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Bem-vindos, bebês: Coreia do Sul comemora um feito inédito entre os países envelhecidos

O caso está sendo comemorado: foi um pequeno, mas gigantesco passo para uma nação em estágio demográfico crítico

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 abr 2025, 09h43 - Publicado em 19 abr 2025, 08h00

Espremida entre o vendaval político decorrente do afastamento do presidente Yoon Suk-yeol por tentativa de golpe de Estado e o fantasma das tarifas de Donald Trump em uma economia altamente dependente do comércio com os Estados Unidos, a Coreia do Sul tem pelo menos uma boa notícia para comemorar: a população dos berçários voltou a crescer. Pouco, mas voltou. Feitas as contas dos bebês que vieram ao mundo em 2024 no país que ostenta a mais baixa taxa de natalidade (número de crianças por mulher em idade fértil) do planeta, constatou-se que, pela primeira vez em quase uma década, ela aumentou de 0,72 para 0,75, empurrada pela elevação de 3,6% no número de recém-nascidos. No xadrez das estatísticas populacionais, ainda é quase nada — a Coreia do Sul continua a ser o único país da OCDE, o grupo das nações desenvolvidas, com índice abaixo de 1, perdendo até do envelhecido Japão (1,2) e permanecendo longe dos 2,1 apontados como indicador de uma população de tamanho estável.

DEU MATCH - Cartaz de jantar bancado pelo governo local: metade aprovou
DEU MATCH - Cartaz de jantar bancado pelo governo local: metade aprovou (@jun_seonng/Instagram)

De qualquer forma, o caso coreano está sendo comemorado: foi um pequeno, mas gigantesco passo para uma nação em estágio demográfico crítico. O simples fato de a curva ter virado denota uma mudança de mentalidade e um primeiro efeito de medidas que o governo vem tomando para incentivar os casais a aumentar a família. “É justo dizer que se trata de uma recuperação significativa”, diz Choi Yoon Kyung, especialista do Instituto Coreano de Cuidados e Educação Infantil. “Os números dos próximos anos dirão se o avanço será consistente ou foi impulsionado por fatores conjunturais.” Também o número de casamentos subiu quase 15% no ano passado, depois de despencar 35% na última década. Embora o avanço possa ser temporário, já que boa parte dele é atribuída ao represamento de uniões na pandemia, foi amplamente celebrado pelo governo. “Nota-se uma mudança de valores na sociedade, com atitudes mais positivas em relação ao casamento e à criação de filhos”, avalia Park Hyun-jung, pesquisador da Statistics Korea, a agência de estatísticas do governo.

Baixas taxas de natalidade e envelhecimento da população são dores de cabeça em boa parte do mundo, sobretudo em nações industrializadas, mas em nenhum lugar é tão grave quanto na Coreia do Sul. Ao longo da década, países do Leste Europeu, como Polônia e Hungria, passaram a garantir uma renda mensal a quem tem filhos — da mesma forma que a China, cuja população engatou numa rota descendente em 2022, nove anos antes do previsto. Na Coreia do Sul, o alto custo de moradia, a acirrada competitividade no trabalho, o expediente longo e exaustivo e a despesa com educação de alto nível levaram os casais a abrir mão do plano de ter filhos. Também contribui a disparidade de condições entre homens e mulheres, que faz com que elas se dediquem mais ainda à carreira, abdicando da maternidade. “A recuperação da natalidade será, na melhor das hipóteses, lenta até que as práticas de trabalho estimulem as mulheres a combinar carreira e família”, antecipa Jon Pareliussen, economista-sênior da OCDE.

PROBLEMA - Nação de idosos: 20% da população do país tem mais de 65 anos
PROBLEMA - Nação de idosos: 20% da população do país tem mais de 65 anos (Oscar Espinosa/istock/Getty Images)
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Esse conjunto de fatores resultou na dramática situação atual, em que 20% da população tem mais de 65 anos e apenas 6% têm menos de 10. Diante da perspectiva de o número de habitantes, de 51 milhões, cair pela metade até 2100, o presidente Yoon Suk-yeol, antes da desgraça política, decretou uma “crise demográfica nacional” e anunciou uma série de incentivos, inclusive financeiros, para aumentar a taxa de natalidade. As novas políticas preveem um bônus salarial equivalente a 1 500 dólares em média nos primeiros meses de cada novo bebê, mas o governo foi além do estímulo financeiro. Entre outras medidas, as gestantes trabalham menos horas e a licença-­paternidade dobrou para vinte dias.

O negócio não parou por aí. Um programa implementado neste ano facilita moradia pública acessível a recém-casados e pais com filhos recém-­nascidos. Além disso, Seul e outras prefeituras testarão em maio um projeto-piloto com 5 000 idosos encarregados de levar e trazer crianças para a escola enquanto os pais estiverem no batente. No plano pessoal, o governo da capital investe em matches patrocinados: no Valentine’s Day, em fevereiro, um evento chamado “Romance, Noite da Arte” reuniu cinquenta homens e cinquenta mulheres (selecionados entre 2 400 interessados) para um jantar com direito a champanhe, um bingo com temática amorosa e um exercício em que os participantes se olham nos olhos por dez segundos. No final, metade declarou ter encontrado ali a cara-metade. Agora, torce o governo, corram a casar e a ter filhos.

Publicado em VEJA de 17 de abril de 2025, edição nº 2940

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