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Dez anos depois do desastre nuclear, Fukushima ainda luta para se reerguer

Atingida por terremoto seguido de tsunami, a região costeira japonesa vive à sombra do perigo da contaminação radioativa

Por Sergio Figueiredo Atualizado em 9 mar 2021, 11h01 - Publicado em 9 mar 2021, 10h51

Em 11 de março de 2011, uma então próspera região costeira do nordeste do Japão foi atingida por terremoto recorde de magnitude 9.0, seguido de um devastador tsunami, com ondas de mais de 40 metros de altura, que avançaram dez quilômetros terra adentro na província de Fukushima, ceifando 20 mil vidas e forçando mais de 165 mil pessoas a se realocar. O tsunami, já avassalador por si só, provocou um estrago ainda maior quando superou as barreiras de proteção contra água do mar da usina nuclear Fukushima Daiichi, inundando quase todo o complexo de seis reatores, danificando quatro deles (sendo que três foram levados ao derretimento) e provocando o vazamento de material radioativo em toda a região. Resultado: nos primeiros meses de crise, o governo japonês precisou estabelecer um perímetro de exclusão de 800 quilômetros quadrados que afetou todas as províncias vizinhas. Desde o desastre da usina de Chernobyl, na Ucrânia, extinta União Soviética, em 1986, não se via algo dessa dimensão.

Dez anos mais tarde, Fukushima ainda luta para se reerguer. Uma parte da população voltou e retomou seus negócios na produção de pesca, arroz e verduras, mas ela convive com a desconfiança de seus compatriotas, uma vez que os produtos que partem da província são regularmente testados para radiação e vendidos a preços abaixo da média de mercado. Cerca de cinco mil funcionários ainda trabalham na usina danificada, que está sob constante vigilância. O processo de desativação tem consumido tempo, pessoal e milhões de ienes. Há muito lixo tóxico ainda a ser removido. A água que enchia os reservatórios está sendo aos poucos liberada no Oceano Pacífico após passar por processo de filtragem. As autoridades garantem que essa água não causa danos à vida marinha, mas nem mesmo os pescadores da costa de Fukushima acreditam cegamente nisso.

Uma comissão independente foi estabelecida para avaliar o acidente e apontar eventuais erros e omissões, e a conclusão preliminar é que Fukushima Daiichi não foi construída com a solidez necessária nem operava nos mais altos padrões de segurança que a indústria nuclear em áreas de risco demanda. Para efeito de comparação, a usina de Onagawa, na província de Miyagi (o nome do personagem de Karatê Kid advém dali), a apenas 60 quilômetros de Fukushima, resistiu ao terremoto e ao tsunami, mesmo tendo sido atingida com mais força.

Levantamentos recentes dão conta de que 10% da energia elétrica consumida no mundo vem de usinas nucleares. Há 440 plantas funcionando em 30 países, com 50 novas em construção. Na América do Sul, somente Brasil e Argentina fazem parte desse clube restrito. A preocupação da comunidade internacional é que muitos desses complexos espalhados pelo planeta estão chegando ao limite de sua vida útil, o que aumenta o risco de acidentes. Uma usina nuclear é como uma grande chaleira: as hastes aquecidas por um processo de fissão aquecem a água de grandes piscinas. É o vapor de água desses tanques o que aciona as turbinas que geram a eletricidade. Portanto, em tese, trata-se de energia limpa. O problema reside no lixo radioativo que, mais cedo ou mais tarde, precisa ser descartado.

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Em Fukushima, estima-se que menos de 35% da área cultivável voltou a ser explorada, e não há projeção clara de quando a produção agrícola retornará aos níveis anteriores a 2011. Também não se sabe ao certo quando a usina que contaminou os campos estará totalmente livre de perigo – um novo tremor na costa do Japão, ocorrido em fevereiro, colocou as autoridades em estado de alerta. Levou apenas algumas horas para que os isótopos radioativos, liberados para aliviar a pressão das câmaras em risco de iminente explosão, contaminassem o ar e o solo da exuberante Fukushima. Ainda levará anos para que ela esteja completamente recuperada.

 

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