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Com escassez de dinheiro, venezuelanos pagam para comprar notas

O Banco Central da Venezuela emite dinheiro a um ritmo menor do que o da inflação e da oferta de moeda

Por Da redação
29 ago 2017, 16h46

Em uma lojinha em Caracas, um homem oferece dinheiro físico em troca de uma comissão – 10% do montante que entregará em notas de bolívares, repassados por uma transferência eletrônica, processo conhecido como “antecipação de caixa”. Assim como em 2016, a escassez de moeda voltou a afligir os venezuelanos.

Assim como o desconfiado negociante em seu pequeno posto de bugigangas, dezenas de comerciantes informais ofereceram as antecipações com cartão de débito, ou crédito, por causa das restrições para sacar nos caixas eletrônicos, ou na boca do caixa.

Johnny González, mensageiro de 27 anos, precisa fazer essa transação para comprar semanalmente fraldas para sua filha com os revendedores. Em geral, eles aceitam apenas dinheiro. Cada pacote custa 50.000 bolívares (18 dólares na taxa oficial, ou 3, na do mercado negro), mas diariamente é permitido sacar apenas 10.000 no caixa, ou 30.000 no banco. “Não dá para nada, e tenho que fazer antecipações de caixa. Tomam entre 15% e 17%”, disse o venezuelano à agência France Press.

Sem contrato fixo, González ganha cerca de 150.000 bolívares ao mês, que são devorados pela inflação mais alta do mundo. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), neste ano, ela vai chegar a 720% e, em 2018, a 2.000%.

Avanços proibidos

Além da inflação, a falta de moeda acontece por um desequilíbrio entre o dinheiro circulante e a liquidez monetária, indicou o diretor da consultoria Econométrica, Henkel García. “O Banco Central da Venezuela (BCV) está emitindo dinheiro a um ritmo menor do que o da inflação e da oferta de moeda, que cresceu em um ritmo muito mais acelerado do que a economia real”, comentou o especialista.

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De acordo com o BCV, as moedas e notas representam 7,5% da liquidez monetária (39,5 bilhões de bolívares), quando, segundo García, é normal que essa relação seja de 10% a 12%. “Essa é a razão pela qual há escassez, porque a quantidade de dinheiro não anda ao lado do crescimento da oferta de moeda”, explicou García.

Diante do déficit de notas, a Superintendência das Instituições do Setor Bancário (Sudeban) proibiu as antecipações de caixa, inclusive em estabelecimentos comerciais formais, onde o serviço era oferecido gratuitamente como forma de reduzir os custos das transações com dinheiro. Usuários denunciaram que funcionários dos bancos privilegiam a entrega de dinheiro a negociantes informais, que revendem os bolívares.

Pensões a prazo

Por motivos parecidos, a Venezuela enfrentou uma crise de capital circulante no fim de 2016. O problema se agravou quando, de um dia para o outro, o presidente Nicolás Maduro tirou de circulação a nota de 100 bolívares – a de maior valor, à época -, sem que tivesse chegado ao país uma nova emissão de moeda com valores mais altos.

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O desespero das pessoas para depositar essas notas e não perder o dinheiro, somado aos atrasos para a entrada da nova moeda em vigor, provou distúrbios que deixaram quatro mortos. Além disso, centenas de lojas foram saqueadas.

Apesar de as novas divisas terem chegado no começo desse ano, Maduro prorrogou nove vezes a vigência da nota de 100, que hoje representa 26,4% do valor nominal do efetivo circulante. A nota mais alta atualmente é a de 20.000 bolívares, que compra apenas 30 ovos. Mas ela é rara.

“O Banco Central não nos envia dinheiro o bastante, não cobre as necessidades, tampouco as novas notas chegaram em quantidade suficiente”, disse à France Press a subgerente de uma agência financeira, que pediu para não ser identificada. Em alguns bancos, até mesmo os pensionistas recebem seu pagamento em parcelas. “Esse mês fui duas vezes”, relatou a subgerente.

(com AFP)

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