‘Bullying de Trump contra Brasil está saindo pela culatra’, diz jornal americano
Diplomata ouvido pelo 'Washington Post' afirmou que 'Natal chegou cedo' para Lula devido a ataque 'desajeitado' do presidente dos EUA

Um artigo do jornal americano The Washington Post publicado no domingo 21 afirmou que o “bullying” praticado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil está “saindo pela culatra”, uma referência ao anúncio de tarifas de 50% sobre as importações de produtos brasileiros.
A coluna afirma que a demonstração de força do governo americano, que justificou a medida como um protesto contra o julgamento de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal – para Trump, uma “caça às bruxas” –, acabou fortalecendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que viu a tendência de queda na popularidade revertida com o episódio.
O colunista de assuntos internacionais do Post, Ishaan Tharoor, escreve que enquanto as ameaças tarifárias de Trump levaram outros países da região a se curvarem a Washington, mas “a economia brasileira é maior e mais diversificada do que a de seus vizinhos” e Lula viu na crise uma oportunidade para travar um embate com os Estados Unidos – citando a aposta numa narrativa nacionalista que pode impulsioná-lo, com o slogan que vem ostentando em bonés: “O Brasil é dos brasileiros”.
Um diplomata brasileiro de alto escalão ouvido por Tharoor afirmou que os eleitores de Bolsonaro, em especial nas comunidades financeira e empresarial, “está se voltando contra ele”. “O Natal chegou cedo para o presidente Lula, e o presente foi enviado por Trump por meio desse ataque desajeitado à soberania do Brasil, a fim de proteger um aspirante a ditador e um claro perdedor”, afirmou.
Enquanto isso, um funcionário do Departamento de Estado americano que falou ao Post sob condição de anonimato lamentou a decisão de seu presidente sobre sancionar o ministro do STF Alexandre de Moraes, revogando os vistos dele e de seus familiares. “É difícil conceber uma ação que o governo Trump pudesse tomar na relação EUA-Brasil que fosse mais prejudicial à credibilidade dos Estados Unidos na promoção da democracia do que sancionar um juiz da Suprema Corte de um país estrangeiro porque não gostamos de suas opiniões judiciais”, disse ele.
Além disso, segundo o artigo, a disputa diplomática entre os gigantes do continente americano não está caminhando para um desfecho rápido, uma vez que ambos os países estão aumentando a intensidade de suas medidas.
O imbróglio
Há duas semanas, Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros devido ao que definiu como uma “caça às bruxas” ao ex-presidente Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pelo governo Lula.
O petista respondeu à ameaça, frisando que o “Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém”. Lula também disse que o “processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais”.
Na quinta passada, Trump deu continuidade à queda de braço ao publicar uma carta endereçada a Bolsonaro, reforçando críticas à Justiça brasileira e um suposto “regime de censura”. Segundo ele, o governo brasileiro realiza “ataques à liberdade de expressão, tanto no Brasil quanto nos EUA”. O americano ainda afirma que espera que “o governo do Brasil mude de rota, pare de atacar oponentes políticos e termine seu regime de censura”, acrescentando: “Vou estar observando de perto”.
“Eu vi o terrível tratamento que você está recebendo nas mãos de um sistema injusto voltado contra você. Este julgamento deve terminar imediatamente!”, disse Trump.
E na sexta-feira 18, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, anunciou em seu perfil no X que os vistos de Moraes, seus familiares e seus aliados serão revogados. A decisão foi vista como uma retaliação aos atos do ministro do STF contra Bolsonaro, que foi alvo de uma operação da Polícia Federal por atos de obstrução de Justiça e risco de fuga. Ele está proibido de ter contato com governos estrangeiros e é obrigado a usar tornozeleira eletrônica.
“O presidente Donald Trump deixou claro que seu governo responsabilizará estrangeiros responsáveis pela censura de expressão protegida nos Estados Unidos. A caça às bruxas política do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, contra Jair Bolsonaro criou um complexo de perseguição e censura tão abrangente que não apenas viola direitos básicos dos brasileiros, mas também se estende além das fronteiras do Brasil, atingindo os americanos. Portanto, ordenei a revogação dos vistos de Moraes e seus aliados no tribunal, bem como de seus familiares próximos, com efeito imediato”, anunciou.
Bolsonaro está inelegível por 8 anos, por duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral, por abuso de poder e uso indevido de meios de comunicação, ao atacar as urnas eletrônicas durante a eleição de 2022, sem provas concretas.
Moraes supervisiona a acusação contra o ex-presidente e também vem travando batalhas contra as Big Techs americanas para reprimir a desinformação online. Essa “censura” percebida provocou a ira da direita americana e do magnata da tecnologia Elon Musk, cuja plataforma X estava na mira do ministro.