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Conversas entre Irã e chanceleres europeus não têm avanços, mas abrem janela de diálogo

Diplomatas comemoram disposição de Teerã em seguir negociando, colocando 'questões amplas' à mesa, e voltam a condenar programa nuclear iraniano

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 jun 2025, 18h00

O encontro entre o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, e seus homólogos da França, Reino Unido, Alemanha e União Europeia, nesta sexta-feira, 20, abriu uma janela para mais negociações, mas sem indícios de qualquer avanço concreto, após a crise em torno do programa nuclear do Irã ter desaguado numa guerra com os ataques de Israel em 13 de junho.

Os diplomatas europeus deixaram um hotel em Genebra, onde ocorreram as conversas desta sexta, cerca de três horas e meia após a chegada de Araghchi. Foi o primeiro encontro presencial entre autoridades ocidentais e iranianas desde o início do conflito.

Em uma declaração conjunta, emitida após o término das negociações, os três países europeus e a UE afirmaram que “discutiram caminhos para uma solução negociada para o programa nuclear iraniano”. Eles reiteraram suas preocupações com a “expansão” do programa nuclear, acrescentando que este “não tem nenhum propósito civil crível”.

“O bom resultado de hoje é que saímos da sala com a impressão de que o lado iraniano está fundamentalmente pronto para continuar conversando sobre todas as questões importantes”, disse o ministro das Relações Exteriores alemão, Johann Wadephul, acrescentando que foram “conversas muito sérias”.

O chanceler britânico, David Lammy, afirmou que a delegação europeia espera continuar as tratativas, “e instamos o Irã a prosseguir com as negociações com os Estados Unidos”, referindo-se ao acordo nuclear que se discutia entre Washington e Teerã antes do início da guerra, com o intuito de podar as ambições nucleares em troca de alívio de sanções. Ele acrescentou que “fomos claros: o Irã não pode ter uma arma nuclear”.

O diplomata britânico viajou a Genebra após se reunir em Washington com o secretário de Estado americano, Marco Rubio, e o enviado do presidente Donald Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff. Em uma declaração separada, ele enfatizou que o objetivo final da Europa e dos Estados Unidos é que a nação islâmica interrompa todo o enriquecimento de urânio. Ele afirmou que “pode haver discussões sobre as necessidades energéticas do Irã”, mas acrescentou que “o enriquecimento zero é o ponto de partida”.

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“Operações militares podem desacelerar o programa nuclear do Irã, mas de forma alguma podem eliminá-lo”, ressaltou o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Noël Barrot. “Sabemos bem — depois de ver o que aconteceu no Afeganistão, no Iraque e na Líbia — quão ilusório e perigoso é querer impor uma mudança de regime de fora (para dentro).”

Barrot também disse que as nações europeias “convidaram o ministro iraniano a considerar negociações com todas as partes, incluindo os Estados Unidos, e sem esperar o fim dos ataques”, e explicou que Araghchi concordou em “colocar todas as questões na mesa, incluindo algumas que não estavam lá antes”, mostrando “disposição em continuar a conversa” e pedindo que os europeus ajudem a facilitar negociações, “inclusive com os Estados Unidos”.

A chefe de política externa da União Europeia, Kaja Kallas, afirmou ainda que “concordamos em discutir a questão nuclear, mas também questões mais amplas que temos, e manter as discussões abertas.”

Abertura – até certo ponto

A repórteres em Genebra, Araghchi expressou apoio semelhante à continuação das discussões e disposição para “se reunir novamente em um futuro próximo”. Porém, usou o momento para denunciar os ataques de Israel contra instalações nucleares no Irã e expressou “grave preocupação” com o que chamou de “não condenação” por parte das nações europeias.

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This handout picture provided by the Iranian foreign ministry shows Iran's Foreign Minister Abbas Araghchi meeting with ambassadors of foreign countries in Tehran on June 15, 2025. Israel and Iran traded heavy fire for a third straight day on June 15, with mounting casualties and expanding targets marking a sharp escalation in hostilities between the longtime foes. (Photo by Iran's Ministry of Foreign Affairs / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, durante reunião com chanceleres da Europa para discutir retorno de negociações com EUA sobre acordo nuclear. 17/10/2024 – (Ministério das Relações Exteriores do Irã/AFP)

Mais cedo nesta sexta, o chanceler iraniano, Abbas Araqchi havia afirmado que o país não voltará à mesa de negociações com os Estados Unidos enquanto Israel continuar lançando ataques, exigindo um cessar-fogo. Não está claro como isso afetará o encontro com os europeus.

