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Como sistema antiterremoto de Taiwan poderia evitar desastres como o do RS

Chegou a 100 o número de mortos em decorrência das chuvas e enchentes no estado gaúcho, cenário que poderia ter sido parcialmente prevenido

Por Amanda Péchy, de Taipei
Atualizado em 8 Maio 2024, 14h49 - Publicado em 8 Maio 2024, 13h28

Na primeira semana de abril, um poderoso terremoto atingiu Taiwan, ilha pouco maior que o estado de Alagoas aninhada no Oceano Pacífico. Com magnitude de 7,4, foi o tremor mais forte a chacoalhar o território asiático em 25 anos, mas provou que os taiwaneses estavam bem preparados para uma catástrofe sísmica. Foram dez mortos e cerca de mil feridos, a maioria sem gravidade – qualquer vida perdida é uma tragédia, mas poderia ter sido muito pior. Quase exatamente um mês depois, chuvas intensas atingiram o Rio Grande do Sul. O desastre no estado brasileiro provocou cenas apocalípticas, com enchentes que afetaram quase 1,5 milhões de pessoas. Nesta quarta-feira, 8, chegou a 100 o número de mortos em decorrência das chuvas, além de 372 feridos e 128 desaparecidos.

São dois eventos catastróficos muito diferentes, mas autoridades taiwanesas podem nos ensinar muito a respeito de sistemas bem-sucedidos de prevenção e resposta a desastres. Inclusive, elas vêm aplicando seus modelos em alguns países aliados – aquele punhado que reconhece a ilha como um país independente, e não como parte da China. Entre eles, estão a Guatemala e Belize, ambos na América Central, que também lidam frequentemente com inundações.

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Sistema antiterremoto

Não é por acaso que Taiwan driblou o que poderia ter sido uma catástrofe após o sismo de magnitude 7,4 no mês passado. Em primeiro lugar, a ilha utiliza um método robusto de alerta precoce. Embora terremotos não possam ser previstos, o território insular possui um sistema detecta tremores de solo que ocorrem na região do epicentro. Imediatamente, envia um alerta que viaja mais rápido do que a energia sísmica. O governo instalou estações sismológicas em toda a ilha para melhorar a detecção, além de ter intensificado a educação pública sobre segurança sísmica. No fatídico 3 de abril, isso provavelmente ganhou segundos cruciais para a população se proteger.

Além disso, os taiwaneses possuem leis de construção modernas, voltadas para abalos sísmicos. Após um devastador terremoto de magnitude 7,6 em 1999, que tomou a vida de 2,4 mil pessoas, a ilha melhorou significativamente grande parte da sua infraestrutura, além de revisar códigos de construção e aplicá-los com mais vigor. Os edifícios mais novos foram construídos com padrão ouro, enquanto os mais antigos foram reforçados.

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O que isso tem a ver com o Rio Grande do Sul?

O governo gaúcho foi criticado por não ter implementado mais medidas de segurança e prevenção após as chuvas que assolaram o Rio Grande do Sul em setembro e novembro do ano passado. Pode não ter havido tempo o suficiente para fazê-lo, mas o sistema antiterremoto taiwanês pode servir de inspiração para, por exemplo, a instalação de estações climáticas para detecção de chuvas, a construção de infraestruturas mais resilientes e a educação da população para lidar com enchentes.

Fora que Taiwan já exporta seus modelos inteligentes. Na Guatemala, o “Projeto de Sistema de Alerta Precoce e Gestão de Desastres” tem como objetivo evitar catástrofes ligadas a inundações no rio Cahabón, reduzindo em 30% o tempo de resposta das autoridades no departamento de Alta Verapaz. O plano inclui:

  1. Criar uma plataforma de alerta precoce para desastres contra enchentes e deslizamentos de terra;
  2. Estabelecer quatro comunidades de prevenção de desastres;
  3. Melhorar o sistema de monitoramento ambiental.

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“A cooperação com a Guatemala é ambiciosa, porque também prevê a prevenção de outros tipos de catástrofes, incluindo a redução de danos por terremotos e furacões”, disse a VEJA Julie Wu, chefe do departamento de assistência humanitária do Fundo Internacional de Cooperação e Desenvolvimento de Taiwan.

Em Belize, Taiwan anunciou em 2022 um projeto de US$ 1,6 milhões, chamado “Melhoria da Capacidade de Alerta de Inundações para a Bacia do Rio Belize”, parte de um programa mais amplo entre os aliados para prevenir desastres e ampliar a resiliência das cidades na nação centro-americana. O objetivo do plano é ampliar uma colaboração anterior, estabelecida em 2019, que resultou na melhoria da drenagem no distrito de Cayo, a produção de mapas atualizados de potencial de inundação, bem como a instalação de quatro estações hidrometeorológicas para obter dados sobre chuvas em tempo real.

Por enquanto, porém, uma cooperação Brasil-Taiwan ainda é muito difícil, se não impossível.

“A implementação de sistemas de prevenção e resposta a desastres é muito complexa, e requer o envolvimento de autoridades tanto a nível regional quanto nacional. Ou seja, por enquanto, só conseguimos realizar projetos do tipo em países aliados, que têm relações diplomáticas com Taiwan”, explicou Wu.

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São apenas 11 as nações que tem laços oficiais com a ilha. Mas Wu ressalta: “Isso não significa que não podemos servir de inspiração para o resto do mundo.”

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