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Chile propôs venda da Ilha de Páscoa para EUA e nazistas

Governo chileno ofereceu território por 1 milhão de dólares; negociações com Washington, Berlim, Roma e Londres fracassaram

Por Da Redação
10 ago 2018, 17h46

O governo do Chile quis vender a Ilha de Páscoa, nos anos 1930, a vários países. Ofereceu sua possessão no Oceano Pacífico aos Estados Unidos, à Alemanha, ao Japão e ao Reino Unido, segundo o historiador espanhol Mario Amorós.

Autor do livro “Rapa Nui – uma ferida no oceano”, Amorós afirma que, depois de adquirir 36 aviões da Alemanha e 29 da Itália, o então presidente, Arturo Alessandri (1932-1938), e a Marinha chilena “ofereceram a venda de Rapa Nui (o nome com que os aborígenes chamam a Ilha de Páscoa) ao menos a Estados Unidos, Japão, Reino Unido e à Alemanha nazista”.

O valor da venda seria empregado na construção de dois navios cruzadores, que completariam o arsenal da Armada chilena, revela Mario Amorós, cuja obra foi lançada ontem (9) em Santiago.

Em 1930, o adido naval dos Estados Unidos no Chile informou o Escritório de Inteligência Naval do Departamento de Marinha de seu país sobre a oferta do governo chileno. Depois de anexar a Ilha de Páscoa, em 1888, Santiago propunha sua venda por 1 milhão de dólares. Segundo Amorós, o valor não era explicitamente mencionado nas mensagens.

Sete anos depois, as autoridades chilenas voltaram a oferecer a ilha aos Estados Unidos. Mas ampliaram a busca por potenciais compradores e a ofereceram também ao Japão, Reino Unido e Alemanha. Não houve resultados.

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No livro, Amorós menciona que “os governos britânico e americano estimaram, em 1937 e 1938, que não era conveniente que o Japão, a Alemanha, a Itália dominassem a ilha”. Os três países formavam o Eixo, uma aliança geopolítica e militar de linha fascista que, nos anos seguintes desencadeou a Segundo Guerra Mundial (1939-1945).

Em 1939, o governo da Frente Popular chilena sucedeu o governo de Alessandri e novamente “ofereceu à embaixada dos Estados Unidos a cessão de Rapa Nui, em troca de que lhe proporcionasse meios navais para proteger as vias marítimas que uniam o Atlântico sul com o Pacífico sul”.

Houve “conversas secretas” entre autoridades navais de médio escalão do Chile com os representantes destes países em Santiago, que “não prosperaram”.

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Habitada atualmente por cerca de 8.000 pessoas, a Ilha de Páscoa está situada a 3.700 km do continente chileno, no meio do Pacífico. A ilha é visitada por cerca de 100.000 turistas ao ano, atraído especialmente pelos moais, as gigantescas esculturas talhadas em pedra vulcânica.

O autor acrescenta que embora as conversas com Estados Unidos, Japão e Reino Unido fossem conhecidas, “ninguém tinha sido capaz de apontar que houve negociações para vendê-la à Alemanha nazista” até que o professor húngaro Ferenc Fischer, especialista nas Forças Armadas chilenas, falou disso em 2011 em uma conferência.

Apesar de haver provas dessas propostas nos  arquivos dos países sondados pelo governo chileno, nos do Chile não foi possível encontrar nenhum documento.

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Reparação

Para Amorós, a revelação mais importante de seu livro está no fato de que o povo rapa nui “viveu em um regime desumano de confinamento, trabalhos forçados, torturas e castigos físicos” entre 1888 , quando a Ilha de Páscoa foi incorporada ao Chile, e 1966, quando lhe foi outorgada cidadania chilena. Também em 1966, a administração da ilha foi regulamentada.

As incursões escravistas, sobretudo peruanas (1862-1863), as epidemias de varíola e tuberculose e a emigração para a Polinésia francesa dizimaram a população desta ilha. Em 1877, haviam apenas 111 autóctones, em comparação com os 4.000 de 15 anos antes.

Até 1966, a situação não melhorou para a população autóctone. A população foi confinada e submetida a  vexações  ‘Companhia Exploradora’ que, por sete décadas alugou a ilha para criar ovelhas, e controlada opressivamente pela Marinha chilena a partir de 1917.

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As autoridades da ilha apresentaram uma denúncia na Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) para pedir a devolução de suas terras ancestrais, assim como o controle da ilha e a redefinição da relação com o Estado do Chile.

Na semana passada, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, anunciou um projeto de lei para trocar o nome da ilha para Rapa Nui-Ilha de Páscoa.

Desde 1º de agosto, os chilenos do continente e os estrangeiros só podem permanecer na ilha no máximo 30 dias para preservar sua sustentabilidade, ameaçada pela sobrepopulação e pelo lixo. Também se pede a devolução à ilha de um moai que está no Museu Britânico de Londres.

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