Basílica torna-se trincheira de opositores de Daniel Ortega
Autoridades da Igreja na Nicarágua tentam resgatar manifestantes de oposição entrincheirados e são cercados por militantes pró-governo
(Em atualização)
Centenas de militantes favoráveis ao Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, irromperam na Basílica de São Sebastião, em Diriamba, e cercaram uma delegação liderada pelo cardeal Leopoldo Brenes e pelo núncio apostólico, Stanislaw Waldemar Sommertag, nesta segunda-feira (9). A Igreja Católica tem atuado como mediadora de negociações entre o governo de Ortega e opositores.
“Queremos a paz”, “não queremos mais bloqueios de ruas”, “assassinos”, “mentirosos”, gritavam os seguidores do governo às autoridades católicas. A Basílica havia se tornado, desde a madrugada de domingo (8), a trincheira de manifestantes contrários ao governo e impedidos de sair do local por paramilitares mascarados e munidos de bandeiras da Frente Sandinista, a base de apoio de Ortega.
O bispo auxiliar de Manágua, Silvio José Baez, sofreu cortes no braço ao tentar ingressar na Basílica. Os religiosos ainda não deixaram o local.
O final de semana na Nicarágua foi marcado por nova onda de violência, que resultou na morte de 14 pessoas, por causa da decisão de Ortega de não acatar a proposta da Igreja de antecipação da eleição presidencial de 2021 para 2019. Grupos paramilitares têm se confrontado com a polícia, em ataques que atingem diretamente a população civil.
Os religiosos foram cercados ao chegar a Diriamba e, com dificuldade, chegaram à Basílica. O núncio apostólico, o cardeal e os bispos foram ao local para libertar as pessoas retidas, entre as quais, médicos voluntários. “Não temos nenhuma arma, a arma aqui é a oração, não temos armas, eles estavam atacando pelo lado de fora”, disse um membro do corpo médico que estava dentro da basílica com o rosto coberto por uma camisa.
A fotógrafa Isabel Sánchez, da AFP, denunciou ter sido espancada em Diriamba, quando fazia a cobertura dos incidentes. Seu equipamento de trabalho foi roubado O diretor do canal de televisão opositor 100% Noticias, Miguel Mora, também relatou a agressão a seus jornalistas e o roubo de equipamentos durante a cobertura da chegada dos religiosos.
“Foi horrível, pegaram o meu celular e apagaram tudo”, assinalou Isabel Sánchez.
Os protestos na Nicarágua começaram em 18 de abril contra a proposta de governo de reforma da Previdência Social. A repressão provocou 250 mortes e levou os manifestantes a reivindicarem a renúncia de Daniel Ortega e de sua mulher, Rosario Murillo, que também é vice-presidente do país.
(Com AFP)