Brasil é país das Américas onde mais pessoas deixaram suas casas em 2022
Novo relatório também aponta que quantidade de afetados por condições ambientais é a maior em uma década
O Brasil teve a maior quantidade de deslocados internos nas Américas no ano de 2022, sendo 708 mil pessoas afetadas por tragédias ambientais e 5 mil delas por conflitos de terra. Ao todo, o mundo atingiu um número recorde de 71,1 milhões de deslocados internos.
De acordo com relatório anual do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC) e do Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC), a quantidade de afetados por condições ambientais é a maior em uma década. Os órgãos classificam os deslocados internos como pessoas que tiveram que deixar suas casas, mas sem sair do seu país.
No Brasil, os principais fatores estão relacionados às tempestades que atingiram Pernambuco, no nordeste do país, em maio de 2022, causando mais de 131 mil deslocados internos, sendo classificada como a segunda maior crise climática das Américas naquele ano. Em janeiro de 2022, o estado de Minas Gerais também foi arrasado por fortes chuvas, deixando 107 mil deslocados internos.
Para os casos relacionados a tragédias ambientais, o fenômeno la Niña, que persistiu pelo terceiro ano consecutivo, foi apontado como causa dos níveis recordes de inundações no Brasil, bem como no Paquistão e na Nigéria. Sobre deslocados por conflito, o estudo aponta que a maior parte dos casos deriva de disputas por terra em zonas rurais. Deslocamentos associados à violência urbana não são contabilizados, o que faz os dados parecerem mais baixos que o número real.
O número de deslocados internos registrados em 2021 era de 59,1 milhões, o que representa um aumento de 20% neste ano. Cerca de 17 milhões desses movimentos foram desencadeados pela guerra na Ucrânia, onde cerca de 5,9 milhões de pessoas fugiram de suas casas, muitas tendo que se mudar repetidamente dentro do país. O relatório adverte que, devido à dificuldade em obter dados confiáveis de áreas ocupadas por militares, mesmo esses números “devem ser considerados conservadores”.
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A grande monção que atingiu o Paquistão no verão passado também foi um dos principais fatores de deslocamento. As enchentes que devastaram grande parte do país provocaram 8,2 milhões de movimentos, que, junto com a guerra na Ucrânia, representa 25% do deslocamento global por desastres em 2022.
“Conflitos e desastres se combinaram no ano passado para agravar as vulnerabilidades e desigualdades pré-existentes das pessoas, provocando deslocamentos em uma escala nunca antes vista”, disse Jan Egeland, secretário-geral do Conselho Norueguês de Refugiados. “A guerra na Ucrânia também alimentou uma crise global de segurança alimentar que atingiu mais duramente os deslocados internos. Essa tempestade perfeita minou anos de progresso na redução da fome e da desnutrição no mundo.”
Além da insegurança alimentar agravada pela guerra na Ucrânia, muitos países também enfrentam conflitos que se arrastam por anos sem nunca serem resolvidos. Quase três quartos da população global de deslocados internos vivem em apenas 10 países, todos os quais estão enfrentando um certo nível de conflito, seja a guerra no Sudão ou na Ucrânia, ou a violência mais esporádica na Nigéria ou na Somália. Também se encontram nesse grupo Síria, Afeganistão, República Democrática do Congo, Colômbia, Etiópia e Iêmen.
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Apesar de não incluir os primeiros meses de 2023, o relatório indica um aumento dramático no deslocamento após o último surto de combates no Sudão. A guerra civil entre as forças aliadas de dois generais rivais já provocou mais do que o dobro do número de deslocamentos internos em três semanas do que em todo o ano passado, afirmou o estudo.
“As crises de deslocamento de hoje estão crescendo em escala, complexidade e escopo, e fatores como insegurança alimentar, mudança climática e conflitos crescentes e prolongados estão adicionando novas camadas a esse fenômeno”, disse Alexandra Bilak, diretora do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno.