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Coronavírus, o inimigo número 1 de Trump na eleição de novembro

A reação atrasada e atrapalhada e o aumento constante de vítimas: o custo será alto para o presidente americano

Por Denise Chrispim Marin, Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 14h26 - Publicado em 20 mar 2020, 06h00

Reagir a situações de emergência nunca foi o forte de Donald Trump, e desta vez não aconteceu diferente: o presidente americano custou a engatar a primeira no combate ao novo coronavírus. Enquanto a Ásia testava populações e isolava cidades, ele insistia que nos Estados Unidos o problema estava sob controle. “Dizem que em abril, quando esquentar um pouco, ele irá embora, como em um milagre”, disparou há mais de um mês. Só sete semanas depois de o primeiro caso de contaminação ser registrado, em Seattle, na Costa Oeste, Trump acordou para a urgência de ações tanto para conter a disseminação do novo vírus quanto para estancar o derretimento das bolsas de valores. O custo do atraso foi alto neste ano eleitoral. A desaprovação a seu governo subiu 2 pontos, as intenções de voto em seu nome ficaram abaixo dos 45% e só 37% confiam no que ele diz sobre a pandemia. No momento em que Joe Biden se firma como candidato democrata à Presidência, o real adversário de Trump na eleição de 3 de novembro é o vírus.

Quando a Casa Branca decretou emergência nacional, na sexta-feira 13, os governadores de trinta dos cinquenta estados americanos já haviam tomado a iniciativa, os mortos eram quase 100 (147 na quinta-feira 19) e o número de infectados chegava a 5 000 (8 317 agora). O presidente e o Congresso puseram em marcha um pacote de estímulos de 1 trilhão de dólares (a primeira parte está contida em um projeto de lei que Trump até cogitou atrapalhar, para não dar o braço a torcer a sua inimiga democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara, mas acabou cedendo). Depois de muito pé atrás, fez ele mesmo o teste (negativo), por ter tido contato com vários infectados, inclusive os da comitiva de Jair Bolsonaro em Miami. Firme na sua realidade paralela, lembrando um colega presidente mais ao sul do continente, apregoou que sempre soube que a coisa era feia.

A epidemia, que começou na Costa Oeste, atravessou o país, está presente em todos os estados e aportou com ferocidade em Nova York e arredores. Teatros da Broadway, museus e escolas estão fechados, bem como o comércio (com a exceção de mercados e farmácias), bares e restaurantes, onde só funcionam os serviços de entrega. Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs) projetam a infecção de 49% a 65% da população dos Estados Unidos e, na hipótese mais apocalíptica, a morte de 1,7 milhão de pessoas. “A verdade é que não fazemos ideia do tamanho real da epidemia. Só sabemos que não temos capacidade para atender a todos que precisem de suporte respiratório e ventilação. O sistema de saúde está no osso”, disse a VEJA Susan Foster, professora de saúde pública da Universidade de Boston.

Também cai na conta do governo a escassez de testes para confirmar a infecção pelo novo coronavírus. Os primeiros kits apresentaram defeito. Por ordens de cima, os CDCs recusaram os testes da Organização Mundial da Saúde, e a autorização de novos fornecedores custou a sair. Em meados de março, nos Estados Unidos, apenas 125 pessoas em cada milhão estavam sendo testadas — na Coreia do Sul, modelo de prevenção, eram mais de 5  000 testes por milhão. Com essa questão ainda por resolver, Trump proibiu o pouso de voos vindos de países da Europa e de outras regiões, fechou a fronteira com o Canadá e considera fazer o mesmo com a do México. Na quarta-feira 18, o governo ordenou que navios-hospital militares se dirigissem a Nova York e à Costa Oeste e lançou mão de uma lei especial para obrigar empresas a fabricar respiradores.

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A perspectiva de recessão e de 25 milhões de desempregados — que o FED, o banco central americano, tentou combater baixando os juros a quase zero — abala, claro, a chance de Trump se reeleger em novembro. As últimas três primárias deram a Joe Biden uma larga dianteira sobre Bernie Sanders — situação que o debate de domingo 15, em que os dois se cumprimentaram com os cotovelos, em nada mudou. O destrambelhamento de Trump foi o tema central do debate, solidificando a possibilidade de a disseminação do novo coronavírus acabar agindo a favor de Biden. Trump rebateu orientando o Tesouro a enviar dois cheques a cada americano, em abril e maio (a medida ainda precisa passar pelo Congresso). Tem presidente mais bonzinho?

Publicado em VEJA de 25 de março de 2020, edição nº 2679

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