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Como as reformas do papa Francisco transformaram a Igreja Católica

Ele marcou um período de relevância histórica do catolicismo – sobretudo para uma instituição cujos movimentos são lentíssimos, atrelados a dogmas

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 21 abr 2025, 05h28

O papa Francisco foi aclamado por trazer um sopro de renovação à Igreja Católica. Além de ter ocupado com figuras que refletem seu estilo pastoral e prioridades 111 das 141 vagas para cardeais responsáveis por eleger o próximo papa em um conclave, seu legado ganha continuidade pelas relevantes reformas que promoveu, sobretudo para uma instituição cujos movimentos são lentíssimos, atrelados a dogmas.

Foram várias as mudanças na Igreja Católica para mantê-la viva e relevante, especialmente na administração do Vaticano e na forma como o clero se relaciona com o mundo. As reformas administrativas implementadas por Francisco procuraram tornar a milenar instituição mais eficiente e transparente, enquanto ele, um papa de seu tempo, redirecionou a religião para assuntos de importância global.

Embora não se tratem de ações revolucionárias, são passos além dos tomados por seus antecessores.

Ele chacoalhou o Vaticano

Conselho de Cardeais Consultores: uma das primeiras ações de Francisco foi formar um conselho de cardeais para aconselhá-lo. Esta medida representou uma mudança significativa na forma como as decisões eram tomadas, indicando uma disposição para consultar outros líderes da Igreja, em vez de centralizar o poder nas mãos do papa.

Cerco à corrupção: o pontífice lançou uma investigação sobre o Banco do Vaticano, que há muito tempo era alvo de suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro, em um compromisso com a transparência financeira e o combate à corrupção dentro da Igreja.

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Simplificação da Cúria: Francisco realizou esforços para modernizar e simplificar a administração do Vaticano, conhecida como Cúria Romana, aumentando a eficiência da burocrática instituição.

A vez delas: o papa nomeou a freira Nathalie Becquart para um cargo de destaque no Dicastério para os Bispos, dando um passo importante para incluir mulheres em posições de liderança na Igreja, embora ainda haja um longo caminho a percorrer nessa área. Também liderou o primeiro Sínodo dos Bispos, espécie de órgão consultivo do pontífice com o objetivo de traçar os rumos da Igreja, a permitir o voto de mulheres e de leigos.

Abusos do clero: o pontífice mexeu num vespeiro milenar ao estabelecer, em 2019, normas exigindo que a Igreja desse ouvidos às pessoas que acusam religiosos de abuso sexual. Essas normas garantem que as vítimas sejam “acolhidas, ouvidas e apoiados”, em vez do Vaticano defender imediatamente os clérigos. Também ficou conhecido por destituir o cardeal Theodore McCarrick, que enfrentava várias acusações de abuso sexual contra menores e adultos. McCarrick negou as acusações. (Nem tudo são flores, claro: Francisco admitiu ue errou ao defender um bispo chileno, Juan Barros, que foi acusado de encobrir casos de abuso sexual por parte de padres. Embora o bispo tenha negado as alegações, o papa aceitou sua renúncia e afirmou: “Eu fazia parte do problema”.)

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Um papa de seu tempo

Crise climática: Francisco dedicou sua segunda encíclica, “Laudato si'”, à crise climática, colocando as questões ambientais no topo da agenda e seu desejo de que a Igreja desempenhe um papel ativo na proteção do planeta.

Diálogo Interreligioso: o papa viajou para diversos países de maioria muçulmana, buscando o diálogo e a cooperação com outras religiões. Sua abertura para trabalhar com líderes de outras tradições, como o Arcebispo de Canterbury e o Grande Imã de Al-Azhar, simbolizou a promoção da unidade e o respeito mútuo entre as diferentes crenças.

Linguagem acessível: em 2017, divulgou um motu proprio, documento com força para alterar o Código de Direito Canônico, conjunto de normas jurídicas que regulam a organização da Igreja católica, pondo o latim na berlinda ao desestimular as missas feitas no velho idioma. A canetada contrariou desejo militante dos conservadores, alinhando seu papado com posturas mais progressistas.

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Segredos revelados: o pontífice ordenou a abertura do Arquivo Secreto do Vaticano sobre a Segunda Guerra Mundial, pretendendo demonstrar mais transparência e a honestidade sobre o passado da Igreja, atendendo a demandas crescentes mundo afora. Os documentos revelaram, entre outras coisas, que o papa Pio XII sabia da existência de campos de concentração nazistas e que a Igreja Católica da Alemanha enviou informações detalhadas sobre os crimes cometidos contra os judeus ao Vaticano.

Acolhimento de temas polêmicos: Francisco, embora nunca tenha abandonado a doutrina, se mostrou aberto a abordar uma série de assuntos tabu, o que o distingue de seus antecessores. Ele se dispôs a debater abertamente temas como a homossexualidade, divórcio e sexo fora do casamento, permitindo inclusive a bênção a casais gays (mas não, como deixou claro, o matrimônio). Sobretudo, expressou a importância de distinguir entre os ensinamentos da Bíblia e a prática pastoral, sugerindo que a Igreja precisa rever sua postura sobre esses assuntos. A abertura para revisitar, e até mesmo revisar, dogmas é um dos pontos mais significativos de seu pontificado.

Apesar das reformas relevantes, Francisco sempre esteve bem ciente do ritmo com que o mundo eclesiástico gira. Certa vez, a propósito, lembrou uma emblemática frase do arcebispo belga Frédéric François Xavier de Mérode (1820-1874), conselheiro do papa Pio IX: “Fazer reformas em Roma é como limpar a esfinge do Egito com uma escova de dentes”. Poucas pessoas sabiam disso tão bem quanto Francisco.

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