Bukele troca afagos com Trump em visita aos EUA após prender deportados em El Salvador
Entre polêmicas, país na América Central virou espécie de colônia penal americana em meio a projeto de deportação em massa da Casa Branca

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, uma das estrelas da extrema direita internacional, trocou afagos com seu homólogo americano, Donald Trump, durante uma visita à Casa Branca nesta segunda-feira 14, que ocorreu num contexto em que o líder salvadorenho “emprestou” uma megaprisão do país na América Central, a joia da coroa de sua guerra às gangues e controverso projeto de segurança pública, para deter imigrantes deportados pelos Estados Unidos.
“Quero apenas cumprimentar o povo de El Salvador e dizer que eles têm um presidente incrível”, afirmou o presidente americano, enquanto seu colega e aliado elogiou o trabalho “impressionante” que a Casa Branca tem feito nas fronteiras, onde, segundo ele, as tentativas de travessia do México para os Estados Unidos “caíram 95%”.
.@nayibbukele: “What you’re doing with the border is remarkable. It has dropped 95%.”@Sec_Noem: “It’s been absolutely phenomenal what a great leader can do. Clear direction. Our laws matter.” pic.twitter.com/zbzAngQXVR
— Rapid Response 47 (@RapidResponse47) April 14, 2025
.@POTUS: “I want to just say hello to the people of El Salvador and say they have one hell of a President.”@nayibbukele: “We actually turned the ‘murder capital of the world’ — into the safest country in the western hemisphere… We liberated millions.” pic.twitter.com/npiVZNoFWn
— Rapid Response 47 (@RapidResponse47) April 14, 2025
Acordo polêmico
Durante entrevista ao lado de um radiante Trump, Bukele fez referência aos quase 300 homens que o governo americano acusa – sem apresentar evidências – de serem membros da gangue venezuelana Tren de Aragua e foram enviados a El Salvador no mês passado. Hoje, todos estão no Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), com capacidade para 40.000 presos (o maior centro de detenção do mundo). Segundo o presidente salvadorenho, um dos supostos criminosos relatou às autoridades do país que foi preso várias vezes nos Estados Unidos e que atirou na perna de um policial.
A União Americana pelas Liberdades Civis entrou com outra ação judicial contestando o uso, pela Casa Branca, de uma poderosa lei do século XVIII, dedicada a tempos de guerra ou “invasão”, para deportar imigrantes venezuelanos para El Salvador. A ação judicial, movida no Tribunal Distrital Federal do Colorado, foi a terceira do tipo nos últimos dias.
Na outra ponta do acordo, El Salvador recebeu cerca de 6 milhões de dólares para abrigar os detentos venezuelanos. Trump também reiterou nesta segunda-feira que está aberto a enviar cidadãos americanos condenados por crimes violentos para a megaprisão de Bukele. Em fevereiro, ele já havia dito que era “totalmente a favor” da polêmica medida, acrescentando que a PGR estava estudando se isso seria viável do ponto de vista jurídico.
“Se for um criminoso local, não tenho problema, não”, disse ele a Bukele nesta segunda. “Estou falando de pessoas violentas. Estou falando de pessoas realmente más.”
Limbo legal
Além disso, Bukele rejeitou veementemente um possível retorno de Kilmar Armando Abrego Garcia aos Estados Unidos. O governo Trump afirmou que o homem que vivia no estado de Maryland foi deportado por engano junto com os suspeitos, um “erro administrativo”. Na semana passada, a Suprema Corte americana ordenou que a Casa Branca “facilitasse” o retorno de Garcia, que vivia sob proteção contra deportação de um tribunal de imigração, é pai de três filhos e não tem antecedentes criminais.
A administração Trump argumentou que somente o presidente, e não a Justiça, tem autoridade sobre política externa. Stephen Miller, vice-chefe de gabinete da Casa Branca e o arquiteto da agenda imigratória de Trump, também zombou de perguntas sobre o retorno de Garcia, argumentando que ele estava agora sob custódia de Bukele. Segundo ele, cabe a El Salvador a decisão de libertar ou não o homem deportado injustamente, o que deixa Garcia em uma espécie de limbo legal.
Se depender do presidente salvadorenho, nada será feito. Ao lado de Trump, ele afirmou que tal medida seria “absurda” e semelhante a contrabandear “um terrorista” de volta para os Estados Unidos, além de insultar repórteres que fizeram perguntas incisivas sobre o descumprimento de uma ordem judicial por parte do governo americano.
.@nayibbukele: “The question is preposterous. How can I smuggle a terrorist into the United States? I don’t have the power to return him to the United States.” pic.twitter.com/PyrXqO4bvJ
— Rapid Response 47 (@RapidResponse47) April 14, 2025
A reunião no Salão Oval entre Trump e Bukele foi o mais claro sinal até agora de que o governo dos Estados Unidos não tem intenção de cumprir as instruções da Suprema Corte, o que deixa o país à beira de uma crise constitucional.