Cardeal francês é condenado por ocultar abusos de padre pedófilo
Arcebispo de Lyon, Philippe Barbarin é uma das figuras católicas de maior destaque na França; religioso apresentará renúncia ao papa Francisco
A Justiça da França condenou nesta quinta-feira, 7, o cardeal Philippe Barbarin por encobrir os abusos cometidos contra crianças por um padre de sua arquidiocese. Arcebispo de Lyon, Barbarin é uma das figuras católicas de maior destaque no país.
O Tribunal Correcional de Lyon considerou o religioso de 68 culpado por não denunciar os abusos cometidos pelo padre Bernard Preynat entre 1970 e 1990 dentro de sua diocese. A maior parte das vítimas eram meninos escoteiros, de um grupo comandado por Preynat junto à Igreja.
Barbarin foi condenado a seis meses de prisão, que só deverão ser cumpridos em caso de reincidência. Ele também deverá pagar uma indenização simbólica de um euro para cada uma das oito das vítimas de Preynat que o tinham denunciado.
Os advogados do arcebispo anunciaram que vão recorrer da sentença. Barbarin, contudo, afirmou que apresentará sua renuncia ao papa Francisco nos próximos dias;
O cardeal prestou depoimento ao tribunal no início de janeiro, ao lado de outros cinco membros eclesiásticos da sua arquidiocese.
Durante a audiência, Barbarin afirmou que nunca tinha tentado esconder os fatos que qualificou de “horríveis”, garantindo que embora tivesse ouvido rumores em 2010, só foi informado dos abusos cometidos pelo pároco da sua diocese em 2014 quando uma das vítimas lhe contou diretamente o que tinha sofrido.
Em janeiro de 2015 pediu conselho ao Vaticano, que lhe recomendou afastar o padre da paróquia e evitar o escândalo, embora o cardeal tenha demorado ainda alguns meses para aplicar a medida, até agosto.
O religioso, contudo, não relatou os abusos à polícia. Outras vítimas também reportaram os casos ao cardeal, que nunca os informou às autoridades francesas.
As acusações só se tornaram públicas em 2015, quando um antigo coroinha publicou denúncias de que Preynat o molestara 25 anos antes. François Devaux, que depois formou um grupo de apoio às vítimas, também moveu uma ação contra Barbarin, alegando que ele sabia dos abusos e os escondia.
Depois de seis meses de investigação e dez horas de interrogatório a Barbarin, os promotores trancaram o caso em 2016, alegando que as provas eram obsoletas e insuficientes. Mas algumas vítimas tiveram sucesso no esforço de reabrir o caso, o que levou o cardeal e alguns outros religiosos franceses, como o Arcebispo de Auch e o Bispo de Nevers, ao banco dos réus novamente.
Preynat assumiu a responsabilidade pelos abusos contra meninos e deve enfrentar o júri ainda este ano.
Depois de ter sido denunciado pela primeira vez, em 1991, o religioso não foi mais autorizado a lidar com grupos de escoteiros. Mais tarde, porém, ele deu aulas para crianças e angariou posições de autoridade em paróquias até que o escândalo se tornou público.
Chefe da Congregação para a Doutrina da Fé, importante órgão do Vaticano, o arcebispo espanhol Luis Francisco Ladaria Ferrer também foi acusado de cumplicidade no silenciamento do caso de Lyon. Em correspondências trocadas com Barbarin, o religioso aconselha o cardeal a tomar “medidas disciplinares necessárias, mas evitando o escândalo público.”
Por ser do alto clero no Vaticano, Ferrer tem imunidade diplomática e não irá a julgamento.
(Com EFE)