Democracia global chega ao ponto mais baixo em duas décadas, diz pesquisa
Só 6,6% da população mundial vive em uma democracia plena, 6 pontos a menos do que há 10 anos, e duas em cada cinco pessoas vivem sob regime autoritário

Em 2024, mais de 70 países, onde vive cerca de metade da população mundial, realizaram eleições, levando 1,65 bilhão de pessoas às urnas. Apesar disso, de acordo com o último índice de democracia da Unidade de Inteligência da revista The Economist, publicado nesta quinta-feira, 27, a democracia global atingiu o ponto mais baixo da série histórica, que começou há quase duas décadas.
Desde 2006, o órgão de pesquisa monitora 167 países e territórios e avalia o estado de suas democracias em uma escala de zero a dez, com base em cinco critérios: processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política e liberdades civis. Os países são então agrupados em quatro categorias: democracias plenas, democracias falhas, regimes híbridos e regimes autoritários.
A média global de democracia caiu para um novo recorde, de 5,17. O ponto mais baixo havia sido em 2015, com 5,55. Apenas 6,6% da população mundial agora vive em uma democracia plena, cerca de seis pontos percentuais a menos do que há dez anos. E uma grande parcela da população mundial — duas em cada cinco pessoas — vive sob um regime autoritário.
Destaques positivos e negativos
Pelo 16º ano consecutivo, a Noruega aparece como o país mais democrático do mundo, com uma pontuação de 9,81. Nova Zelândia e Suécia completam o pódio. Desde 2011, o Afeganistão tem a classificação mais baixa do ranking, com apenas 0,25 pontos. A maior mudança de 2024 veio de Bangladesh, que caiu 25 posições, e luta para reconstruir a democracia após a deposição de Sheikh Hasina, autocrata que ocupou o poder por 25 anos ininterruptos. Mas lá há motivos para otimismo. Um governo tecnocrático interino, liderado por Muhammad Yunus, ganhador do Nobel da Paz, restaurou a ordem e estabilizou a economia.
Eleições antidemocráticas
Apesar da peregrinação global em direção às urnas no ano passado, várias eleições não podem ser consideradas livres. O dia da votação no Paquistão, por exemplo, foi marcado pela violência. O político mais popular, Imran Khan, cujas próprias credenciais democráticas são questionáveis, foi preso pouco antes do pleito. A pontuação do país caiu de 3,25, em 2023, para 2,84. Na Rússia, outra eleição fraudulenta deu a Vladimir Putin um quinto mandato como presidente — o país marcou apenas 2 pontos no índice. Em outras nações — incluindo Burkina Faso, Mali e Catar — as eleições foram simplesmente canceladas.
Berço da democracia
Até mesmo a Europa — lar de nove dos dez países que pontuaram melhor no ranking — viu alguns declínios notáveis. A França foi rebaixada de uma democracia plena para uma democracia falha, reflexo da deterioração da confiança no governo depois que uma eleição antecipada pelo presidente Emmanuel Macron em junho não garantiu maioria legislativa para nenhum partido ou bloco. A instabilidade viu quatro primeiros-ministros diferentes irem e virem durante o ano. A Romênia também foi rebaixada no índice após alegações de interferência russa nas eleições, táticas ilegais nas redes sociais e violações de financiamento de campanha. O tribunal constitucional do país anulou o resultado e pediu uma nova votação. Na Ásia, a Coreia do Sul saiu da categoria de democracia plena depois que o presidente Yoon Suk Yeol declarou — e então voltou atrás às pressas — lei marcial, mergulhando o país em uma crise.
Os Estados Unidos continuam sendo uma democracia falha, com uma mudança ligeira em relação a 2023. Em 28º lugar no ranking, tem uma pontuação de 7,85. Mas pode enfrentar problemas maiores este ano: o primeiro mês do segundo mandato do presidente Donald Trump já desafiou a independência de agências públicas e viu uma enxurrada de ordens executivas de legalidade questionável.
O Brasil ficou em 57º lugar no ranking, com uma pontuação de 6,49 que o classifica como “democracia falha”