Confirmação de juíza conservadora no Supremo pode prejudicar republicanos
Maioria da legenda de Donald Trump na Câmara Alta está ameaçada e decisão de apoiar indicação de Amy Coney Barrett pode aumentar vantagem democrata
O Partido Republicano comemorou uma vitória na noite desta segunda-feira 26, com a confirmação da nomeação da juíza conservadora Amy Coney Barrett para a Suprema Corte. O feito só foi possível graças à maioria republicana no Senado, que já dura quatro anos. A posição confortável da legenda, porém, parece mais ameaçada do que nunca.
Em exatamente uma semana, os americanos irão às urnas para escolher seu próximo presidente e definir a composição do Senado. Estão em disputa 35 assentos da Casa – desses, 23 são atualmente de senadores conservadores e correm o risco de serem abocanhados pelos democratas.
Basta que o Partido Democrata consiga roubar cinco cadeiras para inverter o jogo e garantir sua dominância no Senado. Para alguns analistas políticos, a confirmação de Barrett na noite desta segunda pode ser o elemento que faltava para consolidar tal cenário.
“Senadores republicanos que votaram de forma favorável à confirmação da juíza Amy Coney Barrett podem se ver prejudicados nas eleições, principalmente nos estados onde os democratas estão crescendo”, diz Capri Cafaro, professora de política americana da Universidade Americana de Washington e ex-senadora pelo estado de Ohio pelo Partido Democrata. “Esta votação foi extremamente controversa”.
Barrett é conhecida por suas posições conservadoras em temas como aborto, liberação do porte de armas, liberdade de expressão e direitos de imigrantes. A juíza católica foi criticada no passado por deixar que sua fé interferisse em suas decisões como magistrada.
Amy ocupará o posto deixado vago após o falecimento da juíza progressista Ruth Bader Ginsburg. Com isso, os conservadores consolidarão sua maioria absoluta na Suprema Corte, com seis magistrados contra três liberais.
A indicação de Amy Coney Barrett foi anunciada pelo presidente Donald Trump menos de 10 dias após a morte de Ginsburg. Às vésperas das eleições, o republicano buscou garantir seu poder de escolha antes de qualquer eventual mudança de governo. A pressa com que a nomeação foi definida, porém, despertou críticas entre os democratas.
A oposição acusou os republicanos de hipocrisia, uma vez que o Senado bloqueou uma nomeação proposta pelo ex-presidente Barack Obama à Corte em 2016, alegando que se tratava de um ano eleitoral.
Na noite desta segunda, o presidente do Senado e líder do Partido Republicano na Casa, Mitch McConnell, afirmou que a maioria conservadora na Casa dá à sua legenda o direito de tomar decisões como essas. “A razão pela qual fomos capazes de fazer o que fizemos em 2016, 2018 e 2020”, disse McConnell, referindo-se às três últimas batalhas pela Suprema Corte, “é porque tínhamos a maioria”.
A posição confortável dos republicanos, porém, está ameaçada pelas eleições acirradas em pelo menos sete estados americanos. Os democratas estão em vantagem e têm chances reais de arrebatar postos no Senado em Iowa, Montana, Carolina do Norte, Geórgia e no Maine.
“As chances dos democratas de retomar o controle do Senado aumentaram muito à medida que a campanha avançava”, avalia Richard Arenberg, analista de política americana e professor da Universidade Brown, em Rhode Island.