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Brasileiras descrevem caos e clima de ‘Fla-Flu’ na espera por furacão

Florence deverá alcançar os EUA na categoria mais forte, com ventos de mais de 250 km/h; mais de 1,5 milhão de pessoas deixaram suas casas

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Denise Chrispim Marin Atualizado em 12 set 2018, 09h48 - Publicado em 11 set 2018, 20h32

Ao atingir a costa leste dos Estados Unidos, entre a noite de quinta-feira e a manhã de sexta, o furacão Florence afetará inicialmente uma população de cerca de 15,3 milhões de pessoas. Entre elas, brasileiros residentes nos estados da Carolina do Norte e Carolina do Sul. A enfermeira Selma Vieira, de Wilmington, é uma das que atendeu ao chamado das autoridades e prepara-se para deixar sua cidade nesta quarta-feira.

Willmington está localizada no litoral da Carolina do Norte e bem na rota do furacão, que poderá atingir a categoria mais feroz (número 5) ao chegar ao continente – mais especificamente, este mesmo estado americano.

“O clima na cidade está um caos total”, relatou Selma a VEJA. “Eu estou meio assustada porque este é um dos furacões mais fortes no estado nos últimos 60 anos.”

De fato, o furacão está hoje classificado na categoria 4, com ventos até 220 quilômetros por hora, conforme a escala Saffir-Simpson. O último a passar com essa força na região foi o furacão Hugo, em 1989. Os institutos meteorológicos americanos alertam para a possibilidade de o fenômeno atingir a categoria máxima, com ventos de mais de 250 quilômetros por hora. Em ambas as categorias, o rastro de destruição é dado como certo.

Selma, de 51 anos, mora há 30 anos nos Estados Unidos e já vivenciou a passagem de muitos outros furacões. “Isso é algo repetitivo. Todo ano, na época de furacões, ficamos em estado de alerta”, diz. “Mas faz tempo que não temos um como este, vindo direto para nossa cidade.”

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Selma Vieira
A enfermeira Selma Vieira: compras de emergência, trancas nas janelas e fuga de sua cidade – 11/09/2018 (Arquivo pessoal/Arquivo pessoal)

Natural de Santos, São Paulo, Selma conta que decidiu partir para os estados da Geórgia e da Flórida, ambos fora da rota do Florence, obedecendo as recomendações das autoridades locais. A agência de gestão de emergências da Carolina do Norte determinou a retirada de 1 milhão de moradores da região litorânea. Mais de 1,5 milhão aderiu ao apelo até o momento.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou na noite de segunda declarações antecipadas de emergência para as duas Carolinas. A medida liberou aos governos estaduais recursos para prevenir maiores desastres. Albergues e abrigos estão sendo preparados para acolher pessoas atingidas.

Selma e sua família se abasteceram com garrafas de água mineral e mantimentos para deixar a cidade. Mas a busca pelos produtos não foi simples, já que as prateleiras nos supermercados da cidade estão quase todas vazias. Selma conta também que os postos de gasolina estão lotados.

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“Como o sobrado onde moro é de esquina, uma de suas laterais estará desprotegida. Mas colocamos pedaços de madeiras nas janelas para proteger e tiramos todos os objetos e móveis do jardim”, relatou.

Selma é enfermeira e foi liberada do trabalho nos próximos dias em razão do furacão. O hospital em que trabalha, contudo, determinou uma medida de emergência: nenhum dos pacientes internados poderá deixar o local até a passagem do Florence, assim como médicos, enfermeiros e funcionários de plantão. O local também permanecerá fechado para novos atendimentos.

Além do hospital, a Universidade da Carolina do Norte Wilmington, escolas e outros centros educacionais foram fechados. As aulas estão suspensas. Policiais e bombeiros também pedem que todos os banhistas evitem as praias.

‘Fake news’

A 320 quilômetros do litoral da Carolina do Norte, designer gráfica Renata Ietto, ficará com a família em Matthews, ao sul de Charlotte, devidamente preparada para a passagem de Florence. Não houve alerta para a retirada de moradores dessa região, que deverá sentir os reflexos da passagem do furacão.

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Renata vive com o marido e o filho nesta cidade, a principal da Carolina do Norte, há um ano. Mas já passou por outras experiências alarmantes nos seus treze anos nos Estados Unidos: nevascas, quando morava no estado de Nova Jersey, e furacões e tempestades tropicais, na Flórida.

Preocupadas com a passagem do furacão e também com os dias posteriores, para os quais se prevê inundações, suspensão do fornecimento de água e energia elétrica e emergências de todo tipo, as autoridades locais divulgam nas rádios e televisões uma série de precauções.

A brasileira seguiu a lista à risca: encheu o tanque de gasolina do carro, comprou água mineral e alimentos não perecíveis e que não precisam de refrigeração, sacou uma quantia suficiente de dinheiro do banco, abasteceu-se de pilhas e lanternas. Renata prometeu manter o telefone celular carregado, muniu-se de remédios e guardou os documentos da família em local seguro.

Furacão Florence
Prateleiras de supermercado em Charlotte: vazias, em especial nos espaços reservados para água mineral – 11/09/2018 (Renata Ietto/Divulgação)

Na segunda, ao passar pelo supermercado próximo de sua casa, Renata encontrou prateleiras vazias, assim como Selma. Já não havia mais garrafas de água disponíveis. O gerente prometia abastecimento até amanhã.

O que mais a surpreendeu, entretanto, foi o descrédito de americanos, em uma rodinha de conversa no mercado, sobre a capacidade de destruição do Florence.

“O clima de Fla-Flu na política americana, de republicanos versus democratas, também está acontecendo sobre a previsão do tempo. Aquelas pessoas simplesmente não acreditavam nos alertas das autoridades e nas reportagens sobre o furacão. Diziam que era invenção, ‘fake news’, exagero e, o pior, não pareciam se preparar para o pior”, contou.

Em um mercado de brasileiros também próximo de sua casa, Renata deparou-se com o contrário. Conterrâneos que nunca passaram por esse tipo de emergência pareciam em pânico, com medo de serem arrastados pelos ventos.

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Como está distante do percurso de Florence estimado pelos meteorologistas, o fenômeno deve alcançar a região de Charlotte como uma tempestade muito forte e interromper a circulação de veículos e pessoas por vários dias.

Inundações podem ocorrer nas áreas mais baixas, assim como a interrupção de fornecimento de energia e de água. Renata e sua família vivem no alto de um morro, e a preocupação maior deles é com as árvores que rodeiam sua casa.

 

 

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