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Casa Rosada prepara projeto de descriminalização do aborto

A inevitável rejeição da legalização do aborto pelo Senado força o presidente Maurício Macri a remover penas previstas no Código Penal

Por Da Redação
Atualizado em 8 ago 2018, 21h55 - Publicado em 8 ago 2018, 21h48

Diante da tendência de o Senado argentino rejeitar nesta noite o projeto de lei de legalização do aborto, a Casa Rosada pretende incluir no projeto de reforma do Código Penal a descriminalização das mulheres que interromperem a gravidez. O texto deverá ser enviado ainda neste mês ao Congresso, segundo o jornal Clarín.

Até as 21h de ontem, o Senado argentino ainda não havia começado a votação, prevista para depois da meia-noite. As prévias apontavam o rechaço da Casa ao projeto aprovado pela Câmara dos Deputados em julho. Dos 72 senadores, 38 senadores deverão votar contra o texto, e apenas 31 a favor. Dois se abstiveram e uma senadora está em licença de saúde. A aprovação requer maioria simples.

A ex-presidente argentina Cristina Kirchner votou a favor do projeto. Carlos Menem, também ex-presidente, votou contra.

O projeto aprovado na Câmara permite o aborto até 14ª semana de gravidez, sem possibilidade de penalização da gestante. A interrupção até a 12ª semana é um direito assegurado a toda mulher pelo Estado. Mas o texto prevê pena de três meses a um ano de detenção à gestante que, estando com quinze semanas ou mais de gravidez, tenha provocado o aborto ou permitido que outra pessoa a ajudasse.

A Argentina tem legislação menos avessa ao aborto, em comparação com a do Brasil, desde 1921. A lei vigente permite a interrupção voluntária da gravidez em casos de estupro, de risco para a saúde da gestante e de impossibilidade de sobrevida do feto depois do parto.

O presidente da Argentina, Maurício Macri, se clara contra o aborto. Mas, avisou que não vetará o projeto de lei se for aprovado pelo Senado. Ontem, diante da perspectiva de fracasso no Senado, alternativas começaram a ser traçadas. A possibilidade de eliminar os casos de aborto do Código Penal foi desconsiderada. Mas a descriminalização tornou-se factível.

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“Seria voltar a gerar uma discussão muito forte. O consenso que vislumbramos na sociedade, e inclusive na Igreja, embora não a expresse abertamente, é que a mulher não seja penalizada. Isso é algo que todas as partes tolerariam”, informou ao Clarín um colaborador de Macri.

A Presidência da Argentina corre para assegurar que as eleitoras e eleitores favoráveis ao aborto não saiam sem um mínimo ganho desses debates no Congresso. Segundo o Clarín, as análises da equipe de Macri apontam para um impacto negativo ou perda da oportunidade para a Casa Rosada se o projeto fracassar. O presidente, entretanto, manteve-se publicamente encima do muro.

“Não importa qual seja o resultado, hoje vencerá a democracia”, afirmou Macri hoje, logo depois de ter dito ser favorável “ao direito à vida”, o lema dos setores avessos ao projeto. “O tema central é o direito de as mulheres decidirem”, declarou depois, para dar vazão ao lema dos defensores do projeto.

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No Senado, houve uma mobilização de senadores em favor da elaboração imediata de uma nova proposta para descriminalizar o aborto. O texto pode ser apresentado assim que as votações de hoje sejam encerradas – e se realmente seu resultado for contrário ao projeto de lei da Câmara.

Segundo o jornal La Naci��n, a senadora Lucila Crexell apresentou na terça-feira um projeto para descriminalizar o aborto até a 12ª semana de gestação. Ela se absteve de votar hoje. Seu colega Omar Perotti propõe a redução da atual pena a mulheres que optem pelo aborto sem se enquadrarem nos casos previstos em lei – estupro, risco à saúde da gestante e inviabilidade de sobrevida do feto.

Frio e manifestações

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Do lado de fora do plenário, na Praça dos Dois Congressos, manifestantes dos dois lados – verde, em favor do aborto; azul, contra o projeto – se mobilizavam em favor de suas causas debaixo de frio, vento  e chuva enquanto acompanhavam a votação. O La Nación destacou as vendas acima do esperado nas barracas de pão com linguiça e hamburguer, sempre com batata frita, montadas por ambulantes.

O trânsito nessa região central de Buenos Aires entrou em colapso por causa da concentração humana, sobretudo de mulheres.

À noite, com a votação mais próxima, as manifestantes em favor do aborto mostravam-se efusivas, apesar das parcas possibilidade de aprovação do projeto. As líderes da Campanha Nacional do Direito ao Aborto Legal, Seguro e Gratuito estavam concentradas no Hotel Castelar. Mas as manifestantes ocuparam toda a Avenida Callao até a Avenida Corrientes.

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“Há mostras de alegria pelo grande comparecimento. A música que vem do palco contribui para um ambiente festivo”, descreveu o jornal.

Na rua Alsina, os manifestantes contrários ao projeto de lei trouxeram seus filhos, vestidos com lenços azuis e com bandeiras argentinas. A concentração desse grupo foi maior do que na votação do projeto na Câmara dos Deputados, informou o La Nación.

“Em um ambiente de tranquilidade, famílias e grupos de amigos se congragam do lado [da Avenida] Entre Rios. Há shows musicais, um grupo de rap canta entre os grupos de jovens: ‘tens salvação para o que tens dentro de ti. Meu nome é Jesus, e sempre te amarei'”, relata o jornal.

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