de quarenta! A alegação de que dois deles teriam sido mortos é ainda mais absurda”, disse Kraimov.