“Os Estados Unidos são parte desta agressão”, disse ele a repórteres em Genebra. “Não podemos negociar a paz com um parceiro cúmplice de guerra.”

Diante do Conselho de Direitos Humanos, o ministro iraniano também acusou Israel de cometer crimes de guerra com “ataques não provocados” e disse que a ação militar corrói todo o sistema de direito internacional baseado na ONU. O embaixador israelense nas Nações Unidas, enquanto isso, disparou que o órgão virou palanque para Teerã – segundo ele, conceder a palavra a Araqchi minou a credibilidade do conselho e “constitui uma traição flagrante às muitas vítimas deste regime em todo o mundo”.

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Acordo nuclear

Em 2015, um acordo abrangente foi firmado pelos Estados Unidos e outras nações com o Irã, com o objetivo de podar as ambições nucleares do regime dos aiatolás. Pelo pacto, o país estava autorizado a manter até 300 quilos de urânio enriquecido a no máximo 3,67% de pureza, limite adequado para fins civis, como geração de energia e pesquisa, mas muito abaixo dos 90% necessários para a fabricação de armas nucleares.

Na semana passada, porém, a Agência Internacional de Energia Atômica, denunciou pela primeira vez que a nação islâmica violou o tratado de não-proliferação do qual é signatária, três meses após divulgar um relatório alarmante, segundo o qual o Irã já acumula cerca de 275 quilos de urânio enriquecido a 60%.

Esse material poderia ser convertido em grau militar em apenas uma semana e seria suficiente para produzir até meia dúzia de ogivas nucleares — embora a construção de uma bomba funcional, a toque de caixa, deva levar ainda pelo menos um ano. (Teerã diz que não é nada disso; o programa nuclear teria apenas fins energéticos.)

Em seu segundo mandato, Trump voltou a apostar na diplomacia, mas uma nova série de negociações entre o Irã e os Estados Unidos fracassou quando Israel lançou a chamada Operação Leão em Ascensão, que mira instalações nucleares e capacidades balísticas do Irã, em 13 de junho. O presidente americano, agora, tem alternado entre ameaçar Teerã e instar o país a voltar à mesa de negociações. Seu enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff, conversou com Araqchi diversas vezes desde a semana passada, segundo a agência de notícias.

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Trocas de disparos

Enquanto isso, os ataques continuam em ambos os lados. Nesta sexta-feira, exército israelense afirmou que suas aeronaves destruíram mísseis terra-ar no sul do Irã, além de matar um grupo de comandantes militares iranianos responsáveis ​​por lançamentos de mísseis. De acordo com as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês), os ataques impediram o lançamento de mísseis programado para o final da noite.

O Irã disparou uma rara salva de mísseis balísticos no meio da tarde contra Israel, acionando sirenes de ataque aéreo em todo o país. Pelo menos um dos mísseis escapou das defesas aéreas israelenses, atingindo uma área próxima às docas de Haifa, ferindo pelo menos 45 pessoas, 19 das quais foram hospitalizadas. Um míssil iraniano também atingiu a cidade de Bersheba, no sul do país, onde não houve feridos.

Nesta sexta, o chefe militar israelense afirmou que o país deve se preparar para uma “guerra prolongada” e para “os dias difíceis” que estão por vir. Desde que Israel começou a realizar ataques aéreos ao Irã na sexta-feira passada, alegando que seu arqui-inimigo estava prestes a desenvolver armas nucleares, 639 pessoas morreram no país, de acordo com a Agência de Notícias de Ativistas de Direitos Humanos, com sede nos Estados Unidos. Entre as vítimas estão o alto escalão militar e cientistas nucleares.

Tel Aviv, por sua vez, afirmou que pelo menos duas dúzias de civis israelenses foram mortos por mísseis iranianos.

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Às tensões do conflito em si, soma-se a ameaça do presidente americano, Donald Trump, que afirmou na quinta-feira 19 que decidiria “se aceitaria ou não” o envolvimento militar direto dos Estados Unidos, em apoio a Israel, nas próximas duas semanas.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que a expansão do conflito entre Israel e o Irã pode “acender um fogo que ninguém poderá controlar” e apelou a ambas partes em conflito para “darem uma chance à paz”, referenciando a clássica canção antiguerra de John Lennon de 1969.

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