China alerta contra ‘nova Guerra Fria’ em cúpula asiática
Primeiro-ministro chinês também reafirmou laços regionais, na tentativa de frear crise diplomática que surge a partir da divulgação de novo mapa nacional
O primeiro-ministro da China, Li Qiang, afirmou nesta quarta-feira, 6, que os países precisam “lidar adequadamente com as diferenças e disputas” e “evitar uma nova Guerra Fria”. Durante encontro anual da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático), na Indonésia, o premiê ainda reafirmou os laços regionais, na tentativa de frear uma crise diplomática que surge a partir da divulgação de um novo mapa chinês.
“Podem surgir divergências entre países devido a mal-entendidos, interesses distintos ou interferências externas”, disse Li.”Para manter estas disputas sob controle, é essencial não tomar partido, opor-se à confusão entre blocos e evitar uma nova Guerra Fria”.
Em meio às rivalidades geopolíticas crescentes na região do Indo-Pacífico, a agenda da cúpula em Jacarta se voltou para a nova versão do mapa da China. O documento, divulgado no último dia 28, incorpora regiões contestadas no Mar do Sul da China, uma das rotas mais cobiçadas pelo comércio marítimo.
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Países membros da Asean e aliados ao governo dos Estados Unidos rejeitaram a nova disposição e acreditam que Pequim desrespeita o que ficou acordado em 2016 pelo Tribunal de Haia. Na ocasião, o entendimento era de que a China não teria legitimidade para reivindicar “direitos históricos” sobre a maior parte do território.
A vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, é a representante de Washington nas reuniões da cúpula. Segundo declaração de um funcionário da Casa Branca para a agência de notícias Reuters, ela iria defender a “ordem internacional baseada em regras, inclusive no mar do sul da China, diante das reivindicações marítimas ilegais e ações provocativas da China”.
Harris reforçou o interesse pela região, o que incomoda e preocupa o governo do presidente chinês, Xi Jinping. “Os Estados Unidos têm um compromisso duradouro com o Sudeste Asiático e, de forma mais ampla, com o Indo-Pacífico”, disse ela.
No primeiro semestre deste ano, o então ministro das Relações Exteriores chinês, Qin Gang, afirmou que os EUA e a China estão caminhando para um conflito inevitável se Washington não mudar sua abordagem em relação a Pequim. “Se os Estados Unidos não pisarem no freio, mas continuarem acelerando no caminho errado, nenhuma proteção poderá impedir o descarrilamento, e certamente haverá conflito e confronto”, afirmou em março.
As relações entre as duas maiores potências do mundo se deterioraram acentuadamente nos últimos anos, e qualquer esforço para repará-las foi frustrado no início deste ano, quando um balão espião chinês adentrou o espaço aéreo americano e as Forças Armadas de Washington derrubaram o equipamento. A China alega que o balão servia apenas a propósitos de pesquisa e ciência, tendo se desviado da rota, e que os Estados Unidos reagiram de forma exagerada.
Qin culpou a Casa Branca pelo agravamento das relações, citando especificamente o incidente do balão, bem como tensões sobre Taiwan e a guerra na Ucrânia. Fazendo referência a Washington, ele disse que o conflito na Europa parece ter sido impulsionado por “uma mão invisível, usando a crise da Ucrânia para servir a certas agendas geopolíticas”, pressionando pelo prolongamento e escalada do conflito.