Biden não vai dar ‘sermão’ sobre direitos humanos para Modi, dizem EUA
Em meio a onda de acusações de abuso de direitos, presidente indiano cumpre agenda nos EUA e deve anunciar acordos de cooperação
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, se encontram na Casa Branca nesta quarta-feira, 21, para negociações e o anúncio de acordos de cooperação. A reunião acontece em meio a uma onda de denúncias sobre abusos de direitos humanos em Nova Déli, mas a Casa Branca disse que o líder americano não vai dar um “sermão” ao convidado.
Washington quer que a Índia seja um contrapeso estratégico para a China e vê o país como uma das parcerias “definidoras de nossa era”, segundo autoridades americanas. Enquanto isso, Modi está tentando aumentar a influência indiana no cenário global.
Entre os acordos comerciais esperados estão temas como inteligência artificial, computação quântica e investimentos americanos na Índia pela Micron Technology e outras empresas da área de tecnologia. Modi está sendo calorosamente recebido por CEOs americanos, inclusive por Elon Musk, chefe da Tesla e atual dono do Twitter, na terça-feira 20.
O encontro entre os líderes acontece em um momento em que os Estados Unidos acendem um alerta para a questão dos direitos humanos na Índia, em especial sobre a liberdade de imprensa e religiosa. Porém, os americanos procuram não “dar sermões” sobre o retrocesso democrático observado no país.
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“Deixamos claras nossas opiniões”, disse Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos. “Fazemos isso de uma forma em que não procuramos dar sermões ou afirmar que não temos desafios”.
Defensores dos direitos humanos pediram que Biden denuncie publicamente o histórico de abusos de Modi. Segundo eles, a estratégia de abordar o assunto em particular com o líder indiano não reverteu a questão na Índia. Grupos de direitos humanos também planejam protestar durante a visita de Estado.
Analistas também esperam que a China seja um dos tópicos abordados entre Modi e Biden. Os dois líderes estão lutando contra demonstrações de força de Pequim na região do Indo-Pacífico.
“Esta visita não é sobre a China. Mas a questão do papel da China no domínio militar, tecnológico e econômico vai estar na agenda”, disse Sullivan.
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A Índia frustrou Washington ao manter alguns laços de defesa e econômicos com a Rússia após a invasão da Ucrânia. Nova Déli valoriza seu não alinhamento em conflitos entre grandes potências no exterior. Washington aceita que a Índia continue comprando petróleo russo, desde que “a preços baixíssimos”, abaixo de um teto de preço acordado pelas nações desenvolvidas.
Porém, um alto funcionário do Departamento de Estado ouvido pela agência de notícias Reuters disse que houve uma “mudança sutil” na abordagem da Índia em relação à Rússia desde que Modi disse ao presidente russo, Vladimir Putin, em setembro passado, que “a era de hoje não é uma era de guerra”. De acordo com ele, outras autoridades indianas questionaram Moscou por violar a integridade territorial da Ucrânia e pelas ameaças nucleares nos últimos meses.
Na próxima quinta-feira, 22, Biden e Modi vão fazer acordos sobre o “co-desenvolvimento e co-produção de sistemas militares, incluindo alguns sistemas muito avançados”. Esse movimento faz parte de uma estratégia indiana para comprar armas de outras fontes além de Moscou, seu fornecedor tradicional.
Modi chegou em Nova York na terça-feira para participar de uma celebração do Dia Internacional do Yoga nas Nações Unidas. Nesta quarta-feira, ele vai visitar a National Science Foundation com a primeira-dama americana, Jill Biden, e depois terá um jantar privado com o presidente na Casa Branca.
Ao todo, o primeiro-ministro já esteve nos Estados Unidos cinco vezes desde que assumiu o cargo em 2014, mas esta viagem é a primeira com status diplomático completo de uma visita de Estado.