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China pode ter 1,5 milhão de mortes se abandonar política de ‘Covid zero’

Abandono de medidas restritivas sem salvaguardas devidas, como aumento de vacinação e acesso a tratamentos, poder ter resultado devastador, segundo estudo

Por Da Redação Atualizado em 10 Maio 2022, 23h42 - Publicado em 10 Maio 2022, 16h25

A China corre o risco de registrar mais de 1,5 milhão de mortes por Covid-19 se abandonar sua política de “Covid zero” sem quaisquer salvaguardas, como aumento de vacinação e acesso a tratamentos, de acordo com uma projeção feita por cientistas chineses e americanos e publicada nesta terça-feira, 10.

O alerta, feito pela Universidade Fudan, em Xangai,  segue vários relatórios publicados por autoridades de saúde chinesas, que disseram que a abordagem de restrição máxima continua sendo essencial para derrotar a pandemia, apesar dos impactos sociais e econômicos causados pelas medidas sanitárias.

“O nível de imunidade induzido pela campanha de vacinação de março de 2022 seria insuficiente para evitar uma onda Omicron”, escreveram os autores do estudo. As estimativas são de cientistas da Universidade Fudan, na China, apoiados por pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estado Unidos.

Os pesquisadores prevêem que o abandono da política de “zero Covid” poderia gerar pico na demanda por terapia intensiva 15 vezes maior que a capacidade dos hospitais chineses, causando cerca de 1,5 milhão de mortes, com base em dados mundiais coletados sobre a gravidade da variante Ômicron.

No entanto, o impacto pode ser bastante mitigado concentrando-se em outras medidas, como a vacinação dos idosos e a ampliação do acesso à medicamentos antivirais. Segundo os especialistas, o número de mortos poderia ser muito reduzido se houvesse um foco na vacinação. No momento, apenas cerca de 50% dos maiores de 80 anos na China são vacinados.

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“A disponibilidade de vacinas e medicamentos antivirais oferece uma oportunidade de se afastar do COVID zero. Não consigo imaginar o que há para esperar agora”, disse Ben Cowling, epidemiologista da Universidade de Hong Kong familiarizado com o estudo, segundo a agência de notícias Reuters. 

Na contramão do movimento de reabertura e flexibilização que atualmente ocorre na maior parte do mundo, a China segue mantendo sua estratégia de endurecer o isolamento da população. Apesar do número de mortes por Covid permanecer relativamente baixo, o governo chinês aplicou lockdowns totais ou parciais em pelo menos 27 cidades em todo o país, restrições que estão afetando cerca de 165 milhões de pessoas. Ao todo, a China continental soma 1,1 milhão de casos, incluindo 5.191 mortes.

As restrições severas estão se refletindo em impactos na economia da China. Em março, o desemprego atingiu o maior índice de 21 meses. Muitas empresas foram forçadas a suspender as operações em vários locais, incluindo as montadoras Volkswagen e Tesla. A moeda chinesa, o yuan, enfraqueceu rapidamente no final de abril, caindo para o nível mais baixo desde novembro de 2020.

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Xangai, que no último surto da doença relatou mais de 10.000 novos casos por dia, permanece fechada há quase seis semanas, causando a insatisfação de quase 25 milhões moradores confinados em suas próprias casas. Paralelamente, Pequim, outra cidade que impulsiona grande parte da economia do país, fechou escolas, vários grandes hospitais e locais de entretenimento em seus distritos mais populosos.

Para além da China, a política de restrição máxima tem gerado receio internacional de uma possível retração da economia que afete a cadeias de produção em vários países. Contudo, as autoridades de saúde do governo da China estão longe de abrir da política atual, e afirmam que o lockdown em Xangai é inevitável.

“A disseminação do vírus para outros lugares pode ter consequências inimaginavelmente graves”, disse uma equipe de médicos de Xangai à revista médica The Lancet. 

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O consultor sênior de saúde do governo Liang Wannian disse que a China está tentando ganhar tempo com a estratégia de erradicação do vírus. “A dinâmica de COVID-zero adotadas ganharam uma janela de tempo preciosa para o futuro”, disse, acrescentando que o país deve “aproveitar a oportunidade” para desenvolver mais medicamentos e vacinas.

Os casos na China começaram a aumentar em março, logo se transformando na pior crise sanitária que o país viu desde o surto inicial em Wuhan, no início de 2020.

Ao longo da pandemia, a China manteve uma estratégia de “Covid zero”, aplicando testes em massa, quarentenas e fechamento de fronteiras para conter o vírus. Mas a chegada da variante Ômicron, altamente infecciosa, fez o país mais populoso do mundo retornar à situação de calamidade, com o vírus se espalhando novamente por diferentes cidades e províncias.

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