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China lança sua primeira sonda a Marte

Missão oferece novo prestígio a Pequim frente a Washington e adiciona mais tensão à crescente rivalidade entre as duas potências mundiais

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 23 jul 2020, 09h57 - Publicado em 23 jul 2020, 09h08

Em plena rivalidade diplomática e tecnológica com os Estados Unidos, a China lançou com sucesso, nesta quinta-feira, 23, sua primeira sonda independente para Marte. A missão espera usar um robô para estudar o solo do Planeta Vermelho.

A sonda foi lançada por um foguete Longa Marcha 5, que decolou da base de Wenchang, na ilha chinesa de Hainan (sul). Sob uma temperatura de 34ºC, os engenheiros e funcionários de uniforme azul celebraram o lançamento com palmas. A agência especial confirmou a empreitada bem-sucedida meia hora depois.

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A sonda deve fazer em sete meses o longo trajeto Terra-Marte, chegando em fevereiro de 2021 ao campo gravitacional marciano. A distância varia, mas o mínimo é de 55 milhões de quilômetros, ou seja, 1.400 vezes a volta ao mundo.

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A missão Tianwen-1 (“Perguntas ao céu-1”) leva uma sonda composta por três elementos: um orbitador de observação, que girará em torno do Planeta Vermelho, um módulo de aterrissagem e um robô por controle remoto, encarregado de analisar o solo marciano.

“Isso é, claramente, um marco para a China. É a primeira vez que se aventuram no sistema solar”, disse o astrônomo Jonathan Mcdowell, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica, nos Estados Unidos.

Nova corrida espacial

Esta missão oferece um novo prestígio a Pequim frente a Washington, que acaba de ordenar o fechamento do consulado chinês em Houston, o último episódio da intensa rivalidade entre os dois gigantes do Pacífico. Tianwen-1 é “similar às missões americanas Viking dos anos 1975-1976”, em termos de “escala e ambição”, declarou McDowell.

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O gigante asiático não é o único que quer enviar uma sonda a Marte. Os Emirados Árabes Unidos lançaram sua “Esperança” na segunda-feira, e os Estados Unidos enviarão “Marte 2020” em 30 de julho. Todos tentam se beneficiar da atual distância reduzida entre a Terra e o Planeta Vermelho e a exploração espacial se torna fonte fonte de orgulho nacional.

Longe da competição espacial feroz entre Estados Unidos e União Soviética durante a Guerra Fria, o país asiático recupera terreno. Enviou seu primeiro homem ao espaço em 2003, fez pequenos robôs (os “coelhos de jade”) pousarem na Lua em 2013 e em 2019 e acaba de terminar, em junho, a constelação de satélites de seu sistema de navegação Beidu, rival do GPS americano.

Em janeiro de 2019, a China se tornou o primeiro país a aterrissar uma sonda no polo sul da Lua, despertando reações quase que imediatas na política espacial mundial, principalmente dos Estados Unidos.

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Nos últimos 50 anos, o mundo viveu na era da Apollo 11, a missão americana que levou os primeiros homens ao satélite da Terra e que completa meio século neste sábado, 20. Mas, desde que Pequim chegou ao lado da Lua em que nenhum outro ser humano havia pisado, o jogo virou.

Em resposta à conquista do país asiático, o governo americano definiu em março do ano passado os novos rumos de sua política no espaço e deixou claro que não pretende deixar o caminho livre para chineses ou russos. “Não se enganem, estamos em uma corrida espacial hoje, assim como estávamos na década de 1960, e os riscos agora são ainda maiores”, disse na época o vice-presidente Mike Pence.

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Apesar da largada tardia na corrida pelo espaço e dos altos investimentos feitos pelos Estados Unidos em seus programas, os chineses parecem estar liderando a nova maratona. O país realizou mais lançamentos para o espaço do que qualquer outra nação em 2018.

O mundo não está preocupado somente com a liderança da China na nova corrida pelo espaço, mas também com o que a potência oriental pode fazer com as novas tecnologias desenvolvidas. Como as forças militares de Pequim controlam a maior parte dos programas espaciais, há grande apreensão de que seu objetivo seja, na verdade, usar seus modernos sistemas de lançamentos para reunir informações sobre seus adversários ou para bloquear qualquer tentativa de outros países de fazer o mesmo.

Mudança significativa na conquista do espaço

A missão em Marte é a próxima grande etapa do programa chinês, que também prevê a construção de uma estação espacial em 2022. “O fato de a China se juntar à conquista de Marte mudará a situação atual, dominada pelos Estados Unidos há meio século”, destaca Chen Lan, analista do site Gotaikonauts.com, especializado no programa espacial chinês.

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De acordo com especialistas, a experiência da China na Lua será muito útil para sua missão em Marte. De fato, das 40 missões soviéticas, americanas, europeias, japonesas, ou indianas, lançadas ao Planeta Vermelho desde 1960, a maioria fracassou.

Em 2011, a China tentou conquistar Marte com sua sonda Yingho-1, acoplada a uma nave russa, que acabou sofrendo um colapso. “Se (a nova sonda) aterrissar de forma segura na superfície marciana e devolver a primeira imagem, Tianwen-1 já será um sucesso”, afirma Chen Lan.

O governo chinês é prudente, após acumular vários fracassos em 2020, com tentativas frustradas de lançamento e a desintegração de uma cápsula espacial em seu retorno para a Terra. “Os riscos e as dificuldades são consideráveis”, em particular o perigoso pouso em Marte, aponta Liu Tongjie, porta-voz da missão Tianwen-1.

“Mas também estamos muito confiantes. É 50-50”, comentou Chen Lan. “A China pode fracassar desta vez, mas algum dia vai conseguir. Porque tem vontade, determinação e suficientes recursos financeiros e humanos para ser bem-sucedida”, completou.

(Com AFP)

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