China atinge Japão com suspensões de importação em escalada de crise diplomática
Pequim cancelou compra de frutos do mar japoneses, depois da primeira-ministra do país dizer que seu Exército responderia a um ataque chinês contra Taiwan
A China suspendeu importações de frutos do mar do Japão nesta quarta-feira, 19, elevando a temperatura da crise diplomática que abala as duas maiores economias asiáticas desde que a primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, afirmou no início do mês que acionaria suas Forças Armadas para responder a um potencial ataque chinês contra Taiwan, a ilha democrática que Pequim reivindica.
Noticiada pela imprensa japonesa, a proibição parece ter sido confirmada pelo Ministério das Relações Exteriores da China, que afirmou em nota que “não há mercado para frutos do mar japoneses no clima atual”. De acordo com a emissora NHKA, o governo chinês suspendeu todas as importações do setor, meses depois de ter revogado parcialmente uma restrição anterior, emitida em 2023. Antes disso, o mercado chinês – incluindo Hong Kong – representava mais de um quinto das exportações japonesas.
A medida original havia sido imposta em resposta à decisão do Japão de lançar ao mar a água usada para resfriar reatores na usina nuclear de Fukushima, depois, claro, de tratamento. A imprensa japonesa informou que autoridades em Pequim teriam afirmado que a decisão desta quarta está relacionada à necessidade de monitorar melhor a qualidade da água, mas dado o contexto, foi interpretada como medida retaliatória em resposta a Takaichi.
Em uma coletiva de imprensa nesta quarta, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse que o Japão “não forneceu a documentação técnica à qual se comprometeu”.
“Gostaria também de enfatizar que, devido às recentes ações da primeira-ministra Sanae Takaichi, que contrariam a tendência, e às suas declarações equivocadas sobre questões importantes como Taiwan, que provocaram forte indignação pública na China, não haveria mercado para frutos do mar japoneses no cenário atual, mesmo que o Japão conseguisse exportá-los para a China”, disse Mao.
A China reivindica o território taiwanês como seu e não descartou o uso da força para assumir o controle da ilha. Taipei rejeita as reivindicações de Pequim.
Tensão
No início deste mês, Takaichi provocou o mais sério conflito diplomático em anos com Pequim. Perante o Parlamento, ela declarou que, se um ataque chinês a Taiwan ameaçar o Japão, isso pode desencadear uma resposta militar de seu país.
De acordo com o porta-voz do governo japonês, Minoru Kihara, um alto funcionário do governo Takaichi se reuniu com diplomatas em Pequim na terça 18 para tentar amenizar a tensão, mas sem avanços iminentes. O Ministério das Relações Exteriores da China afirmou ter exigido que a premiê se retratasse durante a reunião, mas Kihara descartou a possibilidade.
Em meio à crise, a embaixada do Japão em Pequim fez um alerta de segurança aos cidadãos, na segunda-feira, afirmando que devem respeitar os costumes locais enquanto estiverem em solo chinês e tomar cuidado ao interagir com locais. A orientação é que viajantes estejam atentos ao seu entorno quando estiverem ao ar livre, não fiquem sozinhos e tenham cautela extra ao acompanhar crianças.
A China, por sua vez, desaconselhou viagens ao Japão. Mais de 10 companhias aéreas chinesas, como Air China, China Eastern Airlines e China Southern Airlines, ofereceram reembolsos para voos com destino ao Japão até 31 de dezembro, enquanto a Sichuan Airlines cancelou os planos para a rota Chengdu-Sapporo até pelo menos março, informou a mídia estatal.
Preocupados com o impacto econômico da disputa, os chefes das três federações empresariais japonesas se reuniram com Takaichi na segunda-feira e pediram diálogo para resolver a tensão diplomática. “A estabilidade política é um pré-requisito para o intercâmbio econômico”, disse a repórteres Yoshinobu Tsutsui, presidente da Keidanren, a maior associação empresarial do país.
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