Chineses boicotam marcas que tentam pressionar o país
Roupas e calçados americanos e europeus perdem venda no e-commerce ao impor restrições ao algodão da província de Xinjiang
Xinjiang é chamada de região autônoma da China, mas, na prática, ela tem pouca autonomia, podendo legislar sobre alguns assuntos e costumes locais, mas nada que se oponha frontalmente ao governo central. A província, que fica no noroeste do país, é conhecida basicamente por abrigar uma etnia muçulmana, os uigures, estimada em mais de 8 milhões de habitantes, e por ser a maior produtora de algodão da China. Após os Estados Unidos, a União Europeia e as Nações Unidas alegarem que o algodão de Xinjiang seria processado por uigures em campos de trabalho forçado, marcas famosas do esporte e da moda publicaram declarações de que boicotariam a matéria-prima vinda daquela região. Elas não esperavam, entretanto, a reação dos consumidores e do comércio eletrônico chineses.
Não se sabe se a represália está sendo espontânea ou coordenada pelo partido comunista chinês, mas o fato é que companhias famosas como Nike, Adidas e a sueca H&M viram seus produtos serem retirados da venda on-line, além de receberem manifestações agressivas de consumidores. Tênis e roupas foram queimados em vídeos e as redes sociais começaram a pulular de cometários contra marcas que até então faturavam milhões de dólares no pujante mercado chinês. A H&M até se viu forçada a fechar 50 lojas temendo protestos violentos às suas portas, e celebridades chinesas que têm contratos com multinacionais como Converse anunciaram que cancelariam os acordos. Ao todo, pelos menos 11 marcas estão à mercê do chamado “boicote reverso”, que parece não ter prazo para terminar. O impacto afetou até o valor das empresas em bolsa.
A China nega as acusações de abuso contra a minoria uigure,. Já a Organização das Nações Unidas negocia uma visita à região para checar as condições dos camponeses. A comissária encarregada dos Direitos Humanos, a ex-presidente do Chile Michelle Bachelet, afirmou que existem fortes indícios de escravização na colheita e processamento de algodão, além de detenção, violência e maus-tratos contra milhares de pessoas. Bachelet quer que os representantes da ONU façam uma visita livre, diferente das monitoradas que aconteceram no passado, nas quais o governo teria maquiado as reais condições em que a força de trabalho é empregada.
Cabe agora saber se as marcas boicotadas manterão sua posição quanto à decisão de barrar todo o algodão vindo de Xinjiang e como o e-commerce, tanto da parte dos vendedores on-line quanto da parte dos consumidores, se comportará daqui para frente. Não há confirmação de que a China aceitará a visita nos termos da ONU.
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